Contratando refugiados: como a diversidade impacta no seu negócio?
Laurent Delache
Falar sobre diversidade no mundo corporativo é hoje um dos temas estratégicos indispensáveis para a saúde dos negócios e também um caminho de contribuição positiva para mitigar os desafios da desigualdade no mercado de trabalho.
Neste cenário de inclusão, encontramos a realidade de pessoas que foram forçadas a deixar seus países dentro do contexto de guerras e perseguições. São pessoas que deixam tudo para trás em busca de um recomeço seguro.
A contratação de refugiados vai além de uma porta para diminuir o desemprego que afeta grande parte deste grupo, como mostram os dados de pesquisas e estudos recentes. Também é um caminho para a retenção de talentos, engajamento, fortalecimento da cultura organizacional e queda de turnover que as equipes de recursos humanos têm enfrentado.
Em anos de liderança, na cadeira de CEO de empresas globais, nunca presenciei tamanha gratidão como a de pessoas refugiadas por uma oportunidade de trabalho. Esse sentimento se espalha pelos corredores da empresa, inspirando outros colaboradores. Foi nessa troca de sorrisos, diariamente, que notamos que recrutar refugiados é uma maneira de fortalecer a cultura organizacional.
Em outras palavras, o engajamento deste grupo, que na companhia já ultrapassa mais de 700 pessoas desde suas primeiras contratações em 2015, consegue trazer harmonia entre departamentos, lideranças e, consequentemente, criar laços de pertencimento. As culturas geraram novos laços, colaboradores brasileiros passaram a ter mais motivação, empatia, e embarcaram na ideia de apoiar essas e outras minorias. É um resultado claro: as empresas que possuem maior desempenho são também as que possuem maior diversidade.
Esse engajamento e apoio da cultura organizacional conquistam os corredores da empresa e chega aos lares de muito colaboradores. A consequência é uma só: amigos, cônjuges e filhos também querem a mesma oportunidade de emprego e o conceito de trabalhar em família começa realmente a existir.
A harmonia impacta também o mercado de trabalho. Para nós, que trabalhamos diretamente na prestação de serviços para outras empresas, compartilhamos com nossos clientes a energia positiva da contratação de refugiados e sem nenhum receio trocamos as melhores práticas com outras empresas brasileiras, sendo nossas concorrentes ou não, para que se espelhem no modelo de contratação e possam praticar o mesmo. De certa forma, contratar refugiados não é mais uma novidade, o que é ótimo, já que o mundo corporativo está avançando nisso. Aos poucos, as empresas se tornam pontos de referência e essa rede de contratação realmente começa a existir.
O Fórum Empresas com Refugiados, organizado pela Acnur, mostrou um crescimento significativo nos últimos anos. Éramos 21 interessados, até 2021 e, em 2024, somamos 131 membros. São 12.030 pessoas refugiadas e migrantes contratadas atualmente em regime CLT (dados Acnur).
O objetivo é que nos próximos anos empresas brasileiras possam acolher pessoas em situação de refúgio. Número este que deve aumentar em diversos continentes por conta de conflitos políticos, econômicos e, claramente, os desafios climáticos. Com isso, é importante que as organizações, ao lado de entidades, busquem capacitação interna, promovam treinamentos e possibilidades para inserções desses grupos. E claro, todas essas ações também estarão atreladas aos negócios, já que impacta positivamente nas políticas de diversidade em colaboração com os desafios do RH.
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Laurent Delache é CEO Brasil da Foundever.