Semicondutores: o novo petróleo e a tensão da cadeia de suprimentos automobilística
Waldir Bertolino (*)
A atual crise de escassez global de semicondutores não deve voltar a um equilíbrio ainda neste ano. O autor dessa afirmação preocupante é Gregory Ernst, vice-presidente corporativo de Vendas e Marketing da Intel, uma das maiores fornecedoras de processadores de computadores do mundo, em declaração à imprensa, em março deste ano. Esses componentes eletrônicos viraram pauta de estudos de um dos principais veículos de economia do mundo, a Financial Review, que passou a chamá-los de “O Novo Petróleo”.
Esse cenário, a meu ver, pode apresentar melhoras apenas em 2023. Não há dúvidas que a falta de chips trouxe prejuízos enormes para todos os setores, mas nenhum deles foi tão impactado como a indústria automotiva. Isso porque o segmento automotivo sofre com o desequilíbrio entre oferta e demanda de semicondutores, crise esta que se arrasta desde 2020.
Com o objetivo de traduzir esse contexto em números, um estudo global da consultoria KPMG, realizado em 2021, aponta que as perdas das montadoras por causa da escassez já somam US$ 100 bilhões. Esse valor equivale a 80% dos prejuízos totais da indústria, apesar de as linhas de montagem de veículos absorverem apenas 10% de todos os chips fabricados no mundo.
Sem expectativa de solução no curto prazo, o setor automotivo estuda como contornar o problema e reduzir a tensão da cadeia de suprimentos. Listo abaixo algumas ações que podem ajudar as empresas do setor a amenizar os efeitos da crise.
GESTÃO DE ESTOQUE OTIMIZADA – Algumas empresas ficaram especialmente expostas à falta de componentes, uma vez que a operação era conduzida com margens enxutas antes mesmo da crise começar. E a simples expansão de estoques talvez não seja a solução para esse problema.
Diante das adversidades atuais, a cadeia de suprimentos de hoje exige uma gestão de armazém de forma otimizada, baseada em uma solução de IA, capaz de fornecer Insights preciosos sobre planejamento de demanda, visibilidade sem precedentes sobre o inventário e maior agilidade nos processos de compras. Tudo isso visando mais eficiência da operação e redução de custos de todo o processo logístico.
“ENCURTAR” A CADEIA DE SUPRIMENTOS – Outra ação importante é encurtar a cadeia de suprimentos, que no setor automotivo, por exemplo, estão espalhadas pelo mundo, e a dependência de fornecedores globais transforma qualquer interrupção no transporte em uma crise imediata.
Essa é uma tendência que ganhou mais força nos últimos anos, à medida que as grandes empresas perceberam que a melhor estratégia é aproximar fabricantes e fornecedores de sua rede para reduzir complexidades e evitar os riscos de interrupções externas. No futuro, as cadeias de suprimentos deverão, ao mesmo tempo, estar mais próximas de seus clientes e mais isoladas de questões comerciais.
Essas dicas são importantes para amenizar os efeitos da crise e a busca pela eficiência dos negócios continuará sendo o grande objetivo das empresas do setor. Mas será que basta? As montadoras precisam entender a dinâmica da cadeia de suprimentos de semicondutores e como ela difere da sua própria rede de fornecedores. Trata-se de uma medida estratégica e que pode trazer muitos benefícios para o relacionamento de todos os envolvidos do ecossistema.
(*) O autor é country manager da Infor no Brasil.