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A dificuldade de empreender em um país que não investe na educação

Há anos, os empreendedores da área industrial têm se ressentido da falta de qualificação da mão de obra para o chão de fábrica. Vivemos uma dicotomia do enorme exército de desempregados contra a falta absoluta de profissionais qualificados nos diversos setores da indústria.

Um estudo feito pela CNI – Confederação Nacional da Indústria indica que, no Brasil, apenas 9,7% das matrículas do ensino médio são em cursos de educação profissional. Na Alemanha, na Dinamarca, na França e em Portugal esse percentual é superior a 40% e alcança cerca de 70% na Áustria e na Finlândia. Entre as empresas ouvidas pela CNI e que relatam a falta de trabalhador qualificado, 96% afirmam que têm dificuldades para contratar operadores.

Ainda na área de produção, 90% das empresas dizem que enfrentam dificuldades para encontrar trabalhadores de nível técnico. Também há falta de profissionais qualificados para as áreas de vendas e marketing (82%), administrativa (81%), engenharia (77%), gerencial (75%) e pesquisa e desenvolvimento (74%). Essas informações estão na Sondagem Especial – Falta de Trabalhador Qualificado, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

De outro lado, de acordo com os dados do Projeto Indústria 2027, realizado pela CNI e o IEL, em pouco menos de 10 anos, somente 20% das indústrias estarão no patamar da indústria 4.0, o que aponta o descaso da educação brasileira, e também o desinteresse de algumas empresas em aplicar uma parte da renda em segmentos de tecnologia e atualização técnicas. Com experiência superior a 15 anos no mercado de conectores elétricos, tive que passar por diversas melhorias, tanto em minha gestão quanto no aprendizado de minha equipe, principalmente por se tratar de um campo de atuação que exige constante progresso.

O setor de energia representa uma enorme importância na economia do país e também socialmente, pois inúmeras atividades do cotidiano necessitam do abastecimento elétrico, como shopping, escritórios, consultórios médicos ou odontológicos, estabelecimentos públicos e a sua própria residência! Compreende como a eletricidade está conectada a praticamente tudo na vida das pessoas e até mesmo no mercado de trabalho, que faz a roda da sobrevivência girar? Então, a partir dessa perspectiva, é possível enxergar os perigos de não investir nessa área e nas outras que tem igual relevância.

No começo de 2020, foi publicado pela imprensa que o setor de energia elétrica deveria receber R$ 456 bilhões em investimentos, sendo R$ 303 bilhões em geração centralizada, R$ 50 bilhões em geração distribuída e R$ 104 bilhões em transmissão. Óbvio que tais aplicações são importantíssimas, porém precisamos avaliar a possibilidade de investir ainda em educação e capacitação dos profissionais. A mesma lógica pode ser sobreposta em outros modelos de indústria, como alimentícia, transformação, higiene e demais.

Ampliando essa observação, chego à conclusão que, se houvesse um melhor aproveitamento com foco em educar a comunidade da indústria, inúmeros problemas seriam resolvidos. O primeiro seria os erros de comunicação, hoje 38 milhões de pessoas são considerados analfabetos funcionais, com idades entre 15 a 64 anos, e vale lembrar que o setor industrial emprega desde os mais jovens até os indivíduos de mais idade, então nos faz ficar em alerta. Saber ler não é suficiente, o mercado pede seres mais críticos, curiosos, com ambição aguçada, atenciosos e com comportamento empreendedor. Tudo isso só é possível com uma população qualificada e com índices maiores de educação.

Quando alertamos a respeito de capacitação profissional, não é somente em relação à mão de obra qualificada e treinada, claro que isso é importante, especialmente quando falamos do chão de fábrica, pois essas pessoas são importantíssimas, porém, é necessário “criar” profissionais que saiam do automático, que contribuam para o futuro das empresas e do país, consequentemente. Indivíduos dispostos a evoluírem também estão dispostos a melhorar o que está em volta de si, e são esses cidadãos que contribuem para uma economia mais estável, para mudanças positivas e que, lá na frente, vão investir exatamente na área que fez com que eles crescessem.

(*) O autor é diretor presidente da KRJ.

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