A reinvenção das montadoras
Guilherme Serrazes (*)
As montadoras de automóveis já enfrentam dificuldades e ameaças simultâneas. Não é só a Covid-19. Entre elas temos o fato de o veículo já não ser um bem tão desejado e há necessidade de transformar o modelo de negócio: tornar-se provedor de serviços, diante da redução de vendas.
Mas como a indústria automobilística tem se preparado para esses desafios? É o que vamos ver agora.
Como as montadoras estão se reinventando?
Como uma parcela significativa das novas gerações prefere compartilhar a deter bens e gosta da experiência de utilização envolvendo tecnologia, a grande maioria das montadoras está buscando criar uma carteira de serviços.
Atualmente, essas empresas estão se desfazendo de operações de baixo retorno financeiro, para aplicar seus recursos em serviços e tecnologia. Para ganhar agilidade na última década, adquiriram 443 startups, em especial dos setores de manufatura 4.0, eletrificação, compartilhamento e conectividade, de modo a atingir esse novo público-alvo.
Um exemplo é a General Motors, que vai fechar dez fábricas na América do Norte, Ásia e Austrália. Por outro lado, investiu em 44 startups, das quais 22 ligadas à eletrificação e manufatura digital, segundo um estudo da consultoria KPMG.
Quais as tendências para o setor?
Um exemplo é o suporte ao condutor utilizando um concierge. Esse serviço já é uma realidade em diversas marcas, trazendo uma experiência completamente diferente para a gestão do dia a dia dos consumidores. Muitas montadoras também estão promovendo o compartilhamento de veículos. Quando o assunto é mobilidade autônoma e sustentável, existem projetos de eletrificação de veículos mudando o perfil da frota circulante, até mesmo em países emergentes. E os veículos estão cada vez mais autônomos, buscando transformar esse produto em um serviço de deslocamento sem interferência humana.
Quais os impactos dessas mudanças?
Os principais impactos serão na própria essência das montadoras. O movimento que precisarão fazer é buscar uma conversão para prestadoras de serviços, ainda que atrelados a veículos. Com estruturas muito grandes, quase que cidades, as montadoras passaram por uma curva de redução de produção e quadro de funcionários, seja pela implementação de automatização na linha de montagem, seja por uma queda de demanda. Notícias de fechamento de fabricas, redução de quadro de operários, entre outras medidas para conter custos, são cada vez mais frequentes.
Veículos elétricos serão uma realidade? Por que estão demorando?
Se a sua dúvida é se os veículos elétricos vieram para ficar, a resposta é sim. Apesar de serem mais caros e com nível de tecnologia embarcada maior, fazendo com que a grande maioria da população não tenha contato com os elétricos ainda, há um movimento frenético nesse sentido. Todas as montadoras que optaram por ter em seu portfólio veículos elétricos e híbridos estão construindo serviços personalizados de atendimento no pós-venda, visando atuar com segurança e eficiência na reparação mecânica. Também existe um trabalho muito grande a ser feito na parte de infraestrutura, como a readequação da cadeia de abastecimento e pontos de recarga para esses veículos. A tecnologia já vem alcançando resultados significativos com aumento de autonomia das baterias, eficiência energética e sustentabilidade. Os elétricos representam um futuro que já é quase o presente.
(*) O autor é analista de Pesquisa e Desenvolvimento do Cesvi Brasil.