CNI apresenta ao país uma agenda para o Brasil crescer de forma sustentada
Os desafios que o Brasil precisa enfrentar para superar a pior crise da história, vencer a concorrência global e voltar a crescer de forma sustentada estão no Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022. Elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com a participação de líderes empresariais, o estudo é uma agenda para o Brasil, pois visa à construção, nos próximos quatro anos, de uma economia mais produtiva, inovadora e integrada ao mercado internacional.
Para isso, segundo a CNI, é preciso atuar em duas frentes. Uma é a superação rápida das deficiências que aumentam os custos de produção e comprometem a produtividade, como a baixa qualidade da educação e o complexo e oneroso sistema tributário. A outra, é o desenvolvimento de competências para construir o futuro, o que requer iniciativas como o aumento da capacidade de inovação das empresas, a inserção na Indústria 4.0 e a participação na economia de baixo carbono.
“Fazer mais do mesmo não reverterá, com a intensidade necessária, a trajetória percorrida nos últimos anos. Com um trabalho contínuo e persistente de reformas econômicas e institucionais, é possível recuperar e alcançar patamares mais elevados de produtividade e competitividade”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Ele explica que 2022 é o marco estabelecido pelo Mapa porque é o último do próximo mandato presidencial e o ano de comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil. “Precisamos fazer mais e melhor nos próximos quatro anos”, alerta Andrade. O Mapa será referência para o debate e a elaboração das propostas da indústria às eleições deste ano.
Simulações feitas pela CNI mostram que, com a implementação das ações propostas no Mapa, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, calculado pela paridade de poder de compra, crescerá 4% ao ano, em média, a partir de 2023. Caso esse cenário se confirme, o PIB per capita aumentará 3,5%, em média, também a partir de 2023, com a população crescendo a uma taxa de 0,5% ao ano. Com isso, a renda dos brasileiros dobraria em 24 anos e passaria de aproximadamente US$ 14 mil registrados em 2016 para cerca de US$ 30 mil em 2040. Persistindo nesse ritmo, o PIB per capita do Brasil atingiria US$ 50 mil em 2054, o mesmo patamar da renda dos Estados Unidos, da Holanda e da Suíça em 2016.
CONCORRÊNCIA – Dados do Fórum Econômico Mundial mostram que o Brasil vem caindo no ranking global de competitividade. Em 2013, ocupava a 48ª posição entre 144 países analisados. Em 2017, foi para o 80º lugar na lista de 137 países. “A perda da competitividade nacional compromete o crescimento econômico e a geração de emprego e renda”, destaca o documento da CNI.
O Mapa adverte ainda que a recuperação da capacidade de competir nos mercados globais e a volta do crescimento sustentado dependem do aumento da produtividade. Estudo da CNI mostra que, de 2006 a 2016, a produtividade brasileira cresceu menos do que a dos dez principais parceiros comerciais do país. Naquele período, a produtividade no trabalho da indústria do Brasil aumentou 5,5%, enquanto que a dos Estados Unidos cresceu 16,2% e, a da Argentina, 11,2%. Em 2017, a produtividade brasileira aumentou 4,5% em relação a 2016. No entanto, alerta a CNI, é preciso avançar ainda mais para compensar o baixo desempenho dos anos anteriores.
FATORES CHAVE – Diante desse cenário e considerando as novas tendências mundiais e nacionais, a edição 2018-2022 do Mapa Estratégico da Indústria elegeu 11 fatores-chaves para o Brasil ganhar competitividade de forma sustentável, que são: segurança jurídica; ambiente macroeconômico; eficiência do estado; governança e desburocratização; educação; financiamento; recursos naturais e meio ambiente; tributação; relações do trabalho; infraestrutura; política industrial, de inovação e de comércio exterior; produtividade e inovação na empresa.
Os fatores-chave são desdobrados em 38 temas prioritários e 60 objetivos com as respectivas metas e seus indicadores. O alcance das metas será monitorado sistematicamente pela evolução dos indicadores. Por exemplo, no fator-chave segurança jurídica, um dos objetivos é dar maior qualidade, previsibilidade e qualidade das normas. A meta é interromper o crescimento do número de normas editadas por ano, que aumentou 4,5% ao ano nos últimos cinco anos. O indicador para essa meta é a quantidade de normas gerais editadas por ano. Em 2014, o país tinha 5 milhões de normas. Esse número subiu para 5,2 milhões em 2015 e alcançou 5,5 milhões em 2016. A meta estabelecida pela CNI é manter os 5,5 milhões até 2022. O Mapa também sugere as iniciativas necessárias para o país atingir as metas estabelecidas. Essa versão do Mapa, que revisa e atualiza a edição 2013-2018, enfatiza alguns temas e estabelece outras prioridades. Exemplo disso é a segurança jurídica, que, na avaliação da CNI, passou a ter papel prioritário na agenda do país. “Os problemas derivados da insegurança em leis e regulações no ambiente de negócios se exacerbaram. Esses problemas somados à relação superposta e, por vezes, conflituosa entre poderes e entre poderes/órgãos de controle criaram uma segunda geração do Custo Brasil, com impacto sobre a produtividade”, explica o Mapa.
Os temas saúde e segurança pública foram incluídos como prioridade no fator-chave Eficiência do Estado, Governança e Desburocratização. “O quadro atual do sistema de saúde brasileiro e da segurança pública, além de resultar em baixa qualidade de vida para a população, afeta negativamente a competitividade da indústria em razão da queda da produtividade do trabalho e do aumento de custos”, diz a publicação.
Ganharam destaques na nova edição do Mapa a Indústria 4.0 e a economia digital. “A velocidade das transformações que nascem das novas tecnologias demanda estratégias e respostas estruturadas por parte das empresas e do governo”, avalia a CNI. Também foram enfatizadas as questões relacionadas ao uso eficiente dos recursos naturais e a conservação do meio ambiente, a política industrial, de inovação e comércio exterior, a educação e a produtividade e inovação dentro das empresas. O Mapa destaca ainda a produtividade e a inovação na empresa, os mecanismos de proteção social e produtividade e a corrupção.
AGENDA – A primeira versão do Mapa Estratégico da Indústria, que abrangia o período 2007-2015, foi lançada em abril de 2005.
Entre as 18 metas estabelecidas para 2015 estavam o crescimento de 7% para o Produto Interno Bruto (PIB), a expansão de 6% na produtividade industrial e a redução dos juros reais para 4% ao ano. O acompanhamento dos indicadores mostrou, por exemplo, que, de 2007 a 2013, o Brasil reduziu as desigualdades sociais e avançou na inclusão digital da população. Mas não conseguiu fazer os investimentos necessários em saneamento, transportes e energia, ampliar as exportações e aumentar o ritmo de expansão da produtividade industrial e o crescimento da economia.
Em maio de 2013, a CNI apresentou a segunda edição do Mapa, desta vez, para o período 2012-2022, que revisava e atualiza as metas, os indicadores e as ações da edição 2007-2015. Resultado dos debates e das contribuições de 520 pessoas, entre empresários, executivos, acadêmicos e presidentes de associações nacionais setoriais e federações de indústrias, o Mapa 2013-2022 apontava os dez fatores-chave capazes de elevar a produtividade e a competitividade da economia brasileira: educação, ambiente macroeconômico, eficiência do estado, segurança jurídica e burocracia, desenvolvimento de mercados, relações de trabalho, financiamento, infraestrutura, tributação e inovação e produtividade. O acompanhamento dos indicadores mostrou a deterioração da economia brasileira. Com a queda da atividade, dos investimentos e do emprego e o aumento da inflação e dos juros registrados a partir de 2014, o país ficou muito distante dos objetivos traçados pelo Mapa para 2022.