Eletrônica e Informática

Com milhões de adeptos, ativismo digital se consolida no Brasil

O exercício da cidadania por meio do ativismo digital parece estar crescendo espetacularmente no Brasil. De acordo com a Change.org, tida como a maior plataforma tecnológica do mundo, que não tem fins lucrativos e é voltada para as ações de mudança social, a modalidade ganhou no país, em 2021 cerca de 5 milhões de adeptos. Com isso, a organização terminou o ano por aqui com um total de 39 milhões de usuários criando ou assinando abaixo-assinados em seu site.

Para ter uma ideia, o número é equivalente à população dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais somados, e representam 16% da população brasileira. É como esse enorme contingente recorresse às petições online para apresentar reivindicações, cobrar por melhorias, defender causas específicas e genéricas e pressionar políticos e autoridades públicas e privadas em alguma direção.

Comparando 2021 com 2020, o aumento de brasileiros fazendo uso do ativismo digital por meio de petições online foi de quase 15%. No final de 2020, a Change.org tinha 34 milhões de usuários, diante dos 39 milhões do fim de 2021.

“Na verdade, esses dados representam muito mais do que simples números”, afirma a diretora-executiva da organização no Brasil, Monica Souza. “Eles demonstram que o ativismo digital se consolidou como um meio legítimo e prático para o exercício da cidadania no país. Mas isto só foi possível porque os brasileiros também constataram que a petição online é um instrumento eficaz para a ação política, e que traz resultados.” Segundo ela, a entidade chegou em 2021 à marca de 1 mil petições vitoriosas na sua plataforma.

Souza explica que esta tendência de crescimento já vem de alguns anos no país. De fato, em números tabulados dentro de um prazo maior de tempo, a partir de 2017, houve no Brasil um aumento de 246% de adeptos do ativismo digital. No final de 2017, 11,2 milhões de brasileiros tinham alguma atuação no universo das petições online. Como o dado atual representa mais que o triplo deste número, isso significa uma adesão de 27,7 milhões de pessoas em quatro anos.

Outro dado revelado pelo balanço da Change.org é o extraordinário número de petições encaminhadas via ativismo digital no Brasil. Em 2021, mais de 14 mil petições foram abertas e, juntas, receberam quase 32 milhões de assinaturas.

O resultado positivo deste ativismo também pode ser confirmado por números: em 2021, cerca de 230 abaixo-assinados hospedados na Change.org alcançaram o resultado esperado. “Isso significa que 230 ações foram bem-sucedidas na luta por inclusão, por melhorias nos bairros, enfim, por alguma mudança que impacta a vida das pessoas”, observa Monica Souza.

BUSCA POR ESPAÇOS – O ativismo digital, ou ciberativismo, nasceu quase que paralelamente à internet, em meados de 1980, quando ativistas ao redor do mundo começaram a usar ferramentas como PeaceNet, listas de email e sites Gopher para distribuir informações sobre direitos e conciliar discussões internacionais.

Um dos mais célebres pioneiros do ativismo digital é o Movimento Zapatista, do México. Em 1994, omovimento nascido nas comunidades indígenas das montanhas de Chiapas, no sudeste do país, já empregava largamente a internet para reivindicar demandas ao governo mexicano de maneira prática e coesa. Outro grupo famoso pelo ciberativismo é o Greenpeace, aguerrida organização ambientalista mundial sediada na Holanda, que pratica a modalidade desde 1998.

O ativismo digital deslanchara no começo do século 21, quando vários movimentos de reivindicação começam a ter cada vez mais um número maior de participantes. A adesão se tornaria massiva ainda na primeira metade da décadainaugural do novo século. O aumento da adesão forçou, inclusive, instituições formais a começarem a se manifestar e procurar regulamentações para as práticas na internet, deflagrando por tabela outras ações ciberativistas.

Hoje, além de plataformas específicas voltadas para a modalidade, como a Change.org, são também largamente empregadas mídias sociais como Facebook, Twitter e YouTube, capazes de reunir grande quantidade de adeptos às propostas apresentadas, propagar ideias e planos e organizar ações de maior complexidade e impacto. Essas mídias podem ainda aumentar a velocidade na interação e comunicação entre ativistas integrantes dos grupos.

Talvez o ativista digital mais famoso do mundo seja hoje Julian Assange, um matemático, físico, hacker, programador e político australiano. Ele é o principal porta-voz do Wikileaks, e um dos fundadores desse site de denúncias e divulgação de informações, ligadas principalmente à corrupção. Em 2010, Assange vazou documentos sobre possíveis crimes de guerra cometidos pelo exército dos Estados Unidos nasguerras do Iraque e Afeganistão. Foi acusado logo depois de estupro e abuso sexual na Suécia, e incluído pela Interpol na lista de procurados. Mas ele obteve asilo político na embaixada do Equador em Londres, onde está até hoje.

No Brasil, o principal movimento de ativismo digital até agora foi, sem dúvida, a chamada “Revolta dos 20 centavos” de 2013, que cresceu tanto devido à internet (embora não apenas a ela) que acabou ganhando as ruas já com outras bandeiras. O movimento acabou resultando, em 2016, no impeachment da então presidente Dilma Rousseff, acusada de desvios administrativos. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: Divulgação)

 

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