Eletrônica e Informática

Faltam componentes eletrônicos no mercado global, guerra EUA-China aumenta as incertezas

No primeiro semestre de 2018, a indústria mundial enfrentou forte carência de componentes eletrônicos. Para alguns o fornecimento deve se normalizar ainda em 2019, outros, no entanto, são menos otimistas e apostam que a falta de componentes pode se estender por mais tempo. Além da demanda elevada em âmbito mundial, a guerra comercial entre Estados Unidos e China pode tornar o cenário ainda mais confuso, pois afetará a cadeia de suprimentos. Sabe-se com companhias internacionais, com base de produção na China, começam a deixar o país para fugir das taxas de importação que o governo norte-americano impõe para os produtos de fabricação chinesa.

A carência atinge principalmente os componentes passivos standard, como os capacitores cerâmicos multilayer (MLCC), resistores, transistores, diodos e mesmo memórias. Muitos fornecedores chegam a exigir prazos mínimos de seis a 12 meses para realizar as entregas.

Segundo profissionais do mercado é a pior crise desde 1999, quando o prazo para entrega de capacitores de tântalo chegou a 52 semanas dado o enorme aumento da demanda. Na época, os fornecedores aumentaram a capacidade de produção, mas o preço disparou e o fornecimento só se normalizou quando a demanda se estabilizou e a tecnologia mudou.

CAUSAS – São vários fatores que contribuem para a crise de fornecimento atual. Um deles é que os fornecedores revisaram seus portfólios e fizeram investimentos para atender determinados segmentos de mercado. Por exemplo, muitas empresas partiram para fabricar produtos com tecnologia de ponta para atender principalmente a demanda das indústrias automotivas, de smartphones e de Internet das Coisas (IoT).

A indústria automotiva, como se sabe, utiliza hoje uma enorme quantidade de eletrônica embarcada. Um carro com motor a combustão utiliza entre 2 mil e 3 mil capacitores. No futuro, à medida que os veículos elétricos conquistarem mais espaço, a demanda por componentes será impressionante. Um único carro elétrico poderá usar até 22 mil MLCC. E, esse número aumentará conforme mais funções se tornarem eletrificadas.
Em que pesem as altas exigências no que concerne à garantia e confiabilidade, os fornecedores de componentes passivos consideram o setor automotivo como de alta prioridade, pois dadas às exigências, os componentes de grau automotivo têm preço mais elevado e a expectativa é de que o mercado se mantenha se mantenha estável.

É sabido também que recursos disponíveis só nos carros de valor mais elevado tendem, com o tempo, a ser oferecidos ainda que parcialmente em produtos mais populares. Segundo a IHS Markit, automóveis high-end terão por volta de 2020 o equivalente a US$ 6 mil em eletrônica embarcada. A demanda por semicondutores de grau automotivo vai crescer mais de 7% até 2022, ultrapassando esperado de 4,5% de sistemas eletrônicos automotivos.

Um estudo recente da Semico Research mostra que a indústria automotiva se tornará o próximo grande impulsionador da indústria de semicondutores. A expectativa, segundo a consultoria, é que o mercado de semicondutores automotivos vai superar o crescimento geral da indústria à medida que o conteúdo de semicondutores crescer com os novos recursos e funcionalidades adicionadas. De acordo com o estudo da consultoria “Automotive Semiconductors: Accelerating in the Fast Lane”, o segmento de semicondutores para o setor automotivo deverá atingir US$ 73 bilhões em 2023.

Ainda segundo o estudo, o mercado total disponível de royalties de processadores IP irá crescer para US$ 2,34 bilhões em 2023; espera-se que um veículo totalmente autônomo exija 74 GB de DRAM e 1TB de memória NAND. O faturamento gerado por processadores em sistemas de direção autônoma chegará a US$ 422 milhões em 2018.

SMARTPHONES – Um outro segmento que apresenta demanda cada vez maior por componentes é o de smartphones, especialmente por conta da miniaturização. Cerca de 1,5 bilhão de smartphones são produzidos anualmente. Cada um dos modelos de referência usa cerca de 1 mil capacitores. Fazendo uma conta simples: a produção global de MLCC é da ordem de três trilhões de unidades ao ano, o que significa que a metade desses componentes vai para a produção de smartphones, diz Graham Scott, diretor sênior de gerenciamento de commodity global, da Jabil, em artigo publicado no site da companhia.

A demanda de componentes pelo segmento de produção de smartphones não deve parar. A cada nova geração, mais componentes são necessários para atender as necessidades do consumidor. Também, o consumidor não deseja aparelhos maiores. Assim, os fabricantes de smartphones buscam a miniaturização, usando componentes menores e introduzem mais funcionalidades.

IoT – A Internet das Coisas também é outro vetor para a alta demanda por componentes eletrônicos. Haverá até 2020 mais de 20 bilhões de dispositivos IoT em 2020, segundo o Gartner o que reflete um crescimento de mais 100% no volume desses dispositivos em dois anos.  Os fabricantes OEMs trabalham para a conectividade de produtos que eram analógicos introduzindo componentes eletrônicos em campainhas, fechaduras, interruptores e outros, aumentando ainda mais a demanda por componentes.

PERSPECTIVAS – Esses movimentos criam um ambiente de alto risco para famílias de produtos mais maduros e menos lucrativos. Fornecedores que continuam a fabricar componentes para produtos legados só produzirão peças em níveis lucrativos, o que levará ao aumento de preços para a base de clientes. (Franco Tanio)

Fonte: Ipesi

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