Metal Mecânica

Fechamento da fábrica da Ford no ABC pode custar 10 mil empregos na cadeia produtiva

Anunciada no último dia 19 de fevereiro, o fechamento da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, pegou muita gente de surpresa até porque o mercado brasileiro de veículos automotores vive um bom momento. Dados da Anfavea, indicam que licenciamento de caminhões somou em janeiro 7 mil unidades, elevação de 53,2% sobre as 4,6 mil unidades de janeiro do ano passado. 6,8 mil caminhões saíram das linhas de montagem no primeiro mês do ano, o que significa acréscimo de 1,6% sobre as 6,7 mil de janeiro de 2018.

Os funcionários e sindicalistas também foram pegos de surpresa e prometem lutar para manter as operações da montadora na cidade. Segundo publicado no site da CUT, em assembleia realizada no próprio dia 19, foi decida uma greve imediata contra o anúncio inesperado de fechamento da fábrica que produz caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em novembro deste ano. Uma nova assembleia para encaminhar os próximos passos da luta ocorrerá na próxima terça-feira, dia 26.

“Nós lutamos, fizemos de tudo para que isso não ocorresse. E não dá para ter uma notícia dessa e achar que dá para continuar trabalhando. Precisamos ir todos para a casa e retornar na semana que vem. Até lá é greve”, disse José Quixabeira de Anchieta, coordenador-geral do Comitê Sindical na Ford.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, a notícia foi recebida com indignação e revolta. “Em janeiro fizemos uma assembleia na portaria da fábrica, decretamos o estado de luta e pedimos que uma reunião acontecesse para que a Ford deixasse claro qual era a sua real intenção em relação à planta de São Bernardo do Campo”.

“E hoje nos deparamos com o anúncio de que ela encerrará as suas atividades ainda este ano. Anúncio este que não considera cada trabalhador e trabalhadora direto ou indireto, aqueles que serão atingidos diretamente por uma empresa que quer visar o lucro somente”, critica Wagnão.

Se a Ford tem essa intenção, ela há de pagar pela decisão que está tomando. Não acha que vai desistir do Brasil e dos seus trabalhadores dessa forma e continuar vendendo tranquilamente no nosso mercado.

A planta de São Bernardo do Campo responde pela fabricação de caminhões e do veículo compacto Fiesta emprega 3.200 trabalhadores, que devem ser demitidos. O impacto na cadeia do setor pode ‘custar’ também 10 mil empregos, segundo calcula a CUT.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, os modelos de carros mais novos estão sendo produzidos na unidade de Camaçari, na Bahia. Assim, a fábrica de São Bernardo ficou com parte de sua capacidade ociosa. O que poderia ser resolvido com a produção de um novo modelo na planta, o que estava em processo de negociação.

Segundo acordo coletivo de 2017 haveria período de negociação para a retomada dos investimentos pela Ford São Bernardo. Mas, desde então, não houve nada efetivo por parte da direção da montadora.

De lá para cá, cerca de mil trabalhadores saíram por meio de PDV. Desde janeiro deste ano, os metalúrgicos começaram a realizar assembleias internas para cobrar da direção da montadora a retomada de investimentos na unidade de São Bernardo do Campo.

A nota divulgada pela montadora diz que o fechamento da fábrica faz parte da ampla reestruturação de seu negócio global e que deixará de atuar no segmento de caminhões na América do Sul. “Como consequência, a empresa encerrará as operações de manufatura na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) ao longo de 2019 e deixará de comercializar as linhas Cargo, F-4000, F-350 e Fiesta assim que terminarem os estoques.”

Segundo a nota, a “decisão de deixar o mercado de caminhões foi tomada após vários meses de busca por alternativas, que incluíram a possibilidade de parcerias e venda da operação. A manutenção do negócio teria exigido um volume expressivo de investimentos para atender às necessidades do mercado e aos crescentes custos com itens regulatórios sem, no entanto, apresentar um caminho viável para um negócio lucrativo e sustentável.”

A empresa declara que sabe que a decisão “terá um impacto significativo sobre os nossos funcionários de São Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos.” E continua: “Atuando em conjunto com concessionários e fornecedores, a Ford manterá o apoio integral aos consumidores no que se refere a garantias, peças e assistência técnica”.

Essa decisão se alia a outras iniciativas recentes que fazem parte da reestruturação em andamento na Ford América do Sul e incluem: redução em mais de 20% dos custos referentes ao quadro de funcionários e à estrutura administrativa em toda a região; fortalecimento da linha de produtos, com ênfase em SUVs e picapes, cuja preferência tem crescido entre os consumidores, e encerramento da produção do Focus na Argentina; expansão das parcerias globais, como a recente aliança com a Volkswagen para desenvolver picapes de médio porte.

“Em decorrência desse anúncio, a Ford prevê um impacto de aproximadamente US$ 460 milhões em despesas não recorrentes. Cerca de US$ 100 milhões serão relacionados à depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 360 milhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações de funcionários, concessionários e fornecedores. A maior parte dessas despesas não recorrentes será registrada em 2019 e é parte integrante dos US$ 11 bilhões em despesas, com efeito no caixa de US$ 7 bilhões, que a companhia prevê utilizar para a reestruturação dos seus negócios globais.

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