Ford encerra operações de manufatura no Brasil

A Ford Motor Company anunciou no dia 11 de janeiro o encerramento das operações de manufatura no Brasil em 2021. A empresa diz que atenderá os consumidores na América do Sul com um portfólio de veículos conectados, e cada vez mais eletrificados, incluindo SUVs, picapes e veículos comerciais, provenientes da Argentina, Uruguai e outros mercados.
O anúncio da Ford vem menos de um mês depois de a Mercedes Benz anunciar o fechamento de uma fábrica em Iracemápolis (SP), com 370 trabalhadores. Esses anúncios, em curto espaço de tempo, podem indicar que outras montadoras seguirão pelo mesmo caminho, reduzindo ainda mais postos de trabalho, prejudicando a economia brasileira. Certamente, a decisão afetará toda a cadeia produtiva, incluindo os fornecedores máquinas-ferramenta e ferramentas de corte para usinagem. Segundo a Ford, cerca de 5 mil trabalhadores serão afetados na América do Sul, a maior parte no Brasil. O Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari (BA) afirma que são cerca de 12 mil empregos diretos em jogo.
A Ford afirma que atenderá a região com seu portfólio global de produtos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados. A Ford mantém assistênciaao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul. A empresa também manterá o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e sua sede regional em São Paulo.
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford. “Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global. Vamos também acelerar a disponibilidade dos benefícios trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas suprindo, de forma eficaz, a necessidade de veículos ambientalmente mais eficientes e seguros no futuro.”
A produção será encerrada imediatamente em Camaçari, na Bahia, e Taubaté (SP), mantendo-se apenas a fabricação de peças por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. A fábrica da Troller em Horizonte (CE) continuará operando até o quarto trimestre de 2021. Como resultado, a Ford encerrará as vendas do EcoSport, Ka e T4 assim que terminarem os estoques. As operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul não serão impactadas.
REPERCUSSÃO – Para Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão da Ford é um sinal de alerta para os governos federal, de estados e municípios, além do Congresso Nacional, sobre a necessidade se aprovar, com urgência, medidas para a redução do Custo Brasil. Entre elas, a reforma tributária se apresenta como a prioritária para a redução do principal entrave à competitividade do setor industrial brasileiro.
De acordo com o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, o fechamento das fábricas é uma péssima notícia, em um momento de recuperação econômica, tanto pelos empregos que se perdem quanto por todo o impacto na cadeia produtiva do setor automobilístico, uma das mais complexas da indústria brasileira.
“Entendemos que a decisão está alinhada a uma estratégia de negócios da montadora. Mas, o ambiente de negócios é um dos fatores que pesam no momento de decisão sobre onde permanecer e onde fechar. O Brasil tem que lutar para melhorar sua competitividade, pois, além das fábricas, há toda uma cadeia automotiva inclui redes de concessionárias, fornecedores de partes e peças e diversos outros serviços. Essa decisão reforça a urgência de se avançar na agenda de competitividade e redução do Custo Brasil”, diz Abijaodi.