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Fundação Dom Cabral analisa desempenho das médias empresas brasileiras

O estudo Radar de Mercado, conduzido pelo Centro de Inteligência em Médias Empresas da Fundação Dom Cabral (FDC), analisou dados de 8.805 empresas, entre os anos de 2021 a 2023, com faturamento entre R$ 4,8 e R$ 300 milhões. As Médias Empresas brasileiras são um importante pilar da competitividade nacional. Estima-se que existam 74 mil empresas de médio porte no Brasil atualmente, representando aproximadamente 0,89% das empresas brasileiras. Apesar de serem relativamente poucas, as Médias Empresas são responsáveis por 18,62% de todos os empregos no país e por 25,14% de todos os salários pagos.

 

Apesar dessa significativa importância, as Médias Empresas, muitas vezes, não são o foco de entidades ou políticas públicas que visam apoiar o seu desenvolvimento. Entre os vários desafios enfrentados pelos negócios brasileiros, a dificuldade de acessar dados financeiros e de performance das médias empresas se destaca como um obstáculo adicional para os executivos.

 

“Por isso, o Radar de Médias Empresas é essencial. As informações são valiosas para as Médias Empresas brasileiras, pois permitem uma comparação de sua performance e trajetória financeira. Com esses dados, as empresas podem definir metas e objetivos visando ao crescimento sustentável, posicionando-se como as futuras potências empresariais do país”, explica Eduardo Menicucci, professor associado da FDC e líder da pesquisa.

 

Os dados indicam uma maior concentração de Médias Empresas na região Sudeste (52%), Sul (19%) e Nordeste (16%). O Centro-Oeste brasileiro tem 8% das médias e a região norte 5%. Cerca de 46% estão no setor industrial, 35% no comércio e 20% no de serviços.

 

RESULTADOS – A Receita Líquida e o EBITDA apresentaram tendência de declínio ao longo dos três anos analisados. Em 2021, a Receita Líquida média totalizou R$ 78,26 milhões, caindo para R$ 74,71 milhões em 2022 e para R$ 72,69 milhões em 2023. Essa queda gradual, aproximadamente 7,1% em dois anos, reflete o andar de lado da economia brasileira (PIB), aliado a diversos outros fatores, como, por exemplo, a estabilidade na renda e o elevado nível de endividamento das famílias, tornando mais difíceis o aumento da quantidade vendida (volume), bem como os preços.

 

A margem EBITDA (sobre a Receita Líquida), mostrou uma leve flutuação: de 23,5% em 2021 para 24,03% em 2022, caindo para 22,74% em 2023. Isso sugere que apesar da queda na receita, as empresas conseguiram ajustar suas operações (custos e despesas) para preservar margens operacionais relativamente robustas.

 

O Lucro Líquido das Médias Empresas apresentou uma trajetória menos uniforme. Em 2021, o Lucro Líquido foi de R$ 6,7 milhões, aumentando significativamente para R$ 8,82 milhões em 2022, antes de cair para R$ 7,7 milhões em 2023. O percentual de Lucro Líquido sobre a Receita Líquida seguiu uma tendência similar, passando de 8,56% em 2021 para 11,81% em 2022, e depois para 10,59% em 2023. Esse comportamento (não normal) pode ter explicações tanto pela taxa de juros (rendimento de aplicações financeiras) como eventualmente pela questão tributária (IRPJ e CSLL).

 

Os resultados demonstram que as Médias Empresas brasileiras mostraram resiliência e capacidade de adaptação em um período de considerável incerteza econômica. A queda na Receita Líquida foi acompanhada por esforços bem-sucedidos para manter margens operacionais e de lucro relativamente saudáveis. No entanto, a variação no Lucro Líquido sugere que os desafios não foram uniformemente superados e que a sustentabilidade financeira dessas empresas requer atenção contínua e estratégias adaptativas.

 

RESULTADOS POR SETOR – A Receita Líquida das empresas do setor industrial apresentou uma tendência de declínio ao longo dos três anos analisados, seguindo a tendência geral das Médias Empresas.

 

O EBITDA também seguiu uma trajetória de queda, mas com variações mais acentuadas. Em 2021, o EBITDA foi de R$ 19,21 milhões, diminuindo ligeiramente para R$ 18,81 milhões em 2022 e caindo de forma mais significativa para R$ 12,97 milhões em 2023. Em termos percentuais, a margem EBITDA teve um comportamento de leve aumento em 2022, passando de 21,72% em 2021 para 23,03%, antes de uma queda acentuada para 16,11% em 2023. Essa variação sugere que, enquanto as empresas conseguiram inicialmente manter suas margens operacionais, enfrentaram maiores dificuldades para controlar os custos operacionais e despesas em 2023.

 

O Lucro Líquido das empresas do setor industrial mostrou um comportamento pior do que a amostra geral. Em 2021, o Lucro Líquido foi de R$ 7,27 milhões, subindo consideravelmente para R$ 11,42 milhões em 2022, antes de cair novamente para R$ 7,1 milhões em 2023. A margem de Lucro Líquido refletiu essas variações, passando de 8,22% em 2021 para um pico de 13,98% em 2022, e depois caindo para 8,82% em 2023. Esse comportamento pode indicar que, apesar de um ano particularmente positivo em 2022, as empresas enfrentaram pressões que afetaram sua lucratividade no ano subsequente, como aumento dos custos de insumos e despesas financeiras.

 

O setor de comércio apresentou uma redução constante na Receita Líquida ao longo dos três anos analisados, porém em valores (e, consequentemente, percentuais) maiores. A redução de aproximadamente 21% ao longo do período indica um ambiente desafiador, possivelmente afetado por mudanças nos padrões de consumo e pressões inflacionárias.

 

O EBITDA das empresas do setor de comércio também seguiu uma tendência de queda acentuada (entre 2021 e 2023 de praticamente 70%). Essa queda nas margens EBITDA sugere dificuldades crescentes na gestão de custos e na manutenção da eficiência operacional em um contexto macroeconômico menos volátil, mas preocupante em termos de demanda.

 

O Lucro Líquido das empresas do setor de comércio também apresentou variações notáveis (caiu de R$ 5,99 milhões, em 2021, para R$ 3,63 milhões, em 2022 e permaneceu no mesmo patamar em 2023. As margens de Lucro Líquido refletem essa estabilidade relativa nos dois últimos anos, com uma redução inicial de 5,81% em 2021 para 3,78% em 2022, seguida por uma leve recuperação para 4,46% em 2023. A relativa estabilidade do Lucro Líquido, apesar da queda nas receitas, pode indicar esforços bem-sucedidos em controle de despesas não operacionais ou ajustes estratégicos na estrutura de custos.

 

SERVIÇOS  – Ao contrário dos setores de indústria e comércio, o setor de serviços apresentou um crescimento contínuo na Receita Líquida durante o período analisado. A Receita Líquida manteve-se relativamente estável de 2021 a 2022, passando de R$ 59,77 milhões para R$ 59,03 milhões. No entanto, houve um aumento significativo em 2023, atingindo R$ 63,04 milhões.

 

O EBITDA das empresas de serviços também demonstrou um crescimento consistente, e financeiramente explicável pelo aumento de receita. Em 2021, o EBITDA foi de R$ 19,24 milhões, subindo para R$ 19,87 milhões em 2022 e alcançando R$ 20,85 milhões em 2023. As margens EBITDA refletiram esse crescimento, passando de 32,19% em 2021 para 33,66% em 2022, com uma leve estabilidade em 2023 em 33,07%.

 

O Lucro Líquido no setor de serviços também apresentou uma tendência ascendente. Em 2021, o Lucro Líquido foi de R$ 6,84 milhões, aumentando para R$ 9,14 milhões em 2022 e chegando a R$ 10,01 milhões em 2023. As margens de Lucro Líquido seguiram essa trajetória positiva, subindo de 11,44% em 2021 para 15,48% em 2022, e atingindo 15,88% em 2023. Aqui tanto margem como valores ficaram maiores.

 

RESULTADOS POR REGIÃO – Existem diferenças significativas entre as regiões, com a região Nordeste apresentando a maior margem EBITDA, mas com margem de lucro líquido menor que a do Centro-Oeste e do Sul. Ainda se destaca a região Sudeste com alta margem EBITDA e margem de lucro líquido sólida, enquanto no Centro-Oeste existe uma combinação equilibrada de margem EBITDA e uma das maiores margens de lucro líquido.

 

PERSPECTIVAS DE INVESTIMENTO – O estudo identificou um crescimento nas perspectivas de investimento das empresas do setor industrial, que passaram de 3,50% no 1.º semestre de 2023 para 4,34% no segundo semestre. Cabe ressaltar que este percentual da receita destinada para investimentos pode ser tanto para reposição da depreciação ou para investimentos em ativos e bens de produção.

 

O setor de serviços também apresentou uma tendência similar de aumento, com as perspectivas de investimento subindo de 4,60% para 4,77% ao longo do ano (associado à recuperação de receita). Por outro lado, o setor de comércio registrou uma queda nas intenções de investimento, diminuindo de 3,83% para 3,15%, o que pode ser explicado em parte em função das quedas nas margens ao longo destes 3 anos. O total consolidado da amostra de Médias Empresas indicou um aumento geral, de 3,99% para 4,23% no mesmo período.

 

Esses resultados destacam que o setor de serviços demonstrou consistentemente planos mais robustos de investimento ao longo do ano, possivelmente impulsionado por demandas crescentes e oportunidades no mercado de serviços. A indústria, apesar do aumento observado, mantém uma intenção de investimento moderada, considerando necessidades como a modernização de ativos e o impacto da depreciação sobre os bens de capital. Já o comércio, com uma variação negativa nas intenções de investimento, evidencia uma maior sensibilidade às condições econômicas e de mercado.

 

RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Os dados mostram um crescimento significativo nos pedidos de recuperação judicial das médias empresas. Em 2021, foram registrados 197 pedidos de recuperação judicial. Esse número aumentou para 214 em 2022, uma variação de 8,6%. Em 2023, o número de pedidos subiu drasticamente para 331, representando uma variação de 54,7% em relação ao ano anterior.

 

Vários fatores explicam esse aumento nos pedidos de recuperação judicial no Brasil. Primeiramente, as elevadas taxas de juros aumentaram o custo das dívidas e diminuíram as margens de lucro das empresas, dificultando o acesso ao crédito e causando problemas na cadeia de suprimentos. Além disso, o aumento da inadimplência dos consumidores e empresas também foi um fator crucial. A Lei 14.112/2020, que entrou em vigor em 2021 (alterando a Lei 11.101/2005), também contribuiu para o aumento dos pedidos de recuperação judicial ao trazer mudanças nas regras de recuperações e falências.

 

Poucos estudos mostram quantas empresas que entraram com pedidos de recuperação judicial conseguem efetivamente se recuperar. Informações públicas sugerem que apenas cerca de 5% das empresas conseguem cumprir o plano de recuperação judicial.

 

“Nesse cenário, é importante destacar que, quando adotada de forma oportuna, a recuperação judicial se torna um instrumento valioso para a sobrevivência das empresas. Portanto, é necessário desmistificar as recuperações judiciais, especialmente entre Médias Empresas, para que elas possam usar essa ferramenta de maneira eficaz e ética, desenvolvendo estratégias que permitam que seus negócios prosperem”, explica Eduardo Menicucci.

 

2024 – De forma geral, o faturamento líquido das Médias Empresas deve repetir o comportamento de queda, primeiramente pelo baixo crescimento da economia brasileira como um todo, e também porque, este ano, os impactos na região Sul, que representa aproximadamente 19% da quantidade de médias empresas brasileiras, sofrerá bastante com a questão das enchentes.

 

Como também há uma expectativa de inflação (segundo o relatório Focus, 4,25% para o IPCA e 3,77% para IGPM), os custos serão pressionados, e, assim, o EBITDA nominal também deverá apresentar queda.

 

Por fim, dada a magnitude da Selic (10,50% atual com previsão de manutenção até o final de 2024), o resultado financeiro deve ser negativamente impactado, de forma que, infelizmente, o lucro líquido também deve cair.

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