Idosos brasileiros acessam mais a internet e redes sociais, mas têm dificuldades com tecnologia
Nos últimos 2 anos, desde o início da pandemia da Covid-19, o acesso e o uso da internet, redes sociais e aplicativos pelo público com 60 anos ou mais aumentaram ou aumentaram muito, de acordo com a maioria da população brasileira, segundo a 12ª Edição do Observatório Febraban – Pesquisa Febraban-Ipespe. A inclusão Digital dos Idosos aponta que as ferramentas digitais já fazem parte da rotina dos mais velhos, e a percepção geral é que esse público transita no ambiente online em várias frentes, como videochamadas, vídeos, filmes e séries por streaming, pesquisa de preços e promoções, além de utilizar serviços bancários digitais entre outras atividades.
Mas a maioria dos entrevistados, e sobretudo entre as pessoas na faixa etária acima de 60 anos, observa que os mais velhos ainda têm dificuldade de usar as ferramentas tecnológicas e creem que ainda têm pouco ou nenhum conhecimento e familiaridade com as ferramentas digitais. Outra percepção majoritária é que eles não confiam ou não se sentem seguros com as mesmas.
A pesquisa, realizada entre os dias 31 de agosto e 6 de setembro, com 3 mil pessoas nas cinco regiões do país, aborda a inclusão digital dos idosos, aqueles com 60 anos ou mais. O levantamento investiga o assunto não apenas do ponto de vista do acesso desse público às novas ferramentas, mas também busca entender a distância entre os mais velhos e os mais jovens e as oportunidades para o desenvolvimento de competências digitais. O levantamento também tem um recorte regional.
Sete em cada dez entrevistados consideram que as ferramentas digitais são igualmente importantes para os mais jovens e para os mais velhos. Por outro lado, sentimentos conflitantes ainda perpassam essa relação. Questionados sobre o principal sentimento das pessoas de 60 anos e mais quando têm que lidar com a internet, as redes sociais e ferramentais digitais, os brasileiros citam medo e insegurança.
Os resultados sinalizam a importância de políticas públicas de inclusão, a necessidade da maior participação das famílias e, ainda, a questão da segurança. A percepção de insegurança na web se apresenta como uma barreira importante à inclusão digital. Há uma ampla percepção de que os golpes e as fraudes contra idosos na internet aumentaram ou aumentaram muito nos últimos dois anos. A existência de iniciativas e políticas públicas voltadas à inclusão digital dos mais velhos é amplamente reconhecida como muito importante ou importante pelo público em geral (85%) e por esse segmento etário.
“Historicamente menos propenso a adotar essas novas tecnologias que os nativos da era digital, o público acima dos 60 anos, durante o período de isolamento social, viu na internet uma saída para se manter conectado com familiares e amigos, informar-se, ter atendimento médico, pagar contas, pesquisar sobre preços e produtos, consumir”, avalia o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.
A seguir, os principais resultados do levantamento:
– Hábitos de isso da internet
70% dos brasileiros afirmam, pela própria experiência ou pelo que ouvem falar, que a maioria das pessoas com 60 anos ou mais têm acesso à internet, seja em casa, no trabalho ou no celular.
Esse percentual fica acima de 60% em todos os estratos demográficos, chegando a 64% entre os que têm 60 anos ou mais, e a 70% entre os que moram com pessoas dessa faixa etária.
O celular ou smartphone é indicado pela população como o principal dispositivo de acesso dos mais velhos, com 88% das menções em primeira resposta. Entre os respondentes com 60 anos ou mais, esse número é de 85%. Entre os que convivem mais de perto com esse segmento, 86%.
– A frequência de acesso é alta:
85% dos idosos dizem acessar a internet todos ou quase todos os dias da semana
14% dizem acessá-la algumas vezes na semana.
– Evolução do uso das novas tecnologias
A expressiva maioria dos brasileiros (90%) avalia que, nos últimos dois anos, o acesso e o uso da internet, redes sociais e aplicativos pelo público com 60 anos e mais no Brasil aumentaram muito ou aumentaram.
Entre aqueles com 60 anos ou mais, esse número sobe para 93%, resultado que se repete na faixa de idade de 25 a 44 anos e na faixa de renda de 2 a 5 salários mínimos. O menor percentual é observado na faixa de 18 a 24 anos (81%).
Na percepção dos brasileiros, os idosos no país já são bastante ativos no ambiente digital, realizando com assiduidade uma gama de atividades que envolvem comunicação, informação, consumo, autocuidado, entre outras.
– Serviços mais usados na internet
No ranking das atividades que os respondentes acreditam ser realizadas pelos idosos na internet com mais frequência (frequentemente ou algumas vezes), obtêm-se os seguintes resultados:
81% acesso às redes sociais
78% videochamadas
72% serviços bancários digitais
72% pesquisa de preços e promoções na internet ou em aplicativos
71% download de aplicativos no celular
70% assistir vídeos via streaming
66% usar aplicativos de transporte
63% fazer compras online
62% ler jornais ou revistas online
61% acessar serviços de saúde através do aplicativo do plano de saúde
– Entre os respondentes com 60 anos ou mais, são citadas como mais frequentes:
acessar as redes sociais (85%)
baixar aplicativos no celular (78%)
usar serviços bancários digitais (75%)
assistir a vídeos via streaming (75%).
Contrariando o que imaginam os demais segmentos (que apontam com maior percentual o uso desses serviços de saúde), apenas um terço (34%) dos mais velhos declaram fazer frequentemente ou algumas vezes consultas online. Quanto a acessar serviços de saúde através de aplicativos do plano, esse número é de 48%.
– Interesse, sentimentos e opiniões sobre o mundo digital
É majoritária (69%) a parcela que aponta o interesse dos mais velhos nas novas ferramentas tecnológicas, novas formas de comunicação e novos aplicativos na internet. Esse número é de 72%, e entre os que convivem na residência com essa faixa etária, 73%.
Apesar da crescente presença dos mais velhos no ambiente online, para a maioria os sentimentos desse público quando têm que lidar com a internet, as redes sociais e os recursos digitais ainda são mais negativos (51%) que positivos (44%).
45% dos respondentes citam medo e insegurança (44% entre que têm 60 anos ou mais)
26% citam curiosidade (30% entre os que têm 60 anos ou mais).
A soma das menções positivas (tranquilidade e segurança; alegria e entusiasmo; curiosidade) é maior entre os mais velhos (47%) e entre os que têm nível superior (48%). A soma das menções negativas (medo e insegurança, raiva, tristeza) é maior entre os que têm nível fundamental (54%), oscilando entre 49% e 52% nos demais estratos sociodemográficos.
– Distanciamento e temores
Embora reconheçam que a inserção dos mais velhos no ambiente digital avançou no Brasil, os entrevistados indicam que essa relação ainda é permeada por certo distanciamento e temores:
70% acreditam que os mais velhos gostam de usar as ferramentas digitais, mesmo percentual obtido quando esse público fala de si mesmo. Entre os que moram com idosos, esse percentual é de 68%.
65% estimam que os mais velhos têm dificuldade de usar as ferramentas digitais, quase o mesmo percentual (64%) entre idosos e na parcela que mora com pessoas dessa idade.
61% admitem que as ferramentas do mundo digital já fazem parte da rotina dos idosos. Nesse público e entre os que têm idosos em casa, o percentual é um pouco maior (65%).
56% acreditam que os idosos não confiam e não se sentem seguros no mundo digital. Entre os que moram com idosos, esse percentual é de 58%. Quando os mais velhos falam por si mesmos, esse número sobe para 72%.
55% acreditam que os idosos têm pouco ou nenhum conhecimento e familiaridade com as ferramentas digitais. Entre eles próprios e entre os que têm idosos em casa, esse percentual é 59%.
– Tecnologia é coisa boa ou ruim?
Majoritariamente, os brasileiros apresentam uma atitude favorável em relação às inovações tecnológicas e às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC):
64% concordam que “o mundo é melhor hoje em dia, com o avanço da tecnologia e os recursos digitais, que facilitam a vida das pessoas e as deixam conectadas mesmo à distância.”
São os mais velhos os maiores entusiastas dessas inovações (77% de concordância), seguidos dos que têm nível superior (75%). Cerca de um terço (33%) adere à afirmação “o mundo era melhor antigamente, com menos tecnologia, quando as pessoas se relacionavam presencialmente e levavam uma vida mais simples.”
– Inclusão Digital
Pouco mais da metade dos brasileiros (51%) já ouviu falar no conceito de inclusão digital dos idosos (70% entre os que têm nível superior). São os próprios idosos os mais alheios ao tema (52%). Entre os que convivem com idosos em casa, esse percentual cai para 38%.
Informados sobre o conceito de inclusão digital (“a oportunidade de as pessoas terem acesso e poderem usar as tecnologias de informação e comunicação como a internet”), 90% dos brasileiros defendem como importante ou muito importante a inclusão digital dos idosos.
Do total de entrevistados, 79% avaliam que a população brasileira com 60 anos ou mais já está incluída (total ou parcialmente) no mundo digital. Entre os mais velhos, 83% têm essa opinião. Entre os que moram com idosos, esse percentual é de 80%.
Falta de familiaridade, dificuldades de usabilidade, sensação de insegurança e falta de uma rede de apoio são os itens mais citados como fatores que contribuem para afastar os idosos do mundo digital. Entre eles próprios, a falta de familiaridade e o medo de ser vítima de golpes e fraudes vêm no topo do ranking, com 30% e 28% das menções, respectivamente.
– Desconhecimento e falta de familiaridade com as ferramentas digitais (38%)
– Medo de não saber usar (19%)
– Medo de ser vítima de golpes e fraudes (12%). Entre os idosos, sobe para 28%.
– Falta de apoio e incentivo da família (11%). Entre os idosos e os que têm idosos em casa, os números são 11% e 10%, respectivamente.
– Desinteresse (7%).
– Principais dificuldades dos mais velhos
Quanto às principais dificuldades encontradas pelos mais velhos ao usarem a internet e tecnologias digitais, o ranking nacional e o apresentado pelos que moram com idosos são semelhantes, mas diferem um pouco da opinião dos próprios idosos. Ainda que discreto, esse desencontro com a agenda dos mais velhos pode ser um entrave ao apoio e ajuda mais assertivos:
– Ranking nacional:
dificuldade de ligar, conectar e usar os aparelhos (35%)
falta de familiaridade com as ferramentas e a linguagem online (26%)
bloqueio ou perda de senhas (15%)
apagar documentos por engano (7%)
limitações motoras, visuais ou de memorização (7%).
– Ranking entre os que moram com idosos:
dificuldade de ligar, conectar e usar os aparelhos (30%)
falta de familiaridade com as ferramentas e a linguagem online (28%)
bloqueio ou perda de senhas (16%)
apagar documentos por engano (8%)
limitações motoras, visuais ou de memorização (6%).
– Ranking entre os idosos:
falta de familiaridade com as ferramentas e a linguagem online assume a primeira posição (32%)
dificuldade de ligar, conectar e usar os aparelhos (19%)
bloqueio ou perda de senhas (17%)
bloqueio de equipamentos por engano aparece quase empatado em terceiro lugar (15%)
envio de mensagens por engano (7%).
– Apoio e ajuda
O apoio e a ajuda dos familiares aos mais velhos quando esses precisam acessar e usar a internet e as redes sociais surgem como um ponto a ser reforçado. Para 84% da população e dos que moram com idosos, os mais velhos encontram, geralmente, muito ou algum apoio e ajuda nessas situações. Entretanto, esse número cai para 69% no segmento de 60 anos ou mais. Apenas 14% da população e 15% dos que moram com idosos acreditam que esse público não encontra ajuda para o acesso e uso da internet e das redes sociais. Entre os idosos, essa percepção dobra para 30%.
– Atividades que facilitam a vida dos idosos
Acesso a notícias e informação na internet e aplicativos (27%). Entre os idosos 25%. Entre pessoas que moram com idosos: 24%.
Relacionamento com familiares e amigos através das redes sociais e internet (23%). Entre idosos e pessoas que moram com idosos: 21%.
Acesso a consultas online ou serviços de saúde através de aplicativos (15%): Entre os idosos: 11%. Entre pessoas que moram com idosos: 17%.
Serviços digitais dos bancos (9%). Entre os idosos, como mencionado, chega a 20%
Entretenimento e lazer na internet (8%): Idosos: 9%. Pessoas que moram com idosos: 10%
– Segurança, golpes e fraudes
A predominante sensação de insegurança na web se estende à proteção dos dados pessoais e perpassa a questão etária. Questionados sobre a segurança dos dados dos usuários:
19% acreditam que estão totalmente seguros e protegidos. Essa parcela mais confiante é menor (10%) na faixa etária de 60 anos ou mais
57% acreditam estão parcialmente seguros e protegidos. Entre os idosos, chega a 60%
20% temem que não estão seguros e protegidos. Os idosos são os que expressam mais esse temor (28%)
Para 48% dos brasileiros, a vulnerabilidade a fraudes e golpes na internet independe de idade. Entre os idosos, o percentual a opinião de que fraudes e golpes na internet atingem tanto os mais jovens quanto os mais velhos é de 51%
Por outro lado, parcela expressiva de 40% consideram que são os idosos os mais vulneráveis a golpes e fraudes no ambiente online. Entre os idosos e os que moram com pessoas idosas, os percentuais são 45% e 41%, respectivamente. Portanto, apesar de elevada, os idosos não consideram a sensação de vulnerabilidade na internet inerente a esse segmento.
Considerando-se a crescente presença dos mais velhos no ambiente online, é generalizada a percepção (78%) de que o número de golpes e fraudes na internet contra esse público aumentou muito ou aumentou nos últimos dois anos. Entre os mais velhos, a percepção de aumento é de 79%.
– Golpes mais frequentes
Os tipos de golpes citados como mais comuns pela população em geral, pelos idosos e pelos que moram com eles são praticamente os mesmos; exceto por uma modalidade que curiosamente preocupa mais os idosos: relacionamentos amorosos para extorquir dinheiro.
Alguém se passando por um conhecido solicitando dinheiro por WhatsApp: 32% de menções na população em geral; 26% entre os idosos; e 33% entre os que moram com idosos.
Clonagem de cartão de crédito ou troca de cartões: 30% de menções na população em geral; 26% entre os que moram com idosos; e 24% entre os idosos.
Golpe de crédito consignado: 11% de menções na população em geral; 14% entre os que moram com idosos; e 21% entre os idosos.
Alguém que pede seus dados por telefone: 10% de menções na população em geral; 10% entre os que moram com idosos; e 8% entre os idosos.
Golpe de lojas virtuais: 7% de menções na população em geral; 8% entre os que moram com idosos; e 2% entre os idosos.
Relacionamentos amorosos para extorquir dinheiro: 5% de menções na população em geral; 5% entre os que moram com idosos; e 15% entre os idosos.
– Demandas e expectativas
A atribuição de importância a iniciativas e políticas públicas voltadas à inclusão digital dos mais velhos chega a 85%. Entre os idosos e pessoas que moram com idosos, a atribuição de importância à inclusão digital da terceira idade é 88% e 84%, respectivamente.
Dada a percepção majoritária de que, no Brasil, os idosos já estão inseridos e ativos no ambiente online, a oferta de iniciativas e políticas públicas voltadas à inclusão digital desse público no país tem avaliação favorável de 47% (ótima ou boa). Entre os idosos e pessoas que moram com eles, a avaliação positiva é similar, 46% e 45%, respectivamente.
Em uma perspectiva futura, os brasileiros indicam alguns caminhos para a ampliação e aprimoramento da inclusão digital dos mais velhos no país. Entre os idosos destacam-se a importância dos treinamentos, à segurança e à usabilidade, com adaptação dos canais e recursos a necessidades próprias dessa faixa etária:
– Maior apoio e ajuda da família (30%). Pessoas que moram com idosos: 28%. Idosos: 19%.
– Preços mais acessíveis para o público mais velho (18%). Pessoas que moram com idosos: 16%. Idosos: 10%.
– Cursos e treinamentos voltados a esse público (17%). Pessoas que moram com idosos: 18%. Idosos: 24%.
– Aparelhos e dispositivos mais adaptados às necessidades de visão, audição, motoras dos mais velhos (12%). Pessoas que moram com idosos: 14%. Idosos: 16%.
– Maior segurança contra os golpes e fraudes (9%). Pessoas que moram com idosos: 9%. Idosos: 19%.
– Canais de atendimento das empresas e bancos específicos para os mais velhos (6%). Pessoas que moram com idosos: 10%. Idosos: 8%