Indicador de clima econômico da América Latina piora
Após registrar um saldo positivo de 1,5 ponto em janeiro, o Indicador Ifo/FGV de Clima Econômico (ICE) da América Latina – elaborado em parceria entre o Instituto alemão Ifo e a FGV – retorna à zona desfavorável no segundo trimestre, com um saldo de -5,2 pontos. A piora do ICE foi influenciada majoritariamente pelo Indicador das Expectativas (IE), que se mantém em patamar positivo, mas recuou 16,6 pontos entre janeiro e abril. Já o Indicador da Situação Atual (ISA) ficou relativamente estável em território negativo.
O indicador da região seguiu, em grandes linhas, o comportamento do ICE Mundial, embora este tenha permanecido na zona de avaliação favorável. O ICE Mundial passou de 26,1 pontos, em janeiro, para 16,5 pontos, em abril, com estabilidade do ISA e queda, de 23,9 pontos para 6,1 pontos, do IE, no mesmo período. Esta queda interrompe a trajetória de melhora observada desde outubro de 2017. O resultado indica que a economia mundial continua num ciclo expansivo, mas sinaliza uma possível desaceleração no ritmo de crescimento econômico no segundo semestre.
Embora as principais economias europeias, dos Estados Unidos e do Japão registrem indicadores positivos de clima econômico, as quedas dos Estados Unidos e do Japão, em torno de 22,0 pontos, chamam atenção. Nos Estados Unidos, o IE passou de positivo para negativo; no Japão, continuou positivo, mas recuou 22,3 pontos. O Reino Unido registrou melhora no ICE, mas permaneceu na zona desfavorável.
Entre os países integrantes dos BRICS, a Índia e a África do Sul estão na zona favorável e melhoraram o clima econômico entre janeiro e abril. No caso da África do Sul, o indicador passou de negativo para positivo, associado a um cenário mundial mais favorável devido ao aumento de preços de commodities e à melhora nas expectativas com relação aos investimentos produtivos. Já a Rússia e o Brasil registraram piora. No Brasil, o ICE passou de 4,3 pontos positivos, em janeiro, para 11,4 pontos negativos, em abril. O ISA ficou relativamente estável, mas as expectativas passaram de 85,2 para 47,8 pontos, o pior resultado desde julho de 2017 (34,6 pontos).
AMÉRICA LATINA – No grupo de 11 países selecionados para a análise da América Latina, cinco registraram piora no clima econômico. Os maiores recuos entre janeiro e abril ocorreram na Argentina (-17,5 pontos), Brasil (-15,7 pontos) e Peru (-11,3 pontos). Mesmo com esta forte retração, a Argentina e o Peru permaneceram na zona favorável; já o Brasil encaminhou-se para a zona de clima desfavorável. Os outros dois países, Bolívia e Colômbia, também estão com avaliação desfavorável do clima econômico.
A piora do ICE na Colômbia e no Peru está associada a uma deterioração na avaliação da situação atual, pois as expectativas, além de estarem no campo positivo, melhoraram. Na Argentina, tanto a situação atual quanto as expectativas pioraram. Na Bolívia, assim como no Brasil, a piora foi causada pelas expectativas. Diante deste cenário, “Colômbia e Peru estão em melhor situação que Brasil, Argentina e Bolívia que devem esperar piora nas condições do clima econômico nos próximos meses”, segundo Lia Valls Pereira, Pesquisadora da FGV IBRE.
Entre os países que registraram avanço no ICE, o destaque é o Chile, país em que o indicador passou de 26,3 pontos para 49,2 pontos entre janeiro e abril. A melhora deveu-se à forte alta do ISA, que passou de -18,2 pontos, em janeiro, para 30,0 pontos, em abril. As expectativas recuaram, mas se mantiveram em patamar positivo (70,0 pontos) e estão bem acima da média histórica dos últimos dez anos (8,3 pontos). Os ICE de Equador e México, mesmo melhorando, continuam na zona desfavorável. No Equador, é o IE que explica a melhora; e no México, a melhora decorre da percepção em relação à situação atual. No Paraguai, todos os indicadores melhoraram e estão na zona favorável; no Uruguai, os indicadores mantiveram-se estáveis e na zona favorável.
Na América Latina, predominam, portanto, a melhora nas expectativas (ocorreu em 6 países). A piora no ICE da América Latina, portanto, foi puxada pelo comportamento da maior economia da região (Brasil), e da terceira maior em PIB (Argentina). A segunda maior economia, o México, registrou melhora do clima, mas está na zona de avaliação desfavorável desde julho de 2014.
PROBLEMAS – Nos meses de abril e outubro, o Instituto Ifo divulga uma pesquisa sobre os principais problemas enfrentados pelos países, na opinião dos especialistas. O indicador oscila entre 0 e 100 pontos. Quanto mais relevante o problema, maior a sua pontuação. Na região abaixo de 50, o problema é considerado pouco relevante. O quadro a seguir apresenta os resultados para o mundo, América Latina e os países selecionados da região.
No mundo, a maior pontuação se refere ao aumento na desigualdade de renda (72,4 pontos) seguido de falta de mão de obra qualificada (63,8), infraestrutura inadequada (55,0), barreiras legais ao investimento (52,7), corrupção (52,3), falta de inovação (51,9) e falta de confiança na política econômica (50,6).
Na América Latina, com pontuação acima de 80 pontos, em ordem decrescente, os especialistas destacaram: infraestrutura inadequada; corrupção; e falta de inovação. Entre 60 e 70 pontos: falta de competitividade internacional; aumento da desigualdade de renda; e, falta de confiança na política econômica. Entre 50 e 60 pontos os problemas foram: barreiras aos investimentos; demanda insuficiente; falta de mão de obra qualificada; e instabilidade política.
No Brasil, os problemas mais relevantes foram a corrupção e a infraestrutura inadequada, ambos com 90,9 pontos. Acima de 80 pontos foram destacados: demanda insuficiente; aumento na desigualdade de renda; e, falta de competitividade internacional. Só não foram considerados problemas relevantes (abaixo de 50 pontos): gerenciamento da dívida; clima favorável para o investidor estrangeiro; e, atuação do Banco Central.