Eletrônica e Informática

Indicadores do setor eletroeletrônico recuam em abril, mas empresário do setor segue otimista

Sondagem de conjuntura referente ao mês de abril, realizada pela Abinee, aponta que 45% das empresas pesquisadas indicaram crescimento nas vendas/encomendas em relação ao igual período de 2021. Este resultado foi 20 pontos percentuais abaixo do observado na pesquisa realizada em março de 2022 ao comparar com março do ano passado, quando 65% das entrevistadas deram essa indicação.

Em relação ao mês imediatamente anterior, 24% das entrevistadas indicaram crescimento nas vendas. Neste caso, o percentual foi 41 pontos percentuais abaixo dos 65% verificados na pesquisa de março.

A pesquisa revelou também a ampliação de 24% para 37% no total de entrevistadas que registraram negócios abaixo do esperado. Nota-se que esse indicador havia apontado incremento na pesquisa de fevereiro, caiu em março e voltou a subir em abril.

Somente 7% das entrevistadas relataram negócios acima das expectativas. Este foi o menor percentual desde abril de 2020, quando apenas 5% das empresas haviam dado essa indicação. Abril de 2020 foi o período em que a atividade econômica havia sofrido os maiores impactos negativos da pandemia de Covid-19.

Porém, mesmo assim, a maior parte das entrevistadas (56%) informaram, neste último levantamento, que os seus negócios foram conforme as expectativas.

A utilização da capacidade instalada caiu de 78% em março para 77% em abril de 2022.

No que se refere ao nível de emprego, não foram observadas alterações significativas nas indicações apontadas neste levantamento em relação à pesquisa anterior, com a maior parte das entrevistadas, ou seja, 76% das empresas, apontando estabilidade.

Conforme dados do Novo Caged, o número de empregados da indústria eletroeletrônica recuou em 258 postos de trabalho no mês de março de 2022 em relação a fevereiro, totalizando 266,3 mil funcionários. Esta redução representa o saldo, ou seja, a diferença entre admissões e desligamentos.

Essa foi a primeira queda observada neste ano. Destaca-se que essa retração, mesmo sendo modesta, interrompeu um movimento de alta que vinha ocorrendo desde junho de 2020. Com exceção apenas dos meses de dezembro (de 2020 e de 2021), o nível de emprego da indústria eletroeletrônica vinha crescendo desde meados de 2020

No comércio internacional, 34% das entrevistadas relataram aumento das exportações comparadas com igual período de 2021, resultado superior às indicações de queda (30%).

Dados da Secex/ME agregados pela Abinee, mostraram incremento de 22% nas exportações de produtos elétricos e eletrônicos no acumulado dos primeiros quatro meses de 2022 em relação ao igual período do ano passado.

Nesta sondagem, a maior parte das empresas indicaram normalidade nos estoques, tanto de componentes e matérias-primas quanto de produtos acabados, com 57% das indicações em ambos os casos.

No que se refere a financiamentos para capital de giro, observou-se que 32% das empresas citaram dificuldades na obtenção desses recursos. 70% das entrevistadas não utilizam esses instrumentos.

Notou-se também neste levantamento, redução de 59% para 53% no total de pesquisadas que relataram pressões em alguns custos, tais como de energia, água, impostos, entre outros.

COMPONENTES E MATÉRIAS-PRIMAS – Observou-se, na sondagem de abril, a permanência das dificuldades decorrentes da falta de componentes eletrônicos, principalmente de semicondutores no mercado e sua consequente alta de preços.

Neste último levantamento, 59% das pesquisadas relataram dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas em função da falta destes itens no mercado. Este resultado foi 1 ponto percentual acima do verificado na pesquisa anterior (58%) e o maior deste ano.

Nota-se que ultimamente as dificuldades estão mais concentradas na aquisição de componentes eletrônicos, visto que o abastecimento das demais matérias-primas vem se normalizando nos últimos meses.

Entre os insumos em falta no mercado, destacaram-se os componentes eletrônicos provenientes da Ásia, relatados por 78% das empresas que estão com dificuldades na aquisição de insumos. Destaca-se que este foi o maior percentual observado desde o início desta pergunta na sondagem, em meados de 2020.

Além dos problemas com o abastecimento de componentes eletrônicos que as empresas já vêm enfrentado desde o início da pandemia, as restrições que estão sendo aplicadas em algumas regiões da China para conter os surtos de Covid-19 naquele país, também vêm prejudicando ainda mais a aquisição destes itens no mercado chinês.

Nesta pesquisa 66% das empresas do setor que importam componentes ou insumos da China relataram dificuldades no abastecimento destes itens em função desses “lockdowns”.

Neste levantamento também foi observado que 44% das entrevistadas relataram dificuldades na aquisição de componentes eletrônicos provenientes de outras origens.

Por outro lado, vêm caindo o número de empresas com dificuldades na aquisição das outras matérias-primas, tais como papelão, aço, materiais plásticos, que atingiram 13% das entrevistadas, resultado bem inferior aos mais de 50% verificados no início do ano passado.

Além da dificuldade na aquisição de componentes, 77% das empresas pesquisadas continuam sentindo pressões acima do normal nos custos de componentes e matérias-primas. Este resultado foi 4 pontos percentuais acima do observado na pesquisa anterior (73%) e também foi o maior deste ano.

Nota-se que a escassez de produtos e os aumentos de custos deverão pressionar ainda mais a inflação.

Conforme dados do IBGE agregados pela Abinee, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) da indústria eletroeletrônica, no mês de março de 2022, registrou aumento de 14% no acumulado dos últimos 12 meses.

A falta de componentes eletrônicos no mercado continua trazendo algumas dificuldades para as empresas do setor, tais como atraso na produção e na entrega, citado por 44% das entrevistadas e até mesmo paralisação parcial da produção, relatada por 7% das pesquisadas.

É importante ressaltar que mesmo com esses entraves, nenhuma empresa informou paralisação total da produção devido à falta de componentes eletrônicos, desde o início desta questão na sondagem, em fevereiro de 2021.

GUERRA – O prolongamento dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia continua trazendo muita preocupação, principalmente em relação aos aspectos humanos, mas também em relação ao abastecimento de componentes e matérias-primas.

Nesta sondagem, 4% das entrevistadas informaram que já estão com o fornecimento direto afetado por importar componentes desses países e 13% das entrevistadas já estão com o fornecimento indireto afetado por importar de países que utilizam matérias-primas, principalmente gás neônio e paládio, dessas regiões.

Apesar destes percentuais não serem muito expressivos, este levantamento também mostrou que, 45% das entrevistadas ainda não tiveram dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas dessa região, mas estão alertas com essa situação, uma vez que importam, direta ou indiretamente, desses países.

SEMICONDUTORES – Especificamente no caso de semicondutores, 78% das entrevistadas que utilizam esses componentes na sua produção relataram as dificuldades na aquisição destes itens no mercado. Este resultado foi 5 pontos percentuais acima do verificado na pesquisa anterior (73%).

Conforme a sondagem, 93% das entrevistadas acreditam que a crise global de semicondutores acentuada na pandemia é o principal responsável pelas dificuldades na aquisição de semicondutores.

Porém, além disso, as empresas indicaram outros fatores que também estão prejudicando o abastecimento de semicondutores, tais como:

– as restrições (“lockdowns”) aplicadas em algumas regiões da China para combater a pandemia de Covid-19, indicadas por 63% das entrevistadas;

– os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, por estes países serem produtores mundiais de insumos essenciais para a fabricação de semicondutores, citados por 39% das empresas;

– e os atrasos no recebimento de semicondutores devido à operação padrão dos auditores fiscais da Receita Federal do Brasil, indicados por 32% das pesquisadas.

Todos esses entraves estão fazendo com que as empresas reavaliem as suas previsões de normalidade no fornecimento de semicondutores.

Na pesquisa referente ao mês de janeiro, a maior parte das entrevistadas, ou seja, 53% das empresas acreditavam que a normalidade no abastecimento de componentes semicondutores ocorreria até o final de 2022. Já na sondagem de fevereiro, esse percentual diminuiu para 36%, recuando para 30% em março. Agora no levantamento de abril, esse percentual caiu para 22%.

Nas quatro últimas pesquisas, aumentou o número de entrevistadas com previsão de normalidade em 2023, passando de 34% na sondagem de janeiro, para 45% nos levantamentos de fevereiro e de março, e aumentando para 48% em abril.

Nesta pesquisa de abril, 5% das entrevistadas acreditam que a previsão de normalidade no abastecimento de semicondutores acontecerá apenas a partir de 2024.

GARGALOS LOGÍSTICOS – Este levantamento também mostrou que permanecem alguns gargalos logísticos que vêm sendo enfrentados pelas indústrias eletroeletrônicas desde o início da pandemia e que podem ser agravados em função dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, principalmente no que se refere aos preços dos fretes, que vem gerando dificuldades ao comércio internacional.

Nesta sondagem, 69% das entrevistadas que exportam relataram problemas no envio de cargas nas exportações marítimas. Esse foi o segundo incremento consecutivo, ficando 14 pontos percentuais acima dos 55% observados na pesquisa de fevereiro.

Entre esses entraves, destacaram-se o aumento de preços (39%), relatado por 50% das entrevistadas; as dificuldades de reserva de contêineres (41%) e o atraso na reserva do frete marítimo (33%).

Nas importações, considerando todos os modais de transporte, 71% das empresas indicaram atrasos no recebimento de cargas.

Notou-se também que 46% das entrevistadas perceberam elevação nos custos de armazenamento de cargas em galpão.

OPERAÇÃO PADRÃO – Além disso, as empresas mostraram preocupação com a operação padrão de auditores fiscais da Receita Federal do Brasil, iniciada em dezembro do ano passado que também vem prejudicando as importações e exportações de bens do setor.

Conforme a sondagem realizada em abril de 2022, 57% das empresas que realizam importações relataram dificuldades na liberação de importações devido à operação padrão.

Entre as dificuldades citadas, destacaram-se o atraso na liberação/fiscalização de cargas e atrasos no recebimento de insumos e de produtos.

No caso das exportações, 28% das entrevistadas que exportam indicaram dificuldades nas exportações, com atrasos na operação de embarque e atrasos na entrega de mercadorias aos clientes.

EXPECTATIVAS – Mesmo com a piora nos principais indicadores do setor apontados nessa sondagem, as expectativas para 2022 permanecem favoráveis.

Os indicadores econômicos mostram um cenário de incertezas, com crescimento do PIB modesto e elevação da inflação e taxa de juros, fatores que inibem os investimentos.

Nos primeiros meses deste ano, as empresas continuam enfrentando as dificuldades encontradas no ano passado, principalmente com a falta de semicondutores no mercado, sua consequente alta de preços e os gargalos logísticos.

Além disso, os empresários também estão alertas com as possíveis consequências dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, e com as restrições em algumas regiões da China para o controle da pandemia no país.

O prolongamento da operação padrão de auditores fiscais da Receita Federal é outro fator de preocupação para os empresários do setor, uma vez que se esse problema não for resolvido rapidamente, poderá afetar diretamente o desempenho da indústria eletroeletrônica, que já vem sofrendo com falta de insumos e aumento nos custos de importação.

Mas mesmo com esses entraves, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) do Setor Eletroeletrônico, conforme dados da CNI agregados pela Abinee, subiu 1,3 ponto em maio apontando o segundo incremento consecutivo após duas quedas seguidas.

O Icei da indústria eletroeletrônica permanece acima da linha divisória dos 50 pontos há 22 meses, demonstrando que o empresário industrial do setor continua confiante.

Nesta sondagem, do total de empresas pesquisadas, 55% esperam crescimento em maio de 2022 em comparação com maio de 2021.

Para o 2º trimestre de 2022, esse percentual atingiu 69% e para 1º semestre de 2022 totalizou 68% das entrevistadas, sempre comparados com iguais períodos do ano passado.

Para o ano de 2022, 67% das empresas projetam crescimento em relação a 2021. Esse percentual foi 5 pontos percentuais acima do apontado em março (62%) e foi o maior deste ano.

Ainda para 2022, 18% das empresas preveem estabilidade e 15% retração.

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