Metal Mecânica

“Indústria 4.0 não admite soluções prontas, de prateleira”


CEO da Roboris – empresa multinacional que atua principalmente nos mercados de robotização e Indústria 4.0 -, o engenheiro Guilherme Thiago de Souza vê o Brasil como um país cuja indústria pode até estar em crise, mas que nem por isso deixou de ser pujante e de apresentar um relativo grau de modernidade. E que já começou, inclusive, a trilhar o caminho da Indústria 4.0, mesmo que timidamente.

“É um imenso mercado potencial para a Roboris”, diz Souza, segundo quem a empresa vem fornecendo no Brasil equipamentos e serviços na área 4.0 principalmente para grandes empresas de segmentos como o automotivo, aeronáutico, siderúrgico e minerador. “Algumas empresas médias também vão aos poucos aderindo ao conceito 4.0. Mas há ainda entre as pequenas empresas brasileiras uma resistência visível a essa nova ordem tecnológica, cuja origem é principalmente financeira”.

A Roboris atua há quatro anos no Brasil e tem expertise em diversos projetos com robôs nos Estados Unidos e América Latina – com destaque para a Argentina, Chile, Peru e Equador. Empresa de tecnologia e engenharia, ela tem seu foco principalmente no desenvolvimento de projetos ‘turn key’ de células robotizadas e de controle e automação industrial, fornecendo células, máquinas e dispositivos, além de serviços de projetos, engenharia e manutenção.

É ainda integradora exclusiva da Fanuc, empresa japonesa que é uma das líderes do segmento de robótica, com o seu portfólio contando com mais de 300 mil robôs industriais instaladas em todo o mundo. Em 2012, aliás, a Roboris recebeu o “Prêmio de Excelência em Inteligência Robótica” (Excelent in Intelligent Robotics Award) – foi o único integrador da América Latina a ser agraciado com o prêmio, que é concedido pela Fanuc aos integradores com alto nível de capacidade para desenvolvimento de projetos. A empresa também mantém parcerias com empresas internacionais que fornecem para gigantes como Boeing, Airbus, Space-X, Lockhead-Martin, Honda-Jet e Nasa.

Filosoficamente, a Roboris tem como objetivo atender às necessidades da indústria no que diz respeito ao aumento da produtividade, redução de custos, modificação dos processos e padronização de produtos, além de oferecer maior segurança na produção e diminuição da sucata produzida pelas indústrias. Atua hoje nos mais diversos segmentos de mercado, tais como indústria aeronáutica, alimentícia, farmacêutica, frigorífica, de mineração e transformação, laboratórios, usinagem, siderúrgicas e metalmecánicas e packaging.
A seguir, trechos da entrevista.

METAL MECÂNICA – Além de atuar já faz bastante tempo no mercado de robotização, a Roboris mantém hoje também forte participação na área de equipamentos e serviços para a Indústria 4.0, na qual já é um dos mais conceituados players. Esse desdobramento vem acontecendo também no Brasil?
GUILHERME THIAGO DE SOUZA – Sim. Estamos no Brasil já faz quatro anos, e operamos aqui nas mesmas áreas em que atuamos em países como Chile – no qual a nossa presença já vem de 14 anos – Argentina, Peru, Equador, Estados Unidos, vários outros. O Brasil possui uma indústria que hoje pode estar em crise, mas nem por isso deixou de ser pujante e de apresentar um relativo grau de modernidade. E já começou a trilhar o caminho da Indústria 4.0, mesmo que timidamente.

Trata-se, então, de um mercado potencial para a Roboris. Hoje fornecemos equipamentos e serviços na área 4.0 principalmente para grandes empresas de segmentos como o automotivo, aeronáutico, siderúrgico, minerador, farmacêutico, frigorífico, de embalagens. São, na verdade, os setores nos quais a Indústria 4.0 mais tem se desenvolvido não só no Brasil, mas em todo o mundo.

METAL MECÂNICA – Como está a aceitação do conceito 4.0 na indústria brasileira, de modo geral?
SOUZA – Sentimos que há ainda algumas diferenças entre as empresas grandes, médias e pequenas. Nas grandes empresas, que geralmente são multinacionais ou servidas por conexões globais, a aceitação tem sido mais natural. Elas compreendem que o avanço das tecnologias é um processo inexorável, e quem não se adaptar a elas, será passado para trás. Então, investem sem medo nenhum.

Algumas empresas médias também vão aos poucos aderindo ao conceito 4.0. Mas há ainda entre as pequenas empresas brasileiras uma resistência visível a essa nova ordem tecnológica. Cuja origem é principalmente financeira – o medo dos custos.

METAL MECÂNICA – Acham a tecnologia cara demais.
SOUZA – Sim, porém a razão está ancorada em uma percepção equivocada, mas nem por isso superficial, do que seria a Indústria 4.0. As empresas pequenas, ou menos capitalizadas, ficam geralmente com o pé atrás quando constatam que a transição não pode ser feita por um toque de mágica. É preciso adquirir equipamentos compatíveis, ajustar a produção, treinar minimamente a mão de obra. Isso nem sempre custa barato, principalmente se o parque fabril da empresa for muito antigo.
E os resultados só serão imediatos se a transição for realizada de uma vez só, algo que só está ao alcance de empresas dotadas de muito capital. Mas nem essas agem assim, preferindo implantar os conceitos 4.0 aos poucos, de modo a ter melhor controle sobre os processos e os resultados. Ou seja, as vantagens da Indústria 4.0 também aparecem aos poucos. É outro fator que desanima os pequenos empresários. Eles querem resultados imediatos para justificar os investimentos. E não conseguem perceber que a Indústria 4.0 beneficiará a companhia conforme os conceitos forem sendo implantados, tornando-a crescentemente mais competitiva ao longo do tempo.

METAL MECÂNICA – Quais seriam os benefícios imediatos dos conceitos 4.0?
SOUZA – Um maior controle da qualidade e o aumento da produtividade são percebidos quase que imediatamente. Com o tempo, e com maiores investimentos em digitalização – que, como disse, costuma ser baseada em um ‘degradé’ de substituição de equipamentos – o controle digital vai também aumentando, os vários departamentos da fábrica vão interagindo digitalmente, o trabalho dos gestores começa a ser feito cada vez mais em tempo real.

É como se a fábrica se tornasse uma espécie de casa automatizada, onde com um simples telefone celular é possível controlar a iluminação, a temperatura da adega, e assim por diante. Toda a fábrica pode ser traduzida em dados e números, o que facilita não só a operação, como o próprio trabalho de manutenção, que pode ser autogerenciada e planejada de modo a evitar interrupções do processo produtivo.

METAL MECÂNICA – A robotização tem cumprido um papel importante no desenvolvimento da Indústria 4.0?
SOUZA – Sem dúvida nenhuma. O robô é uma espécie de coringa na Indústria 4.0. Mas é preciso saber usá-lo. Colocá-lo no lugar certo, digamos assim. Na verdade, para que uma empresa desfrute de todos os benefícios da Indústria 4.0, é preciso que haja um grande trabalho prévio de sistematização dos seus processos produtivos aos novos conceitos. A Indústria 4.0 não admite soluções prontas, soluções de prateleira.

Por falar nisso, vejo na resistência dos pequenos empresários à Indústria 4.0 também uma herança negativa dos inícios da disseminação dos robôs no Brasil, na década de 1990. Muita coisa foi mal feita naquela época, principalmente pela baixa qualificação de alguns fornecedores e implantadores. Houve empresários que gastaram pequenas fortunas na robotização de seu parque fabril, com resultados totalmente medíocres. Há um medo muito compreensível que isso se repita na adoção dos conceitos 4.0. Mas, falando inclusive por nós, hoje a qualificação dos fornecedores e integradores é muito maior, altamente confiável.

Mas achamos que um trabalho institucional também deve ser desenvolvido por governos e entidades ligadas à indústria de modo a fazer a Indústria 4.0 avançar mais depressa no Brasil. Em educação, por exemplo. Nos Estados Unidos, robótica, computação, impressão 3D já fazem parte inclusive do currículo das escolas públicas. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação)

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