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Indústria automobilística depende de fornecedores com gestão de processos e certificações

Alexandre Pierro (*)

Além de uma grande paixão nacional, o carro é também um importante segmento econômico em nosso país. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a indústria automobilística é responsável por 4% do PIB nacional.
Depois de três anos seguidos de resultados negativos, o ano de 2017 fez esse setor voltar a se animar. Com vendas totais de 2,24 milhões de automóveis, o segmento registrou alta de 9,2% em relação a 2016.  As exportações de veículos bateram o recorde histórico de 724,6 mil unidades, um crescimento de 48% em relação ao ano anterior. Em valores, foram US$ 12,8 bilhões contra US$ 8,9 bilhões em 2016, alta de 44,4%.
Apesar dos bons ventos que parecem voltar a soprar, é preciso atenção para manter a produtividade e, principalmente, a competitividade no mercado externo. E a melhor forma de fazer isso é por meio da melhoria nos processos de gestão da cadeia de suprimentos dessa indústria.
Essa melhoria também deve ser aplicada aos fornecedores diretos e indiretos das empresas automobilísticas, pois seguindo o exemplo das montadoras, os fornecedores também não investem o necessário para melhorar e aprimorar seus processos de gestão. Dessa forma, apesar da recuperação do setor, ainda estamos aquém dos resultados que poderíamos ser alcançados porque, historicamente, o Brasil não é um país com cultura de qualidade enraizada. Apenas 20.908 empresas brasileiras possuem a certificação ISO 9001, que garante qualidade em produtos e serviços diversos. Destas, apenas 676 fizeram a atualização para a versão 2015, a mais recente. A partir de outubro, todas as demais que não providenciaram a atualização, simplesmente deixarão de ter o certificado.
Além de não contarem com as melhorias de processos propostas pelas normas – que são capazes de aumentar a produtividade e reduzir desperdícios, as empresas tendem a perder a oportunidade de serem fornecedores de multinacionais ou de grandes empresas, cuja mentalidade em relação à importância das certificações é muito maior. Sem poder atender, o escopo de atuação ficará mais reduzido.
Contudo, se a cultura não prega a adoção de certificações, o mercado inteiro tende a se adequar, criando assim insumos menos eficientes e, consequentemente mais caros do que poderiam. Como tudo funciona em cadeia, o preços dos produtos acabados, os nossos carros nesse caso, ficam mais caros e, portanto, menos competitivos ao mercado internacional.
Romper esse ciclo é mais fácil do que se imagina. Ao contrário do que parece, a conquista das certificações ISO não são tão complexas quanto se pensa. No caso de empresas de pequeno e médio portes nem há a necessidade de um departamento interno de qualidade. Basta contar com a presença de um consultor, que irá orientar a empresa sobre as necessidades de adequações.
Uma vez que as normas estejam sendo cumpridas, as certificadoras fazem a auditoria final, com o intuito de certificar ou não a empresa. O procedimento todo não custa muito e se paga rapidamente devido ao ganho residual em melhoria de processos e redução de desperdícios. Isso sem falar nos impactos positivos em saúde e segurança dos trabalhadores, além de melhoria nos impactos ambientais.
Com foco na qualidade, a gestão da cadeia automobilística no Brasil tende a melhorar. Com produtos mais qualificados e custando menos, veremos uma baixa no número de recalls, aumento na eficiência dos produtos e na competitividade internacional. Ganham as empresas e os consumidores.
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(*) O autor é engenheiro mecânico, bacharel em física aplicada pela USP e fundador da Palas.

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