Indústria de máquinas tem nova queda de receita em junho
O setor de máquinas e equipamentos apresentou resultados negativos em praticamente todos os principais indicadores econômicos no mês de junho, refletindo os impactos da pandemia da Covid-19, segundo dados divulgados pela Abimaq no dia 29 de julho. A receita líquida total no mês foi de R$ 9.216,50 milhões, refletindo queda de 3,4% em relação ao mês anterior e de 12,4% na comparação com o mesmo mês de 2019. A receita líquida interna de R$ 6.635,41 milhões foi 0,5% maior que no mês anterior e 10,1% inferior ao observado em junho de 2019. O consumo aparente de R$ 12.056,19 milhões caiu 10,4% em relação a maio e 12,1% na comparação com junho de 2019.
O comércio exterior setorial também apresentou números negativos em junho. As exportações totalizaram US$ 496,69 milhões, 3,8% menos que no mês anterior e 35,1% menores que no mesmo mês de 2019.
As importações no mês de junho, no valor de US$ 915,03 milhões caíram 13,3% em comparação a maio e 32,5% na comparação com junho de 2019.
Em que pesem os números negativos de junho, a Abimaq observa que os últimos resultados têm apontado para uma queda menos brusca da receita total. Em junho, as receitas líquidas recuaram 12,4%, depois da queda em maio (14,1%) e abril (25,6%). Com esses resultados, no segundo trimestre do ano as receitas totais encolheram 17,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
A forte queda da receita total no segundo trimestre fez com que a alta de 1,5% observada no primeiro trimestre derretesse. Assim, no acumulado janeiro- junho, o faturamento do setor, no valor de R$ 56.038,22 indica recuo de 8,5% na comparação com o primeiro semestre de 2019.
A Abimaq frisa que, ainda que a receita total nos últimos três meses tenha retraído, esses resultados têm sido menos negativos a cada mês por conta das receitas internas. E destaca: em junho, as receitas internas encolheram 10,1% na comparação interanual, queda menos acentuada que a observada em maio (14,9%) e abril (26,5%). “Tal resultado reforça a hipótese de que a economia brasileira já tenha vivenciado o pior momento da pandemia. Entretanto, a sequência de resultados negativos nos últimos meses, acarretou no tombo de 17% das receitas internas no segundo trimestre, eliminando o avanço de 2,6% nos primeiros três meses do ano”, diz o relatório distribuído à imprensa. “Por isso, as receitas de vendas no mercado doméstico acumulam queda de 7,8% até junho 2020.”
EXPORTAÇÕES – Os mercados internacionais não se mostram compradores. As receitas de exportação do setor de máquinas e equipamentos apresentaram forte queda pelo quarto mês consecutivo. Em junho, as exportações, em dólar, despencaram 35,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado, após tombos de 34,7% em maio e 41,6% em abril. Dessa forma, as receitas de exportação encolheram 37,3% no segundo trimestre de 2020.
No primeiro trimestre do ano já se registrava queda de 12,8% nas receitas externas. No acumulado do primeiro semestre, as exportações somaram US$ 3.514,32 milhões, caindo 25,4%. “As exportações de máquinas têm sido o calcanhar de Aquiles na composição da receita total do setor que, mesmo antes da pandemia, já apresentava dificuldades na competição externa”, observa a Abimaq.
A dificuldade nas exportações de máquinas, potencializada pela desaceleração das economias mundiais, ocorre de forma generalizada nos diversos segmentos. No acumulado do ano, todos os segmentos registraram queda nas receitas de exportação. Entre os mais negativos estão Máquinas para logística e construção civil (43,8%), Máquinas para bens de consumo (29,3%) e Máquinas para a indústria de transformação (24,6%). “O principal ponto de atenção está nas Máquinas para logística e construção civil, cuja participação na receita de exportação total representa cerca de 25%”, diz o relatório da entidade.
A queda nas exportações no primeiro semestre ocorreu de forma generalizada nos principais destinos de máquinas e equipamentos. No acumulado janeiro-junho, as vendas em dólar para os Estados Unidos caíram 31,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Como este destino representa cerca de 30% das vendas totais, tal queda intensa impactou consideravelmente as receitas do setor.
Nesta mesma comparação, as vendas para os países da América Latina retraíram 23,9%. Atualmente, a América Latina representa 32,2% das exportações totais ante 44,6% em 2008.
A menor disposição de compra de máquinas do Brasil também foi notada nos países europeus. No primeiro semestre as exportações para a Europa recuaram 21,7%.
IMPORTAÇÕES – No Brasil, não há indícios apontando para uma saída da crise no médio prazo. Em junho, as importações de máquinas e equipamentos recuaram 32,5% na comparação interanual – a queda mais forte dos últimos três meses. Com isso, o segundo trimestre do ano fechou com queda de 26,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Entretanto, como o primeiro trimestre havia registrado forte penetração de máquinas no país, as importações acumularam saldo positivo de 6,2% entre janeiro-junho de 2020. As importações no primeiro semestre totalizaram US$ 8.055,33 milhões.
As importações por segmento mostram cenário bastante heterogêneo. No acumulado do primeiro semestre, os segmentos que mais importaram foram o de Máquinas para infraestrutura e indústria de base (94,7%) e Máquinas para logística e construção civil (6,2%). Houve também aumento na aquisição de Máquinas para petróleo e energia renovável (4,4%).
A surpresa foi ao segmento de Componentes para a indústria de bens de capital, que havia começado o ano com forte importação, mas fechou o primeiro semestre estável (0%). Os demais segmentos apresentaram queda nas importações na comparação com janeiro-junho do ano anterior.
Em máquinas e equipamentos, as importações oriundas dos EUA aumentaram de 19,8% para 29,3% no primeiro semestre de 2020. A representatividade das importações de máquinas alemãs também cresceu em relação aos seis primeiros meses do ano passado (de 12,5% para 15,7%).
Por outro lado, houve queda da participação de importações da Itália (de 6,6% para 5,9%) e da Coréia do Sul (de 2,3% para 1,6%). As compras de máquinas chinesas permaneceram constantes (18,6%), assim como originárias do Japão (4,6%).
CONSUMO APARENTE – Ainda que o faturamento do mercado interno tenha caído 7,6% em 2020, o consumo aparente (total de máquinas e equipamentos absorvidos) cresceu 7,9%, puxado pelo desempenho positivo das importações antes da crise.
Todavia, a reversão recente das importações derrubou o consumo nos últimos meses. Em junho, o consumo aparente retraiu 12,1%, após queda de 11% em maio e 9,6% em abril. O aprofundamento dos resultados negativos acarretou no encolhimento de 10,9% do consumo aparente no segundo trimestre de 2020.
“Se por um lado as vendas internas caminham para resultados menos sufocantes, as importações indicam desaceleração contínua da atividade econômica. Dado o peso dessas últimas no consumo aparente, a expectativa é de morosidade dos investimentos em máquinas no curto e médio prazo no Brasil”, indica o relatório da Abimaq.
O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) da indústria de máquinas apresentou, depois de quatro meses de pandemia, a primeira queda acentuada. A utilização da capacidade instalada desabou de 72,9% em maio para 64,6% em junho. “Este resultado reflete o arrefecimento da produção notada, principalmente, nas empresas de grande porte em razão do desaquecimento dos mercados e da dificuldade de importação de insumos”, explica o relatório.
A carteira de pedidos do setor, que iniciou o ano com média de 9,9 semanas para atendimento, registrou 9,4 semanas em junho, em linha com uma indústria operando em ritmo mais lento. “Mesmo que o setor já tenha chegado no pior momento da crise, o diagnóstico traçado aponta para uma recuperação mais lenta do que a desejada”, adverte o relatório.
Em junho, o setor registrou 295,8 mil trabalhadores. O número de pessoas empregadas foi estável em relação a maio, mas indica uma redução de 3,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Entre janeiro e junho o setor demitiu 6,6 mil colaboradores, após ter iniciado o ano com 3,1 mil contratações. (Franco Tanio)