Metade dos drones que voa no Brasil é irregular

O número de drones cadastrados no Brasil cresceu nada menos do que 150% desde 2017 até setembro deste ano, segundo dados da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac). Hoje, há no país algo em torno de 77 mil drones registrados, sendo 28 mil voltados para uso profissional e 49 mil para uso recreativo. Estima-se que o Brasil já represente em torno de 1% a 3% do total de drones comercializados em todo mundo.
No entanto, acredita-se que este número deve ser bem maior. Para Emerson Granemann, CEO da empresa MundoGEO, especializada no setor,o Brasil deve contar atualmente com mais de 150 mil equipamentos em operação, tanto para fins profissionais como recreativos.
“Há ainda muita clandestinidade neste segmento”, diz o executivo. “Pelo menos 50% dos drones que voam pelos céus do país são irregulares”. Segundo Granemann, a maioria desses drones ainda não cadastrados na Anac faz parte do contingente utilizado para uso recreacional.
Ele explica que são dois, basicamente, os motivos desta distorção. O primeiro deles, a despreocupação de fabricantes e importadores de divulgarem seus números, assim como das seguradoras, que ainda não se habituaram a abrir para o público e as autoridades qual a quantidade de drones coberta por seguros contra terceiros.
A outra razão é a falta de melhor fiscalização. A Anac e outras agências, como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e a Receita Federal, não operam juntas nesta área. A fiscalização é fragmentária e, porque os dados de cada uma não se cruzam, os resultados acabam se mostrando pouco consistentes. “Hoje é praticamente impossível saber, por exemplo, quantos drones entram no país de forma irregular”, afirma Granemann.
A ironia, segundo ele, é que o Brasil tem uma das melhores legislações do mundo neste setor, embora ela seja pouco divulgada e aplicada. As orientações não chegam aos pouco informados e a falta de melhor fiscalização facilita a vida de quem conhece as regras, mas opta por não segui-las.
“O que precisamos é ampliar as ações de educação e conscientização de todos os representantes da cadeira produtiva do setor, dos contratantes dos serviços e da população em geral”, defende o executivo. “Só assim evitaremos o contrabando, minimizaremos os acidentes e mostraremos a força deste setor que apenas cresce”.
CADEIA BEM FORNIDA – De fato, a área de drones não vem crescendo somente na quantidade de aparelhos, mas também verticalmente, em sua cadeia produtiva. A MundoGEO fez, ainda em 2015, um levantamento das empresas que atuavam na cadeia produtiva de drones no país, com o total somando 720 companhias.
Esse número logo foi superado. Em 2017 a Anac recebeu 2 mil registros de empresas dispostas e operar com drones e, até setembro de 2019, este número alcançou 4 mil. Isto representa um crescimento de 450% em relação a 2015 e de 100% em relação a 2017.
A cadeia produtiva dos drones é ampla. É formada não só pela fabricação do equipamento (incluindo sua tecnologia embarcada, como os sensores especiais), mas também pelos serviços de venda e consultoria, pelos sistemas de pós-processamento dos dados coletados e por uma infinidade de prestadores de serviços nas áreas de agricultura, manejo florestal, mineração, mapeamento, segurança e entretenimento entre outras. Diga-se que a prestação de serviços é a que gera, atualmente, a principal fatia de faturamento do setor.
Na área produtiva, o Brasil já tem vários fabricantes de drones profissionais de asa fixa, tidos como de muito boa qualidade, como a paulista Xmobots e a catarinense Horus, que inclusive já exportam seus produtos, principalmente para a América Latina. Os drones importados mais presentes aqui são os da chinesa DJI e da suíça SenseFly. Mas os drones importados são um tanto caros por causa do câmbio. O valor de um importado para uso profissional gira hoje em torno de US$ 9.200 e os de uso recreativo, US$ 1.200, mas no Brasil esses valores duplicam. (Alberto Mawakdiye)