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Migração das pequenas e médias empresas para a Indústria 4.0 tem de ser criteriosa

Fundada na Alemanha em 1980, a Beckhoff Automation é uma das mais avançadas no que diz respeito à adaptação de estruturas produtivas aos conceitos da Indústria 4.0. Já em 1986 a empresa criou o primeiro controle de máquinas utilizando um PC, o que, para a época, era algo inovador e ousado.

A tecnologia dominante, para controle, eram os tradicionais PLCs e CNCs. E, ao longo desses mais de 30 anos, a companhia continuou à frente no desenvolvimento da Tecnologia de Controle no PC.

“Esse hardware padronizado e aberto tem uma enorme capacidade computacional, pois foi desenvolvido para um mercado consumidor bem exigente no que se refere ao desempenho”, diz Marcos Giorjani, diretor da filial brasileira da Beckhoff. “É natural que ele seja o mais apto para atender os requisitos de toda a Indústria 4.0, e não apenas da IoT”.

Giorjani atua no segmento de automação desde 1984, tendo iniciado a carreira desenvolvendo aplicativos para PLCs. Integrou o time de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa Allen-Bradley, parceira histórica da inovadora Metal Leve, passando depois por outras diversas áreas. Tem MBA em Marketing.
Para ele, há um enorme mercado potencial para a Indústria 4.0 nas pequenas e médias empresas brasileiras, mas a migração tem de ser feita com precisão e cercada de cuidados, para que os investimentos não se percam.

A seguir, trechos da entrevista.

Pesquisa e desenvolvimento
A inovação sempre foi uma característica predominante da Beckhoff. Utilizar o PC como plataforma de controle permite que nossas pesquisas sejam focadas na constante criação de produtos e soluções capazes de revolucionar a tecnologia da automação. Claro, nós nos beneficiamos do fato de a Intel e a Microsoft garantirem um contínuo desenvolvimento não apenas do hardware do PC, com novos e mais poderosos processadores, mas também dos sistemas operacionais dos hardwares. 

Atualmente a Beckhoff investe algo em torno de 10% de seu faturamento em ciência e tecnologia. A empresa hoje conta com mais de 400 profissionais focados em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Assim, pudemos desenvolver produtos como PCs industriais com uma ampla gama de opções em capacidade computacional e de tamanhos reduzidos, um sistema para interface modular e compacto, a rede de controle mais rápida do mercado e assim por diante.

Bom desempenho
Em 2017, a Beckhoff faturou mais de 800 milhões de euros e teve um crescimento de 19% em relação ao ano anterior. Desde nossa fundação crescemos numa média de 16% ao ano. Para este ano o crescimento global deve ficar acima, mas próximo, desse valor médio. No Brasil estamos apresentando resultados positivos desde que a filial foi fundada, em outubro de 2006. O ano de 2016 foi o de menor crescimento, mas em 2017 atingimos um crescimento de 35% e esperamos algo um pouco maior para este ano.

A razão dessa curva constante de crescimento, tanto no mercado global quanto no mercado local, deve-se, principalmente, à migração de tecnologia que os usuários estão fazendo. Essa migração significa deixar de usar a tecnologia tradicional de controle, como PLCs e CNCs tradicionais, e passar a utilizar a Tecnologia de Controle no PC que apresenta vantagens como total liberdade de escolha dos componentes e uma conectividade ampla e irrestrita.

O Brasil é importante para nós não só como mercado em si, mas também porque é uma óbvia plataforma de negócios para o restante da América do Sul. Já temos distribuidores na Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Uruguai, Equador e Colômbia, com a estrutura de suporte para estes distribuidores centralizada no Brasil.

Indústria 4.0 no Brasil
A Indústria 4.0 nasceu na Alemanha. E pode ser considerada mesmo a 4ª. Revolução Industrial. Um dos seus objetivos na Alemanha é a chamada “massificação da personalização”, ou seja, produção em massa de itens personalizados. Os seus pilares e conceitos já correram o mundo, alcançando também o Brasil. Percebemos que o mercado de digitalização dos processos produtivos tende a ser considerável no Brasil, que conta com um número muito grande de pequenas e médias empresas.

O problema é que, por aqui, a maioria das empresas está considerando que apenas a IoT é suficiente para a entrada no mundo da Indústria 4.0. Este é um conceito errado e fora da realidade.

Achamos que, no caso das empresas brasileiras, o ideal seria entrar no mundo da produção digital de forma racional, com uma tecnologia que protegesse o investimento e permitisse que os sistemas produtivos evoluíssem à medida que fosse percebida a necessidade de novas funcionalidades. É utopia achar que é possível transformar da noite para o dia as pequenas e medias empresas brasileiras em estruturas produtivas que atendam a massificação da personalização, como pretende a Indústria 4.0 alemã, com investimentos proibitivos.

Consultoria
Temos observado que principalmente o pequeno empresário brasileiro precisa quase sempre de uma consultoria técnica para melhorar e otimizar os seus processos. Dificilmente ele consegue identificar por conta própria os pontos de melhoria em processos e procedimentos, de forma a poder produzir mais otimizando os recursos. Essa é uma etapa que deve ser feita antes da automação, pois essa análise vai indicar onde e como fazer a correta coleta de dados para que seja possível a medição dos indicadores de produtividade. Saber como a produção se comporta e conhecer as limitações é fundamental para aplicar as ações de melhoria.

A tarefa é bastante facilitada com a coleta de dados através da Tecnologia de Controle baseado em PC. É o primeiro passo para a implantação de uma gama de melhorias, que têm, no entanto, de serem adicionadas de forma correta e eficaz. Por isso, a definição da tecnologia utilizada para esta primeira etapa é extremamente importante para que não haja desperdício de recursos financeiros, pois a escolha correta de como começar a digitalização dos processos produtivos permitirá a constante evolução sem perda de investimento.

Costumamos dizer que “implantar a IoT” em uma fábrica não vai colocá-la na Indústria 4.0. Mas nada impede que uma empresa já vá escolhendo uma tecnologia que permita a ela implantar a IoT numa etapa futura, sem que tenha de reinvestir uma fortuna. Por esta razão é que a Tecnologia de Controle no PC é a que melhor atende as necessidades da pequena e média empresa. Pois se existe uma possibilidade de implantar mais recursos desde o início do processo, então, pode-se implantá-los. Mas se essas funcionalidades não são necessárias num primeiro momento, mas podem vir a sê-las futuramente, basta implantar essas funcionalidades no hardware existente sem precisar trocar depois esse hardware.

Integração
Um diferencial da Tecnologia de Controle no PC é que ela já é integrada à TI, e assim os dados coletados podem ser facilmente transportados para os servidores, que farão a análise desses dados. Na verdade, os próprios PCs usados na coleta poderão fazer essa análise, a partir da qual as melhorias serão posteriormente implantadas.

É sempre possível, também, optar pela melhoria de máquinas e processos através de reformas. Aqui é que aparece outra grande vantagem da Tecnologia de Controle no PC, pois o mesmo PC instalado para fazer a coleta dos dados pode ser utilizado para substituir os controladores existentes nas máquinas. Isso representará uma proteção do investimento inicial, pois a melhoria das máquinas e processos poderá ser obtida quase sem a necessidade de se adquirir hardwares adicionais.

Diferentes aplicações
A flexibilidade da tecnologia de controle baseada em PC permite desenvolver aplicações nos mais diversos segmentos. A Beckhoff atende áreas que vão desde a automação predial – o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro é uma boa referência nesse segmento -, até o de máquinas operatrizes, passando pelo setor de energia, como a hidrelétrica e a eólica. Perto de 70% dos aerogeradores instalados no Brasil são controlados com a nossa tecnologia.

Na verdade, o setor de energia foi o que mais se destacou no ano passado para a Beckhoff no Brasil. Nossos planos de expansão preveem ações diretas junto de clientes finais, fabricantes de máquinas e integradores de sistemas, que formam o tripé para o desenvolvimento do nosso mercado. Vemos o Brasil, mesmo em crise, como um país extremamente promissor para os nossos negócios. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação)

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