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O comércio e a paz

José Pio Martins (*)

O hábito de fazer perguntas é útil para aumentar o conhecimento e o desenvolvimento pessoal e profissional. Na história da humanidade, uma pergunta essencial é: por que houve tantas guerras no mundo? A quantidade de guerras e o número de pessoas mortas ou mutiladas formam um quadro assombroso de sangue e terror. Grosso modo, não é difícil dar duas ou três explicações, mas, em termos mais profundos, considerando os custos econômicos e as vidas exterminadas, chega a ser incompreensível que a humanidade tenha feito tantas guerras entre nações e produzido tantas mortes.

A mesma pergunta pode ser feita sobre duas outras tragédias humanas: uma, as guerras internas entre membros de um mesmo povo, uma mesma nação; outra, o número descomunal de mortes executadas pelos regimes comunistas. Se conseguirmos entender as principais causas desses eventos sanguinários, podemos melhorar o debate sobre ações e políticas capazes de combater a possibilidade de sua ocorrência.

Zbigniew Brzezinski (1928-2017), estrategista de política externa que foi Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos na gestão do presidente Jimmy Carter, entre 1977 e 1981, fez um relatório chamado As Megamortes e listou 243 conflitos militares no século 20, que teriam resultado em 187 milhões de mortos. Esse total foi contestado porque nele constavam 20 milhões de mortos pelo regime comunista chinês de Mao Tsé-Tung, de 1949 a 1976, quando relatórios posteriores dizem que foram 70 milhões de mortos. Assim, as megamortes seriam 237 milhões, sendo 50 milhões nas duas guerras mundiais e 100 milhões de mortos pelos regimes comunistas ao redor do mundo.

Entre as causas das guerras geralmente são citadas duas: (1) a conquista de territórios; (2) o desejo de poder e dominação. Para entender essas duas causas, é preciso recorrer à história. Um dia a humanidade foi nômade e movia-se de um lugar a outro em busca de pesca, caça e coleta. Quando escasseava a fonte de peixes, animais e frutas, as famílias se mudavam para outras terras em busca de alimentos, até que, há 10 mil anos, a agricultura foi descoberta e tornou possível a fixação dos povos em determinado lugar. Com o passar dos séculos, o crescimento da população e a exaustão da terra, a busca de novos territórios tornou-se causa de invasões de terras habitadas.

Muitas vidas humanas foram exterminadas em nome da conquista de territórios e a busca de meios de sobrevivência. Imaginemos dois países, um que tem petróleo mas não tem alimentos, e outro que produz alimentos mas não tem petróleo. Se ambos desejarem alimentos e petróleo, um pode invadir o outro, tomar seu território e se apossar de suas riquezas. Não são poucas as invasões e as guerras feitas com base nessa ideia. É nesse contexto que entra um tema econômico da maior relevância: o comércio entre as nações.
Diante da guerra, o próprio Karl Marx era influenciado pelas ideias liberais de Manchester, que em um congresso declarou que num mundo de livre comércio não há mais razão para as nações lutarem umas com as outras. Se existe o livre comércio e toda nação pode aproveitar os produtos de todas as outras, a causa mais importante para a guerra desaparece.

Neste início de 2019, um dos temas principais no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, é o comércio internacional. Quanto mais as nações ampliarem o comércio multilateral não somente de mercadorias, mas também de serviços, tecnologias, investimentos e capitais, maiores serão as possibilidades de obter vantagens mútuas em favor do crescimento econômico e do desenvolvimento social.

Os países são dotados de recursos naturais diferentes, tornando útil a expansão das trocas comerciais entre as nações. Ocorre que o comércio internacional atual abarca um leque muito maior do que matérias-primas naturais e os produtos delas derivados, para incluir serviços, capitais, tecnologias e um turbilhão de inovações. Parte da pobreza brasileira resulta de o país ter retardado sua inserção no mercado internacional, criado monopólios e inventado reservas de mercado, como a da informática. Ainda hoje o grau de inserção externa do Brasil é pequeno, e ampliá-lo de maneira eficiente, com bons tratados, fará bem ao país.
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(*) O autor é reitor da Universidade Positivo.

FONTE: IPESI

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