O mercado de smartphones da América Latina recua 4% no primeiro trimestre

O mercado latino-americano de smartphones contraiu 4% em relação ao mesmo período do ano anterior no primeiro trimestre de 2025, encerrando uma sequência de seis trimestres de crescimento, com remessas totais atingindo 33,7 milhões de unidades, de acordo com a pesquisa mais recente da Canalys, agora parte da Omdia.
A Samsung manteve o primeiro lugar com crescimento de 7% em relação ao ano anterior, enviando 11,9 milhões de unidades, impulsionada pela forte demanda por seus modelos básicos A06 e A16, que representaram quase metade de suas remessas. Esse desempenho reforça o foco estratégico da empresa em defender sua posição no segmento de baixo custo e combater a pressão de concorrentes emergentes, impulsionados pelo preço.
A Xiaomi garantiu o segundo lugar pelo segundo trimestre consecutivo, com 5,9 milhões de unidades e crescimento de 10%, impulsionada pelo sucesso contínuo de suas séries Redmi 14C 4G e Note 14, reforçando sua estratégia no segmento de preços de US$ 100 a US$ 299.
A Motorola caiu para a terceira posição após uma queda de 13%, para 5,2 milhões de unidades, já que sua dependência de ofertas de baixo custo, como o G15 e o G05, limitou sua competitividade.
A Honor subiu para a quarta posição, com crescimento de 2% e 2,6 milhões de unidades vendidas, mantendo o forte impulso de sua linha da série X.
A Transsion caiu para a quinta posição, com uma queda de 38% nas vendas, para 2,1 milhões de unidades, sua primeira queda na região, em meio à intensificação da concorrência e prováveis ajustes no estoque do canal.
“A incerteza econômica, particularmente o medo de aumentos de tarifas, pesou fortemente sobre o mercado de smartphones da América Latina no primeiro trimestre de 2025”, diz Miguel Pérez, analista sênior da Canalys. “Os fornecedores recuaram em estratégias agressivas de vendas, os varejistas reduziram os níveis de estoque e os consumidores adiaram atualizações não essenciais, prolongando o ciclo de substituição. Após um período de rápida expansão dos fornecedores para mercados inexplorados como América Central e Equador, essa correção era esperada. Os fornecedores agora enfrentam um cenário mais desafiador em meio à demanda mais fraca, à intensificação da concorrência e ao aumento dos riscos de estoque.”
No primeiro trimestre de 2025, o mercado regional de smartphones apresentou forte polarização, com o crescimento confinado principalmente aos segmentos de entrada e premium. Apesar do aumento dos custos, as marcas continuam investindo no segmento abaixo de US$ 100 para permanecerem acessíveis a compradores sensíveis a preço.
Samsung e Apple mantêm o domínio no segmento de ponta, impulsionadas pela forte demanda pelas séries S25 e iPhone 16. No entanto, o segmento intermediário, que representa 78% do total de remessas, continua sendo o principal campo de batalha. Este segmento equilibra acessibilidade e desempenho, atraindo tanto usuários de ponta quanto usuários comuns. Como o crescimento nas extremidades se mostra insuficiente, a concorrência neste segmento se intensificará até 2025, com os fornecedores se concentrando na lucratividade e no posicionamento de longo prazo em um mercado em crise.
O Brasil, que representa 28% do total de envios para a região, foi o único mercado entre os cinco principais mercados regionais que apresentou crescimento anual no primeiro trimestre de 2025, conseguindo aumentar suas remessas em 3%, atingindo 9,5 milhões de unidades, impulsionado pelo aumento do investimento de marcas chinesas como Honor, Xiaomi e realme.
O México foi o segundo maior mercado da região em número de dispositivos enviados, respondendo por 22% do volume total de envios. No entanto, suas remessas de dispositivos registraram uma contração de 18%, marcando duas quedas consecutivas. Essa queda é atribuída à intensa concorrência entre os players do mercado local, que, em 2024, impulsionaram a renovação de dispositivos nos segmentos de entrada a médio porte. Isso levou a um aumento nos estoques, o que dificultou a retomada mais agressiva da reposição de novos dispositivos pelos canais de vendas.
A América Central, que em 2024 consolidou sua posição como o terceiro mercado mais importante da região, registrou queda em suas remessas pela primeira vez em sete trimestres, caindo 7% ano a ano no primeiro trimestre de 2025. Isso também se deveu ao acúmulo de estoques, impulsionado principalmente por marcas emergentes como Transsion.
Os mercados colombiano e peruano ficaram em quarto e quinto lugares na América Latina, respectivamente. Eles mantiveram a tendência irregular do ano passado, apresentando leve queda no primeiro trimestre de 2025, apesar de terem começado o ano com crescimento econômico. No entanto, espera-se que seu desempenho melhore nos próximos trimestres, à medida que o consumo se recupera.
“A Canalys projeta uma contração de 1% no mercado latino-americano de smartphones em 2025”, acrescentou Pérez. “Como uma região emergente, a América Latina permanece altamente vulnerável a ventos contrários globais, particularmente às tensões entre EUA e China, que podem desencadear inflação e volatilidade cambial. Combinadas com a incerteza socioeconômica regional e o potencial impacto de novas tarifas americanas, essas pressões provavelmente reduzirão os gastos, especialmente no segmento de entrada, que constitui a espinha dorsal do mercado latino-americano de smartphones. Isso pode levar a um maior acúmulo de estoques e a uma maior pressão sobre os fornecedores.”
“As mudanças comportamentais observadas no primeiro trimestre de 2025 já apontam para mudanças estruturais mais profundas que os fabricantes não podem mais ignorar”, observou Pérez. “O sucesso neste ano dependerá da manutenção de estratégias de estoque enxutas e responsivas em segmentos de alta rotatividade, além do fortalecimento das propostas de valor em todas as linhas de produtos. Os fornecedores que equilibrarem disciplina operacional com inovação direcionada estarão mais bem posicionados para navegar pela volatilidade do mercado. Em um cenário em que os padrões tradicionais de crescimento estão sendo redefinidos, a otimização do portfólio, o marketing preciso e a experiência aprimorada do consumidor serão essenciais para se manter competitivo.” (Franco Tanio)