Pessoas com deficiência terão mais acessibilidade aos meios de comunicação digitais
Pelo menos na cidade de São Paulo, a notória dificuldade de acesso que os portais de internet dos órgãos do governo oferecem às pessoas com deficiência começa a ser combatida no lugar certo – dentro da própria tecnologia.
Depois de a Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo (Prodam) ter lançado um CD-Rom para promover a acessibilidade digital das pessoas com deficiência e, em seguida, lançado um selo de acessibilidade para os órgãos públicos e empresas cujos sites facilitem a navegação para os deficientes, agora é a vez da própria Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência entrar nesta seara.
A pasta lançará, no próximo mês de maio, o Selo de Acessibilidade Digital, uma certificação que será concedida às empresas públicas (ou privadas, caso elas queiram) que adaptarem seus meios de comunicação digitais – principalmente os websites – às pessoas com deficiência, seja ela mental, motora, visual ou auditiva.
O selo será concedido conjuntamente pela secretaria e pelo respeitável Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que entrou como instituição parceira no projeto. Caberá ao Centro de Tecnologia da Informação, Automação e Mobilidade do instituto a responsabilidade de avaliar se os sites e portais realmente atendem a parâmetros de acessibilidade para os usuários.
“Somos mais de 45 milhões de brasileiros, ou pouco menos de 25% da população, com algum tipo de deficiência e, como todos, somos peças do desenvolvimento social do país”, disse o secretário Cid Torquato (na foto, à direita), que também é deficiente físico, na cerimônia de lançamento da certificação, realizada no último dia 20 de março na sede do IPT, na zona oeste de São Paulo. “Por isso, a questão da acessibilidade, tanto a arquitetônica quanto a digital, é básica e estrutural tanto para as empresas quanto para o poder público”.
O lançamento do selo aconteceu durante o evento “Desafios da Acessibilidade Digital”, que contou também com a presença do presidente do IPT, Fernando Landgraf (na foto, à esquerda). Para Landgraf, o selo contribuirá não só para aumentar o grau de acessibilidade digital dos deficientes, como a sua própria acessibilidade social. “Hoje, com o desenvolvimento da internet, uma coisa, sem dúvida, está ligada a outra”, disse.
FERRAMENTAS – Para participarem do programa, os órgãos públicos e as empresas privadas terão de obter, de saída, uma nota mínima de 95% de acessibilidade para o seu portal. Só depois de atingida essa marca – com o compromisso de buscarem a acessibilidade total – eles poderão solicitar o selo propriamente dito, em nome de algum órgão da administração pública ou, no caso das empresas, de pessoas físicas ou jurídicas.
O website será então novamente avaliado pela equipe técnica especializada em acessibilidade digital do IPT. Caso ele seja aprovado em todos os critérios, o website receberá finalmente o selo de acessibilidade. Caso ainda haja falhas, elas terão de ser sanadas conforme as normas utilizadas pela equipe técnica.
De acordo com Sidney Tobias de Souza, da equipe da Comissão Permanente de Acessibilidade da secretaria, que cuidará dos aspectos práticos do projeto pelo lado da prefeitura, as exigências para a concessão do selo serão de cunho principalmente tecnológico, já que a adaptação dos meios de comunicação digital às necessidades dos deficientes passa, basicamente, pelo uso de determinadas ferramentas.
Esse processo de adaptação pode ser trabalhoso. Um site planejado para atender a pessoas com qualquer tipo de deficiência deve, além de ser bem planejado – pois há sites do governo tão intrincados que tornam a navegação difícil para qualquer um – também contar com ferramentas dentre as quais algumas podem ser bastante específicas. As mais usadas são o uso de contrastes para a leitura de textos e o jogo com o tamanho das fontes. É comum ainda a utilização de descrições textuais das imagens, para auxiliar pessoas com deficiência visual.
Para Souza, a criação de portais acessíveis pode beneficiar não só os cidadãos, mas também os próprios órgãos públicos e empresas. “É claro. Pois isso aponta para a responsabilidade social, aumenta o público visitante e fortalece a marca”, afirma. “Garantir a acessibilidade não é apenas uma ação de cunho social, mas também uma necessidade organizacional”.
Diga-se que esse novo projeto de inclusão da prefeitura paulistana pode ter reflexos na própria indústria de equipamentos. Um destaque do evento “Desafios da Acessibilidade Digital” foi a palestra de Marcelo Anjos, pesquisador do Samsung Instituto de Desenvolvimento para a Informática (Sidi), que apresentou os resultados de uma pesquisa sobre o uso de smartphones por pessoas deficientes.
O material levantou os requisitos necessários para que os aplicativos sejam considerados acessíveis em termos de interface, interação e navegação. O pesquisador também apontou as responsabilidades de cada ator do processo de desenvolvimento de aplicativos, desde programadores até designers.
“A nossa pesquisa mostrou que as pessoas não querem aplicativos específicos de acessibilidade, elas querem mais acessibilidade dos aplicativos em geral”, disse. “Isso exige um esforço de equipe, de todos os atores da cadeia de desenvolvimento”. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação)