Produção da indústria ferroviária sofre queda

A indústria ferroviária brasileira não tem, definitivamente, o que comemorar. De acordo com o Anuário 2018 da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgado no último dia 13 de agosto, apenas 81 locomotivas foram produzidas no ano passado no Brasil. É, simplesmente, o menor volume dos últimos quatro anos.
A queda – um reflexo da falta de encomendas, motivada pela atual crise econômica e pela retenção dos investimentos por boa parte da clientela – foi de 25,7% na comparação com a produção do ano anterior, quando as empresas fabricaram 109 locomotivas. Em 2015, um ano de produção recorde no país, foram 129 unidades.
Na verdade, 2015 foi o ponto culminante de um “boom” que começou na virada deste século. O país tinha então uma produção insignificante de locomotivas – as eventuais carências eram supridas pela importação. Entre 2001 e 2005, a soma de unidades fabricadas chegou a somente 15.
Mas a coisa foi melhorando aos poucos, com investimentos em novos parques fabris e o aumento da demanda por transporte ferroviário principalmente pelo agronegócio e pelo setor de mineração. Em 2010, foram produzidas 68 máquinas, volume que alcançou 113 no ano seguinte.
A participação das ferrovias na matriz de transporte brasileiro, evidentemente, acompanhou este crescimento, tendo já chegado, segundo alguns levantamentos, à casa dos 20%. Isso explica outro dado da CNT, de que entre 2016 e o ano passado houve um aumento de 21,2% no total de locomotivas em operação – incluindo as novas e as já em uso.
No total, 3.688 unidades estavam em operação em 2017, ante as 3.043 do ano anterior. O estudo também mostra que houve um aumento de 10% no volume de toneladas transportadas por quilômetro no mesmo período, e um aumento de 8,2% na movimentação de cargas em 2017 em relação ao ano anterior.
O problema é que muitas locomotivas já velhas estão sendo mobilizadas para dar conta desta demanda acrescida, de resto insuficiente, ainda, para justificar a compra de novas máquinas em número satisfatório para a indústria ferroviária.
PASSAGEIROS – Naturalmente, a queda na produção afetou também as linhas de montagem especializadas em vagões. Neste segmento, a queda foi de 26,3%, uma porcentagem negativa quase igual à registrada pela área de locomotivas, aliás. Foram fabricados 2.878 vagões em 2017, diante das 3.903 unidades do ano anterior.
Diga-se que, apesar dessas más notícias, o cenário não chega a ser catastrófico – pelo menos por enquanto. Ao que se saiba, ainda nenhuma indústria do setor, mesmo entre os pequenos fornecedores, fechou suas portas. No máximo, algumas empresas reduziram o ritmo da produção, de modo a adaptá-la à menor demanda.
O número de trabalhadores, curiosamente, aumentou, ao contrário do que aconteceu no restante da indústria de transformação. Nada menos do que 43.382 pessoas fecharam o ano de 2017 empregadas direta ou indiretamente no setor ferroviário – mais que as 40.234 do ano anterior. O fato, algo paradoxal, é explicado pelo volume de encomendas ainda não consumadas por várias fabricantes.
Diga-se que o cenário na indústria voltada para a fabricação de carros ferroviários de passageiros é bem mais sombria. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), não há uma única encomenda para o ano que vem de carros de metrô, suburbanos e Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs).
“Isso poderá acentuar as dificuldades do setor e gerar demissões”, adverte Vicente Abate, presidente da entidade. “Algo precisa ser feito, como a criação de linhas de financiamento de longo prazo com taxas competitivas, de modo a estimular as operadoras de passageiros sobre trilhos a ampliar e modernizar suas frotas de trens”.
Abate garante que há uma enorme demanda deprimida na área de transporte de passageiros sobre trilhos. De fato, segundo um levantamento feito pela Abifer, haveria uma demanda de pelo menos 560 carros de passageiros para serem modernizados nos sistemas metroferroviários do Distrito Federal, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. E há vários projetos parados ou em câmera lenta em São Paulo.
“Esse volume, além de garantir a qualidade do transporte nas capitais, poderia ser a solução para que as fábricas não fiquem ociosas no ano que vem”, diz Abate, acrescentando que várias indústrias brasileiras também deverão participar em 2019 de uma concorrência pública aberta pelo governo da Argentina para a compra de 169 trens, com 8 carros cada um, para o sistema metropolitano de Buenos Aires.
A Abifer estima que este ano a produção de carros de passageiros seja de 298 unidades. Em 2017 foram 312 unidades. Mas algumas empresas estão em atividade febril. A Bombardier, por exemplo, está trabalhando com afinco na modernização de carros das linhas 1-Azul e 3-Vermelha do metrô de São Paulo.
A Hyundai-Rotem deve concluir a entrega dos 30 trens para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) no fim desse ano, assim como a CAF, que já está finalizando a entrega de 35 trens também para a CPTM. Já a Alstom prossegue na produção de 6 trens de 8 carros para a SuperVia, do Rio de Janeiro, trabalhando ainda em um projeto de novos trens para o metrô de Santiago, no Chile. (Alberto Mawakdiye)
Fonte: Ipesi