Metal Mecânica

Produção de veículos deve aumentar em 2019

O ano de 2019 começou com boas e más notícias no universo da indústria automotiva brasileira, ainda a principal do país, dada a quantidade de montadoras presentes – hoje, praticamente todas as maiores fabricantes mundiais possuem fábricas no Brasil – e a grande extensão de sua cadeia produtiva (só pensar nas autopeças, nos vidros, no aço, nos plásticos) e capacidade de geração de empregos.

Primeiro, a norte-americana GM entrou 2019 ameaçando simplesmente deixar o país. O principal executivo da empresa no Mercosul, Carlos Zarlenga, divulgou comunicado aos funcionários segundo o qual, após a GM ter registrado perdas por três anos seguidos, “2019 será decisivo para a continuidade da operação local”, deixando entrever que a montadora avaliava sair do Brasil. Estava em jogo também uma difícil negociação com os trabalhadores da GM de São José dos Campos (SP).

Em fevereiro, foi vez de a também americana Ford anunciar, em um seco comunicado, que pretende fechar a planta de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde fabrica os caminhões da marca e o hatch Fieste, até o final do ano. A Ford explicou que a saída do mercado de caminhões seria um “importante marco para o retorno à lucratividade sustentável de suas operações na América do Sul”.

O RECUO DA GM – Mas as más notícias pararam por aí (embora boatos meio assustadores, como o possível fechamento de uma fábrica da Mercedes-Benz, tenham continuado a circular com alguma força). E elas mesmas acabaram se transformando em notícias boas. A GM conseguiu se entender com seus trabalhadores, e a fábrica da Ford provavelmente deverá passar às mãos de outra montadora – a principal candidata é a Caoa, que produz veículos da coreana Hyundai e da chinesa Chery e é também, há décadas, o maior distribuidor brasileiro da Ford.

Inclusive, o recuo da GM foi acompanhado por uma ótima e surpreendente notícia. O mesmo Carlos Zarlenga, chefão da marca no Mercosul,  anunciou que a GM irá investir R$ 10 bilhões, entre 2020 e 2024, nas fábricas de São José dos Campos e no ABC, com os recursos sendo destinados a novos produtos. E que a GM não só vai manter os 15 mil empregos atuais nas duas unidades, como irá criar mais 1,2 mil vagas (400 diretos e 800 indiretos).

MERCADO EM ALTA  – É provável que a decisão da GM de não apenas desistir de deixar o país, como também, pelo contrário, investir pesado em um período mais ou menos longo, tenha sido sacramentada depois de os executivos da montadora terem dado uma olhada nas previsões da Anfavea, a entidade do setor, para 2019. São para lá de otimistas.

A Anfavea estima um aumento de 11,4% nos vendas de veículos em 2019, com a comercialização de 2,86 milhões de unidades, com a produção devendo chegar em 3,14 milhões de unidades, o que significa um aumento de 9%. “A nossa expectativa é de mais um ano de crescimento, exceto nas exportações”, informou Antonio Megale, o presidente da associação dos fabricantes, atribuindo o pessimismo para com o mercado externo à crise da Argentina, a maior compradora de carros brasileiros.

LUZES DO ORIENTE – E não é apenas a GM que se dispôs a investir. Do Extremo Oriente, por exemplo, chegaram reconfortantes fachos de luz para iluminar aqueles que já desacreditavam em alguma retomada da indústria brasileira no correr deste ano.

A coreana Hyundai, por exemplo, fará um aporte de R$ 125 milhões na fábrica de Piracicaba (SP). O principal objetivo é ampliar a capacidade produtiva da unidade de 180 mil veículos/ano para 210 mil.

Os recursos, de acordo com a empresa, serão empregados em melhorias nas operações e aquisição de novos equipamentos de alta tecnologia, incluindo robôs, que irão permitir o aumento do volume de produção, passando de 36 veículos por hora para 42 veículos por hora, com a fábrica funcionando em três turnos.

“O volume adicional de 30 mil veículos vai atender prioritariamente o mercado brasileiro, respondendo às perspectivas de crescimento do setor automotivo”, resumiu o presidente da Hyundai do Brasil, Eduardo Jin.

Já a japonesa Honda realizou no final de março a cerimônia oficial de inauguração de sua segunda fábrica de automóveis no país, em Itirapina, no interior de São Paulo. Com investimento total de aproximadamente R$ 1 bilhão, incluindo a aquisição do terreno, compra de equipamentos e construção do prédio administrativo, a fábrica de Itirapina tem capacidade nominal de 120 mil unidades ao ano, em dois turnos, devendo empregar cerca de 2 mil funcionários.

“Essa nova unidade, mais eficiente e produtiva, é para fortalecer nossa estrutura de produção e demonstra o compromisso de longo prazo da marca com o Brasil”, disse na cerimônia Issao Mizoguchi, presidente da Honda South America.

DUPLAMENTE FLEXPor sua vez, a também japonesa Toyota parece ter decidido tornar o Brasil uma de suas principais plataformas produtivas no mundo. A empresa anunciou que espera atingir no Brasil, em 2019, um volume de produção de 225 mil veículos, 7,6% maior do que o fabricado em 2018, quando 209 mil unidades saíram das linhas de montagem – um recorde para a companhia. Em 2018, a Toyota, concluiu um ciclo de três anos no qual despendeu mais de R$ 2,6 bilhões em investimentos.

Mas não vai parar por aí. A fábrica da Toyota em Indaiatuba (SP) será encarregada da produção do o novo Corolla brasileiro, que será o primeiro veículo do mundo a ser equipado com propulsão híbrida flex. A produção deverá começar a partir do mês de outubro.

O projeto receberá investimento de R$ 1,6 bilhão e deverá gerar 900 empregos diretos. A planta de Indaiatuba também vem sendo modernizada desde setembro do ano passado, quando foi anunciado investimento de R$ 1 bilhão na unidade. “Estamos juntando duas tecnologias limpas, a tecnologia elétrica hibrida e a do etanol”, comemora Rafael Chang, presidente da Toyota Brasil.

E O PUMA RESSURGE – Já a fábrica da alemã Volkswagen em São José dos Pinhais (PR) recebeu investimentos de R$ 2 bilhões para iniciar a produção do T-Cross, primeiro SUV produzido pela montadora no Brasil e que chegará ao mercado nacional neste primeiro semestre. O novo modelo será exportado para toda a América Latina e países de outros continentes. A Volks também está modernizando seu setor de ferramentaria.

Mas a grande novidade da indústria automobilística brasileira é mesma a volta do Puma, carro esportivo nacional que fez sucesso nos anos 1960 e 1970. A fabricante, Puma Automóveis, retomou as atividades em 2017 e está construindo uma fábrica e um centro de desenvolvimento e engenharia em Botucatu (SP).

De acordo com Luiz Carlos Gasparini Alves da Costa, presidente da empresa, o objetivo é que a fábrica de Botucatu seja também um núcleo exportador de tecnologia. “A expectativa é que sejam gerados cerca de 150 empregos na fase inicial das atividades”, afirma o executivo.

CAMINHÕES E ÔNIBUS – Também há novidades no mercado de ônibus e caminhões. A Volvo, de origem sueca, entrou em 2019 anunciando investimentos de R$ 250 milhões no país e a contratação de 300 novos funcionários. Esses R$ 250 milhões serão investidos até o final de 2020 e são adicionais ao R$ 1 bilhão programado para o período 2017-19. A Scania, outra fabricante sueca de pesados, também pretende incrementar a produção.

De seu lado, a brasileira Marcopolo deu início às operações em seu novo centro de fabricação de componentes e subconjuntos metálicos, erguido em Caxias do Sul (RS). A planta, considerada a mais moderna da companhia, foi instalada para centralizar a produção e montagem de peças e subconjuntos que compõem as carrocerias dos ônibus, tarefa que era antes executada em diferentes locais.

Do investimento previsto de cerca de R$ 70 milhões, a empresa já despendeu R$ 30 milhões na nova unidade de produção. A fábrica contará inicialmente com 180 funcionários e reúne o que há de mais avançado em termos de instalações, equipamentos e processos.

Também já entrou em operação na fábrica de caminhões da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a nova linha de produção de cabines baseada nos conceitos da Indústria 4.0 – outro forte investimento em tecnologia.

O setor conta com os principais pilares da chamada quarta revolução industrial, como tecnologia digital, conectividade, dados na nuvem, Big Data e Internet das Coisas. É o segundo departamento da fábrica da Mercedes a utilizar os conceitos 4.0, que já estão implantados há quase um ano na linha de montagem dos caminhões.  (Alberto Mawakdiye)

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