Setor de eletroeletrônicos recua 24% de janeiro a maio; Eletros espera recuperação parcial
Com expectativa de recuperação parcial dos resultados no segundo semestre, o setor de eletroeletrônicos e eletrodomésticos apresenta retração de 24% nas vendas ao varejo nos primeiros cinco meses de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado. Foram comercializados 31,49 milhões de unidades de produtos neste ano, contra 38,99 milhões em igual período de 2021. Os dados, compilados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos, a Eletros, e foram anunciados na edição de 2022 da Eletrolar Show, feira do setor no país que reúne fabricantes da indústria e do varejo. Primeira edição presencial desde o início da pandemia, o evento reúne mais de 700 marcas expositoras, que levarão à feira mais de 10 mil produtos e cerca de 2 mil lançamentos.
“Esperamos uma recuperação moderada dos resultados no segundo semestre, período que concentra a sazonalidade das vendas para o nosso setor por conta de datas importantes para o varejo como a Black Friday e o Natal. A própria realização da Eletrolar Show, que neste ano conta com 13 de nossas 34 associadas, ou seja, o dobro de participantes da última edição em 2019, é um sinal claro de que nossos empresários estão confiantes, apesar de um cenário macroeconômico bastante desafiador”, afirma o presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento. Ainda segundo o executivo, a Copa do Mundo que será realizada bem no final do ano no Qatar também pode se converter em aquecimento nas vendas de alguns produtos, em especial de televisores.
Considerando a série histórica dos últimos 5 anos, em média, o setor comercializou 36,10 milhões de produtos nos primeiros 5 meses, de janeiro a maio. Em 2022, entretanto, foram comercializados 31,49 milhões, o que indica vendas 13% inferiores à média do setor no período. “Nossos resultados estão diretamente vinculados ao poder de compra da população que vem sendo prejudicado pela inflação alta, que diminui a renda das famílias, e o aumento na taxa de juros que eleva as restrições e inibe o consumidor a buscar crédito para adquirir nossos produtos. O dólar acima de patamares desejáveis também dificulta”, destaca Nascimento.
Fatores como aumento nos custos dos insumos e do frete internacional também são prejudiciais para as vendas. “Nossas indústrias estão comprometidas com a manutenção dos preços dentro do possível, garantindo operacionalidade de seus negócios. Entretanto, os aumentos muitas vezes são inevitáveis quando se trata de um problema estrutural, que afeta toda cadeia produtiva, se desdobrando até o varejo”, pontua.
Segundo a Eletros, com o arrefecimento da pandemia o setor passou a disputar parte da renda das famílias com o setor de serviços. “Na pandemia, apesar de um período caótico registrado nos primeiros meses, não apenas recuperamos as vendas, como registramos resultados surpreendentes. O isolamento fez com que o consumidor investisse em melhorias no lar”, explica.
AR-CONDICIONADO – O setor de ar-condicionado registrou retração de 36% nas vendas entre janeiro e maio de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram comercializadas neste ano 1,01 milhão de unidades contra 1,58 milhões nos primeiros 5 meses de 2021. “No ano passado, as vendas de ar-condicionado cresceram cerca de 40% no primeiro semestre, impulsionada pelos fatores climáticos. Neste ano, entretanto, sentimos os efeitos do fenômeno “La Niña”, que promoveu temperaturas mais amenas em todo país. Devemos, então, considerar que já esperávamos um resultado inferior ao ano passado”, analisa. Ao analisarmos a série histórica de 5 anos, em média, foram comercializados 1,18 milhão de unidades entre janeiro e maio dos anos de 2018 a 2022, o que indica que as vendas neste ano estão 14% abaixo da média.
LINHA BRANCA – O setor de Linha Branca, que inclui refrigeradores, fogões e máquinas de lavar, também registrou retração de 24% nas vendas entre janeiro e maio de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram comercializadas neste ano 5 milhões de unidades contra 6,62 milhões nos 5 primeiros meses de 2021. “Registramos um forte pico nas vendas destes produtos nos últimos dois anos em que as pessoas permaneceram em suas casas por conta do isolamento. É natural que haja retração, afinal, estes produtos são de vida útil bastante longa”, explica. Ao analisarmos a série histórica de 5 anos, em média, foram comercializados 5,67 milhões de unidades entre janeiro e maio dos anos de 2018 a 2022, o que indica que as vendas neste ano estão 12% abaixo da média. “Os produtos de linha branca, no geral, são comprados de forma parcelada. Sofrem de forma bastante aguda, portanto, os impactos da alta nos juros que inibem o consumo”, pontua.
LINHA MARROM – O setor de Linha Marrom, que inclui predominantemente os televisores, registrou queda de 19% nas vendas entre janeiro e maio de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram comercializadas, neste ano, 3,76 milhões de unidades contra 4,61 milhões nos 5 primeiros meses de 2021. “Esperamos uma retomada no segundo semestre com a aproximação da competição que praticamente coincidirá com a Black Friday e o Natal”, afirma o presidente da Eletros. Ao analisar a série histórica de 5 anos, em média, foram comercializados 4,77 milhões de unidades entre janeiro e maio dos anos de 2018 a 2022, o que indica que as vendas neste ano estão 21% abaixo da média.
PORTÁTEIS – O setor de portáteis, que abrange 29 categorias de produtos, registrou queda de 17% nas vendas entre janeiro e maio de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram comercializadas neste ano 21,73 milhões de unidades contra 26,19 milhões nos 5 primeiros meses de 2021. “Neste caso também registramos picos elevados de consumos de itens domésticos na pandemia e era esperada certa retração. Entretanto, os dados estão piores do que esperávamos por conta do cenário macroeconômica e baixa reposição de estoques no varejo”, pondera. Ao analisarmos a série histórica de 5 anos, em média, foram comercializados 24,47 milhões de unidades entre janeiro e maio dos anos de 2018 a 2022, o que indica que as vendas neste ano estão 11% abaixo da média.
PERSPECTIVAS – Uma maior definição do cenário eleitoral deverá trazer maior estabilidade e confiança nos consumidores, o que pode promover uma retomada nas vendas no último trimestre do ano. “O consumidor precisa se sentir mais confiante sobre o que poderá esperar do próximo governo e de sua política econômica”, analisa Nascimento. Outro fator positivo, segundo a entidade, é a relativa melhora nos indicadores do emprego e possibilidade de renda extra da população no segundo semestre a partir dos trabalhos temporários. “A melhora nos indicadores do emprego é, de fato, uma boa notícia. Esperamos que não apenas se mantenha, como alcance resultados ainda melhores”, diz Nascimento.
Fatores externos como a Guerra da Ucrânia, escalada nos preços do petróleo e o aumento nos fretes internacionais, por sua vez, preocupam toda a indústria. “Temos assistido uma reação negativa em cadeia com aumento dos custos da matéria prima e nos transportes. Isso acaba impactando nossos fornecedores e, consequentemente, nossas indústrias”, analisa.
O setor de eletroeletrônicos e eletrodomésticos vê como oportunidade o início das operações do 5G, que estimulará progressivamente lançamentos em séries de produtos conectados. “Nossas indústrias já estão preparadas para atender esta nova demanda que irá impactar todas as nossas linhas de produtos. Se antes a conectividade era algo restrito aos televisores, agora novas categorias já foram ou estão sendo criadas para atender estas novas demandas de consumo”, finaliza.