Shoring estratégico mitiga riscos e promove a sustentabilidade
As cadeias de suprimentos longas e globalizadas estão vulneráveis. Essa fragilidade, associada com incertezas econômicas e geopolíticas, está levando a maioria (76%) das empresas a aproximarem suas cadeias de suprimentos das Américas para atender melhor o mercado norte-americano. O objetivo é reduzir tempo de espera, diversificar a oferta, maximizar talentos e minimizar riscos. Essas são algumas das conclusões da pesquisa “O benefício da proximidade: reestruturando estrategicamente as cadeias de suprimentos nas Américas”, conduzida pela KPMG com 250 executivos de empresas nos Estados Unidos.
O conteúdo destacou ainda as principais razões para a realocação de cadeias de suprimentos para as Américas: maior agilidade e resiliência (31%); mais rapidez na chegada ao mercado (31%); melhor acesso a competências e talentos (26%); redução no risco geopolítico (25%); acesso mais fácil ao capital (24%); desejo de aumentar participação de mercado (24%); custos mais baixos (22%); redução no risco regulatório, de conformidade e de ESG (21%).
“Eventos inesperados, como a pandemia, a seca no Canal do Panamá e o incidente no Canal de Suez, evidenciaram que cadeias de suprimentos globalizadas e separadas por longas distâncias, operantes nas últimas décadas, são extremamente vulneráveis e podem afetar os negócios. Diante desse cenário, as organizações estão implementando uma abordagem mais local, priorizando a proximidade de suas cadeias de suprimentos e ajustando estratégias para aumentar rapidez e estabilidade. Dessa forma, as organizações encurtam prazos, evitam medidas protecionistas, contornam tarifas punitivas e ampliam o controle das suas operações”, afirma André Coutinho, sócio-líder de Advisory da KPMG no Brasil e na América do Sul.
Outro dado é que, com as empresas otimizando as rotas das cadeias de suprimentos nas Américas, o número médio de locais envolvidos em uma única cadeia de suprimentos deve cair de uma média de 2,7 para 2,4 nos próximos três anos. As organizações com melhor desempenho na cadeia de suprimentos pretendem reduzir esse número de 2,1 para 1,9. Os respondentes também esperam que os Estados Unidos mantenham a maior participação nas operações de cadeia de suprimentos nos próximos três anos.
Ainda assim, os entrevistados projetam que Brasil e Canadá estarão entre os quatro principais locais para essa finalidade e esperam que o México ganhe mais participação. No caso do Brasil, há algumas vantagens, incluindo o acesso a uma grande população e a recursos naturais abundantes. Mais de um quarto dos executivos de cadeias de suprimentos participantes da pesquisa já têm presença no Brasil, com expectativa de que essa proporção permaneça estável nos próximos três anos.
Sobre os principais desafios para o shoring estratégico, foram indicados: dificuldades regulatórias para aproveitar acordos de livre comércio e incentivos governamentais (31%); custo real da mão de obra necessária (29%); custo real de produção (27%); falta de habilidades locais (24%); ambiente fiscal (23%); diferenças culturais (22%); incidentes de segurança cibernética (21%); baixa qualidade e disponibilidade de fornecedores (21%).
A pesquisa também evidenciou a relevância de uma mentalidade que priorize os tributos. Para mais da metade (64%) dos entrevistados, desde o início das discussões sobre shoring estratégico, são considerados elementos como impostos indiretos, subsídios e incentivos governamentais e regras de preços de transferência. Muitas empresas reconhecem que uma mentalidade voltada para a questão tributária é crucial para uma gestão eficiente da cadeia de suprimentos, com 53% dizendo que reguladores e autoridades fiscais exercem influência significativa em suas decisões de shoring estratégico, ficando atrás apenas dos acionistas (56%).
As empresas também estão cientes de suas deficiências nessa área, com a expertise fiscal sendo classificada como a segunda área que mais necessita de aprimoramento, logo após dados e análises. Eles também pontuaram que o atual ambiente tributário (23%) e as políticas regulatórias (31%) estão entre os cinco principais desafios para a concretização de determinadas iniciativas estratégicas de gestão de riscos. Ao integrarem estratégias tributárias no início do plano de processos e cenários, as empresas podem obter eficiências em fluxos de caixa e uma vantagem competitiva, garantindo uma mudança sólida na estratégia da cadeia de suprimentos.
“Os impostos estão mais digitalizados, com relatórios em tempo real e emissão de faturas eletrônicas, sendo essencial a avaliação dos efeitos e oportunidades tributários no planejamento da cadeia de suprimentos. Envolver executivos da área de tributos nas discussões de planejamento aperfeiçoa a classificação de produtos e serviços e garante que as empresas capturem melhor os incentivos relacionados. Assim, elas poderão viabilizar benefícios administrativos em comércio, impostos indiretos e preços de transferência”, afirma Marcus Vinicius Gonçalves, sócio-líder de Tax da KPMG no Brasil e na América do Sul.
Outro fator chave a ser considerado é a sustentabilidade, especialmente à medida que as políticas ambientais nacionais tendem a ser mais prevalentes no futuro. O shoring estratégico ajuda a reduzir a pegada de carbono, pois as empresas diminuem o impacto ambiental. Mais da metade (61%) deles dizem que o shoring estratégico ajudará a reduzir a pegada de carbono associada a produtos, impactando de forma positiva seus esforços em sustentabilidade.
A pesquisa “O benefício da proximidade”, da KPMG, reúne a opinião de 250 executivos de empresas nos Estados Unidos envolvidas com mudanças em suas operações de cadeia de suprimentos. Todas as organizações possuem receitas anuais de mais de US$ 1 bilhão e atuam nos seguintes setores: fabricação industrial; bens de consumo embalados; automotivo; saúde; tecnologia; varejo; agricultura; logística e distribuição; produtos farmacêuticos e ciências da vida; transporte; telecomunicações, mídia e entretenimento; energia e serviços públicos; aeroespacial; e defesa.