Sistema de navegação desenvolvido no Brasil será embarcado em foguete de empresa sul-coreana
Em 2025, o Brasil dará mais um passo para alcançar sua autonomia de acesso ao espaço. Um dos principais equipamentos de controle de um foguete, que é o sistema de navegação, foi desenvolvido no país e será embarcado no foguete “Hanbit”, da empresa sul-coreana Innospace, a fim de testar sua capacidade de medir o comportamento e acelerações do veículo durante o voo.
O Sistema de Navegação Inercial/GNSS (SNI-GNSS) foi concebido pelo Consórcio DJED, formado pelas empresas Horuseye, Concert Space e Cron, por meio de uma encomenda tecnológica da Agência Espacial Brasileira (AEB). O equipamento consiste em um sistema de navegação inercial com auxílio do sistema global de navegação por satélite. Ele determina, com precisão, a velocidade, a altitude e a posição do veículo durante o seu trajeto até o espaço, a fim de garantir a correta trajetória ao longo do voo e proporcionar precisão na liberação dos satélites em um ponto ideal da órbita terrestre.
O sistema foi criado para aplicação em lançadores de satélite de pequeno porte e foguetes de sondagem. É constituído de sensores inerciais de tecnologia MEMS, de eletrônica de processamento associada, de um receptor GNSS espacial e de um computador de navegação, que implementa o software de navegação inercial e de fusão com os dados do receptor GNSS. Ele foi submetido a extensivos testes de laboratório para calibração e de integração a simulações dinâmicas do veículo e simuladores de sinais GNSS, visando a aquisição de dados para avaliação em ambiente de voo real.
“O equipamento segue a tendência de todos os lançadores de satélites modernos em desenvolvimento, de trocar o uso de sensores inerciais de alta precisão e custo, pela técnica de fusão das informações de sensores de média precisão com as informações de receptores GNSS apropriados para uso em lançadores. Essa complementaridade entre sensores inerciais e receptores GNSS já tem sido extensivamente usada em aplicações como aviões, drones e veículos terrestres”, destaca o CEO da Concert Space, Rafael Mordente.
De acordo com Mordente, o domínio das tecnologias e técnicas associadas é restrita a poucos países, e de grande importância estratégica para o Brasil. “Fazer este lançamento com a Innospace será uma excelente oportunidade para testar e gerar herança de voo ao nosso Sistema de Navegação Inercial/GNSS, abrindo portas para o desenvolvimento de muitas outras tecnologias nacionais”, afirma.
LANÇAMENTO – O foguete Hanbit, da Innospace, será lançado a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, e levará também dois satélites brasileiros a bordo: o Cubesats Golds-UFSC (Global Open Collect Data System) e o Conasat-1. Estes serão os primeiros satélites brasileiros a serem lançados de território nacional. Construído pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e com a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Cubesat Golds-UFSC é um satélite de tamanho 2U, para aplicações de coleta de dados ambientais. Já o Conasat-1, feito pelo Inpe em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é um Cubesat de padrão 1U. Ele também é um satélite com aplicações para coleta de dados ambientais e atuará em conjunto com o Golds-UFSC.
A Concert Technologies apoia o Programa Espacial Brasileiro há mais de 30 anos. A empresa se destaca dentro dos segmentos de defesa e aeroespacial por ser responsável pelo fornecimento de diversos sistemas de preparo, lançamento e rastreio de operações para os Centros de Lançamento de Alcântara e Barreira do Inferno. Além disso, a empresa está ligada em importantes iniciativas de New Space como o MLBR – Microlançador Brasileiro, que é um veículo lançador de pequeno porte, o YaraTracker – software baseado em fermentas de Inteligência Artificial para identificação, classificação e monitoramento de corpos d’água, assim como o BIFROST – projeto da própria Concert Space que visa a operação de uma constelação de satélites de imageamento para sensoriamento remoto em órbita equatorial.
A Horuseye Tech foi fundada em janeiro de 2016, inicialmente como empresa de consultoria, dedicando-se depois ao desenvolvimento de sistemas e produtos com outras empresas parceiras com grande experiência em hardware e software para a área espacial. Desde 2018 tem se dedicado a desenvolvimentos na área de plataformas para cubesats, com soluções de hardware e software, incluindo o projeto de algoritmos e simulações envolvidos na definição do software de bordo. A empresa é especializada no desenvolvimento completo de sistemas de navegação, guiamento e controle de veículos aéreos e espaciais.
A Cron foi fundada em 2015 por ex-funcionários do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica. Atuou, através dos seus fundadores, no desenvolvimento do primeiro satélite brasileiro, o SCD-1 e 2, e nos primeiros satélites do programa CBERS, assim como nas primeiras missões nacionais com o uso de nanosats/cubesats. Desenvolve missões espaciais com o uso de cube e nanosats, desde a sua concepção até a sua operação, passando pelo seu desenvolvimento e lançamento. Também, trabalha com o uso dos dados produzidos por estas e outras missões existentes, para SatIoT e gestão agrícola.