Solução para driblar falta de profissionais em TIC pode estar no quadro funcional da própria empresa

Um dos mais estranhos paradoxos do mercado de trabalho brasileiro é o de, em um cenário de mais de 13 milhões de desempregados, sobrarem vagas no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) por falta de profissionais qualificados.
De acordo com um relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o setor, que respondeu por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, demandará nada menos do que 420 mil novos empregos entre 2018 e 2024.
As universidades provavelmente não conseguirão atender toda esta demanda, segundo a Brasscom: elas suprem, hoje, não mais do que 25% da necessidade de mão de obra qualificada na área de TIC.
E a entidade acrescenta outro problema: os currículos das universidades brasileiras, de modo geral, estão sempre atrasados em relação à velocidade do avanço da tecnologia. A rigidez dos currículos leva a um engessamento que não permite a atualização conforme as necessidades do mercado.
As empresas estão se virando como podem para preencher seus quadros funcionais com ao menos uma quantidade razoável de profissionais qualificados. Algumas soluções chegam a ser exemplares e poderiam ser seguidas por outras companhias, por exigirem baixos investimentos e mostrarem comprovada eficiência.
É o caso da solução encontrada pela empresa Flex Relacionamentos Inteligentes, de Santa Catarina, da área de contact centers. A companhia firmou uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Florianópolis para formar profissionais qualificados dentro de seu próprio quadro funcional.
Procura grande – O programa “Geração de Talentos Tech” ofereceu 25 vagas para a formação de analistas de bancos de dados e desenvolvedores de softwares e foi destinado somente para funcionários que não contavam com background de tecnologia. Apesar de o processo seletivo ter sido realizado apenas internamente, a procura foi grande, quase dez vezes maior que o número de vagas ofertadas.
“Acertamos em cheio ao optar por desenvolver os talentos internamente”, diz Ângela Casali, diretora de recursos humanos da companhia. “A quantidade de inscritos demonstra que há muito interesse dos profissionais em se capacitar para atuarem nesta área, mas que faltam meios para isto”.
Segundo a executiva, a capacitação interna também possibilitará uma maior retenção de talentos, pois dá oportunidade para os funcionários seguirem carreira dentro da própria empresa. De acordo com ela, a iniciativa também reforçou a política de seleção interna e de valorização de todo o conjunto de profissionais da Flex.
“Vemos a possibilidade de crescimento dentro da companhia como um vetor estratégico”, afirma Ângela. “Ela se reflete em menores taxas de turn-over, maior satisfação dos funcionários e os bons resultados são visíveis para os clientes e a própria comunidade”, complementa.
Na verdade, o interesse da Flex em formação de mão de obra não é recente. Outra iniciativa da empresa, mas que vai além do foco em tecnologia, é o Programa de Incentivo à Educação (Proed), que subsidia até 100% dos cursos de tecnólogo, graduação e pós-graduação ofertados por universidades parceiras reconhecidas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).
O programa foi iniciado no segundo semestre de 2014 e, desde então, já participaram mais de 1 mil profissionais. Atualmente, são oferecidos 140 cursos em diversas áreas, porém o foco em TI será estimulado. “Afinal, Florianópolis já se tornou um polo tecnológico e a demanda por especialistas em TI é crescente”, diz Ângela.
A Flex atua, hoje, de modo fortemente digital na área de relacionamentos inteligentes, fazendo com que cada interação com o “cliente de seus clientes” seja adequada ao perfil empresarial e tecnológico de cada um deles.
Para tanto, utiliza canais digitais e formas rápidas e eficazes de comunicação, além de tecnologias mais complexas como Inteligência Artificial, Big Data & Analitycs, Bots, Machine Learning, Agentes Virtuais, e Unidade de Resposta Audível Cognitiva, mas sem deixar de ter nas pessoas o foco da inovação e do atendimento. (Alberto Mawakdiye)