Uso da Internet das Coisas cresce no campo
Transformada em uma das grandes potências agropastoris do planeta principalmente devido ao uso de novas tecnologias e à aplicação de métodos racionais de produção, o Brasil deve consolidar esta posição caso os investimentos na chamada Internet das Coisas (IoT) continuem na velocidade em que estão hoje no setor.
De acordo com a Associação Brasileira da Internet das Coisas (Abinc), deverão ser investidos, na safra 2018/19, pelo menos R$ 100 milhões nessa área. Já segundo uma estimativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o impacto do uso da IoT no campo deve ser de US$ 21 bilhões até 2025. As novas ferramentas que vêm da IoT também poderão aumentar em até 15% a produtividade.
Tão promissor é o uso da IoT na agricultura que a Abinc criou um comitê de estudos voltado exclusivamente para o setor. Esse comitê de “agricultura digital” vai discutir o trabalho agrícola, os gargalos da área, legislação, padrões de transmissão de dados e outros serviços pertinentes ao agronegócio.
Neste entretempo, especialistas deverão buscar formas de acelerar e de baratear o uso de tecnologias no campo. “Ideias é o que faltam”, diz Flavio Maeda, presidente da entidade. “Mas também é preciso agir para tirá-las do papel”.
Para ele, as universidades também deveriam preparar novos profissionais para essas inovações, transformando os agrônomos – que formam a base tecnológica da atividade agrícola – em uma espécie de “cientista agrônomo digital”.
“O Brasil, que já é um dos celeiros do mundo, poderia assim vir a se tornar também um grande exportador de conhecimento agrícola digital, se as instituições de ensino e pesquisa também viessem a participar do jogo”, diz o presidente da Abinc.
As novas ferramentas que vêm da IoT estão ajudando os produtores especialmente na tomada de decisões, a reduzir custos de produção e o consumo de água e de energia.
As inovações da Internet das Coisas mais utilizadas hoje na agricultura brasileira são, principalmente, sensores no solo, informações de clima, sistemas de produção e processos industriais. Tudo isso leva a uma interação em tempo real.
A previsão antecipada de chuva no campo permite a uma usina, por exemplo, saber que terá menos cana para moer em determinados dias, devido às dificuldades de colheita e de transporte. Com essas informações, a empresa poderá liberar algumas caldeiras para manutenção.
PREDIÇÃO – Esse tipo de programação antecipada elimina custos, e realmente uma das grandes vantagens da aplicação da Internet das Coisas no campo é a predição, ou seja, o ato de antever as necessidades. E esse avanço da tecnologia no campo pode ser acelerado ainda mais com apenas alguns acertos, como a melhor conectividade, já que, com as grandes distâncias que, em geral, existem entre as sedes das fazendas e as áreas de produção, o sistema de transmissão em tempo real fica prejudicado.
Este, na verdade, vem sendo o grande empecilho para o maior crescimento da IoT no campo. Embora já bastante mecanizada e “tecnologizada”, a agricultura brasileira ainda possui segmentos onde os processos são relativamente empíricos, justamente por falta de maior conectividade.
De fato, mesmo havendo máquinas e aparelhagens apropriadas para a coleta de dados no campo, por exemplo, muitas dessas informações ainda não são utilizadas, devido a problemas de transmissões de dados para as nuvens. Muitos produtores sequer têm acesso em quantidade e qualidade suficientes à internet.
Assim, embora cada vez mais empresas que atuam no agronegócio venham se emparceirando com startups para ampliar a oferta de soluções que permitam uma agricultura mais sustentável, produtiva e de maior precisão, essas novidades correm o risco de não trazer transformação real por causa das limitações de acesso à internet.
Ou seja, sem a conectividade, colocar tecnologias nas máquinas torna-se algo quase supérfluo, pois muitos desses dados não poderão ser usados como informação para tomadas de decisão.
Tal entrave, porém, poderia em parte ser resolvido, segundo a Abinc, com sistemas de transmissão de dados em pequenos pacotes, como, por exemplo, via redes 2G ou 3G, ambas de baixo custo. E que deverão continuar assim, já que é do máximo interesse das operadoras de telefonia ampliar esses serviços no campo, dado o grande porte dos grupos agropecuários.
Já as grandes fornecedoras de equipamentos estão tentando reduzir esse gap por conta própria. Fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas diversos, a John Deere, por exemplo, vai investir na instalação de antenas que permitem rápido acesso à internet ao produtor, em parceria com a empresa Trópico, da área de telecom.
Ao viabilizar o acesso, a John Deere permitirá que as informações obtidas por meio de sensores nas máquinas sejam armazenadas em uma plataforma de gerenciamento de dados online (batizada de Operation Center). Os dados poderão ser consultados pelo produtor, pelas revendas ou por profissionais do setor.
O projeto terá início com a instalação de torres no estado do Mato Grosso. Cada equipamento terá alcance de 35 mil ha e levará o sinal de internet para máquinas agrícolas e outros dispositivos nas fazendas. (Alberto Mawakdiye)