7,7 milhões de unidades de carros deixarão de ser produzidos pela falta de chips em 2021
A escassez de semicondutores está impondo grandes perdas para a indústria automotiva mundial. As novas infecções de coronavírus obrigaram a suspensão de linhas de montagem de chips no Sudeste da Ásia, forçando as empresas automobilísticas e de produtos eletrônicos a suspender a produção em várias partes do mundo. Uma onda de casos da variante delta na Malásia, Vietnã e Filipinas causa atrasos na produção das indústrias de semicondutores, criando novos gargalos, além daqueles causados pela crescente demanda por chips.
Pat Gelsinger, presidente-executivo da Intel, maior fabricante de chips dos Estados Unidos, já declarou que espera que a escassez dure até 2023. Outros dizem que pode durar até o final de 2023. “A falta de chips continua a piorar e, neste momento, vamos passar por 2023”, afirmou Ambrose Conroy, fundador da Seraph Consulting, que assessora as montadoras sobre a crise.
A falta de chips custará à indústria automobilística globalmente US$ 210 bilhões em receitas perdidas neste ano, segundo projeção da AlixPartners, empresa de consultoria global. É um aumento substancial em relação à estimativa de maio de US$ 110 bilhões feita pela mesma companhia. Em termos de veículos, a consultoria prevê agora que a produção de 7,7 milhões de unidades será perdida em 2021, ante 3,9 milhões em sua previsão de maio.
“Claro, todos esperavam que a crise do chip tivesse amenizado, porém, eventos infelizes como os bloqueios devido à Covid-19 na Malásia e problemas contínuos em outros lugares agravaram as coisas”, diz Mark Wakefield, co-líder global do Setor Automotivo e Prática Industrial na AlixPartners. “Além disso, os chips são apenas uma das inúmeras interrupções extraordinárias que a indústria está enfrentando – incluindo tudo, desde a escassez de resina e aço até a falta de mão de obra. Não há espaço de erros para montadoras e fornecedores agora; eles precisam calcular todas as alternativas e certificar-se de que estão realizando apenas as melhores opções”, complementa.
“Não há realmente nenhum ‘amortecedor’ para a indústria agora, quando se trata de produção ou obtenção de material. Praticamente qualquer escassez ou interrupção da produção em qualquer parte do mundo afeta empresas ao redor do globo, e os impactos agora são amplificados devido a todas as outras faltas. É por isso que é fundamental que as empresas estejam armadas com boas informações e análises para começar, e que prossigam com uma execução determinada e perfeita”, comenta Dan Hearsch, diretor administrativo da Prática Automotiva e Industrial da AlixPartners.
Martin Daum, presidente-executivo da divisão Daimler AG que fabrica caminhões e ônibus, descreveu o problema da seguinte forma, conforme publicado na imprensa norte-americana. “Até o segundo trimestre, fomos capazes de administrar a situação muito bem na Daimler Truck. Mas, desde o verão (no hemisfério Norte), a situação dos semicondutores piorou para nós. Nossa produção na Alemanha e nos EUA foi afetada, o que levou a uma situação em que poderíamos entregar menos veículos aos nossos clientes.”
Mesmo montadoras como a Toyota e Hyundai, que planejaram possíveis faltas e inicialmente conseguiram evitar paralisações, encontram problemas. Em setembro, a Toyota foi forçada a reduzir a produção em 14 fábricas no Japão por falta de semicondutores. Alguns dos cortes continuarão em outubro devido à falta de componentes do Sudeste Asiático.
No Brasil, o cenário também não é nada confortável. “Essa situação dos semicondutores traz uma enorme imprevisibilidade para o desempenho da indústria no restante do ano. Num cenário normal, estaríamos produzindo num ritmo acelerado nesta época do ano, quando as vendas geralmente ficam mais aquecidas”, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. “No ano passado tínhamos boa produção no segundo semestre, mas uma demanda imprevisível em função da pandemia. Neste ano, temos a volta da demanda, mas infelizmente uma quebra considerável na produção”, acrescenta. (Franco Tanio)