A indústria ferroviária espera um crescimento sustentável a partir de 2025
O mercado de veículos ferroviários tem se mostrado com altos e baixos ao longo dos últimos anos. No segmento de vagões de carga são previstas entregas de 1.271 unidades em 2023, cerca de 15% aquém da previsão feita há um ano, de 1.500 vagões. Foram exportados 62 vagões para a África. Para 2024 são previstas entregas de 1.600 unidades (26% maior que em 2023), incluídos 62 vagões adicionais para a África.
A cadeia de fornecedores reestruturou-se para atender a um volume de 1.300 vagões anuais, mas necessita estar atenta aos novos volumes projetados. Ressalte-se que a indústria de vagões, que trabalhava historicamente com antecedência de encomendas de seis meses, necessita agora de um prazo maior de antecedência por parte das concessionárias, ou seja, de um ano.
Outra oportunidade para a indústria poderá vir a ocorrer pelo fato de algumas concessionárias virem a optar pela substituição das caixas de vagões já em final de vida, o que movimentaria o setor de serviços. Some-se a esta oportunidade, a renovação da frota antiga que a indústria ferroviária está discutindo junto ao governo federal para a criação de um programa de substituição, tanto de vagões como de locomotivas. Estas encomendas ainda não se confirmaram, mas existem condições para que sejam realizadas a partir de 2024.
A Abifer e o Simefre estão trabalhando em dois temas essenciais junto ao Ministério dos Transportes e à ANTT, ressalta o presidente da Abifer e diretor do Simefre (Sindicato Interestadual de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários), Vicente Abate. A regulamentação da Portaria 1.324 (Programa Frota Ferroviária Verde) e a implementação dos critérios técnicos para a melhor e mais segura operação dos vagões de carga. “Ambas estão tendo uma boa aceitação por parte do governo.”
Na área de locomotivas, a previsão de entregas em 2023 é de 30 unidades, alinhada com a previsão de um ano atrás, de 31 locomotivas. Não houve exportações. Em 2024, são previstas entregas de 45 locomotivas.
“Importante ressaltar a digitalização embarcada nas locomotivas de última geração, já fabricadas no Brasil, além dos acordos entre as fabricantes brasileiras e empresas da Califórnia para testes em locomotivas de linha híbridas, com célula de hidrogênio verde” avalia Abate.
Como previsto, o segmento de trens de passageiros iniciou sua recuperação em 2023, depois de anos sem encomendas, com entregas de 136 carros para os mercados interno e de exportação. A partir de agora, os volumes começarão a se acentuar, com entregas previstas de 274 carros em 2024, incluídos o projeto do Aeromovel (6 carros), que iniciará sua operação assistida no início do segundo trimestre de 2024, a exportação de 6 carros para o Chile pela Marcopolo Rail, além da continuidade das exportações da Alstom para os metrôs de Taipei, Bucareste e Santiago e para a ViaMobilidade e Acciona no mercado interno.
“Aguarda-se, brevemente, a publicação do edital para aquisição de 44 trens destinados ao Metrô SP, cujo financiamento já está contratado pelo Governo de São Paulo junto ao BNDES”, informa Massimo Giavina, vice-presidente do Simefre e conselheiro da Abifer.
Outro importante projeto, do Trem InterCidades (TIC), entre São Paulo e Campinas, já tem seu leilão anunciado para 29 de fevereiro de 2024 e será um marco que resgatará o Trem Regional no Estado de São Paulo.
“O setor ferroviário brasileiro, incluindo as concessionárias de cargas e de passageiros e a indústria ferroviária brasileira, é estratégico para o país e como tal deve ser entendido e conduzido pelas autoridades governamentais de todas as esferas”, conclui Vicente Abate.
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS – Depois de terminar o ano de 2022 como um dos piores da história para o setor ferroviário de passageiros (entrega zero), o ano de 2023 começou a apresentar os primeiros sinais da retomada para o setor ferroviário de passageiros, acredita o vice-presidente do Simefre, Massimo Giavina.
Segundo ele, contratos fechados em anos anteriores iniciaram suas entregas em 2023, provocando um incremento na produção. “Entretanto o adiamento para 2024 de editais previstos para 2023, derrubou as vendas do ano.”
Giavina afirma que para o desenvolvimento contínuo do setor metroferroviário é preciso um planejamento de estado, de longo prazo, com regras claras, arcabouços jurídicos e econômicos sólidos e consistentes e segurança no modelo que aporte previsibilidade ao setor, aos investidores (públicos e privados) e à sociedade.
“No setor de passageiros, continuamos com índices de ociosidade de nossa capacidade instalada acima dos 80% e nenhuma constância no tempo, na demanda ao setor. Visando esta previsibilidade urge alçar o setor ao patamar de “estratégico” e requerer a imediata implantação de um planejamento de longo prazo.”
Para o vice-presidente do Simefre, cabe ao governo estabelecer regras claras, homogeneizar a demanda de tempo, fiscalizar e controlar a execução dos planos setoriais. “A atratividade da iniciativa privada, do ponto de vista da operação depende da mitigação de riscos (demanda, receitas, cambio) e do lado da indústria de maior previsibilidade e constância na demanda industrial e resultados seguros.”
A necessidade de melhores transportes públicos eficientes, seguros e confortáveis é grande e precisa ser atendida, no entanto, faltam políticas públicas neste sentido. “Acreditamos que estamos no início de um ciclo virtuoso de crescimento do setor com boas perspectivas de novos projetos na área de passageiros. Dentro do PAC, o acordo BNDES/Ministério das Cidades para serem feitos estudos para implementação em 21 regiões metropolitanas do sistema de transporte urbano.”
Concluindo, Giavina afirma que o Brasil é a próxima fronteira metroferroviária global e precisa estabelecer as bases para que este crescimento se dê, no prazo das necessidades (prementes) da sociedade e dos atores do setor.