Eletrônica e Informática

Aparelho desenvolvido pela Embrapa faz sucesso no mundo

Um inovador aparelho de ressonância magnética nuclear – ou RMN – desenvolvido pela unidade da Embrapa Instrumentação localizada em São Carlos (SP) em colaboração com a Fine Instrument Technology (FIT), startup de base tecnológica da mesma cidade, está se tornando uma verdadeira coqueluche dos produtores rurais tecnologicamente avançados do planeta.

 

Desenvolvida há mais de 30 anos pela Embrapa Instrumentação para detectar o teor de óleo em grãos e alterações em alimentos in natura e industrializados, a RMN brasileira deve o seu sucesso – a tecnologia já está disponível em mais de 20 países, principalmente na Ásia e na América Latina – à decisão de embarcar a solução no aparelho SpecFit, resultado da parceria da empresa com a startup são-carlense.

 

O que vem cativando os produtores rurais estrangeiros é principalmente o fato de que, com a aplicação da RMN, as análises são realizadas sem destruir a amostra, em segundos, de forma limpa e sem o uso de solventes, como ocorre nos métodos tradicionais. Outra vantagem é que a técnica é reconhecidamente eficaz para avaliação do teor de lipídeos em pescados, carnes e similares.

 

“A adoção do SpecFit também acelerou os processos de análises e mudou a rotina de indústrias de extração de óleo de palma, mais conhecido no Brasil como azeite de dendê, que é o mais consumido e produzido do mundo”, diz o pesquisador da Embrapa Instrumentação, Luiz Alberto Colnago, “A Indonésia e a Malásia, onde o SpecFit já está bastante presente por meio de parceiros distribuidores, são os maiores países produtores. Juntos, eles representam entre 85% e 90% da produção global deste óleo vegetal.”

 

De acordo com Daniel Consalter, CEO da FIT, a aplicação baseada na técnica de ressonância magnética nuclear obteve tal penetração por principalmente auxiliar as indústrias extratoras de óleo de palma a controlar o desperdício, pois o SpecFit fornece prontamente o resultado da análise do teor nos frutos (em um tempo médio de 30 segundos). Sendo que, no caso das empresas do ramo deste óleo, a medição tem de ser feita em todos os resíduos nos quais pode haver perdas – ou seja, a quantidade a ser medida é enorme.

 

“Com essa rapidez, elas podem tomar decisões importantes para melhorar o processo e regular os equipamentos e parâmetros como temperatura e velocidade”, explica Consalter, segundo quem o sucesso da solução levou praticamente todas as empresas do setor no Brasil a adotarem pelo menos um equipamento SpecFit. Países da América Latina que também cultivam o óleo de palma, como Peru, Colômbia, Guatemala, Equador, Costa Rica e México, também passaram a utilizar o aparelho.

 

TRABALHO PIONEIRO – Luiz Alberto Colnago tem conduzido na Embrapa Instrumentação estudos com ressonância magnética nuclear de forma pioneira desde 1986, com foco na identificação de teores de óleos em grãos e alterações em alimentos in natura – como frutas e carne bovina – e industrializados, como azeite de oliva, maionese, molhos de salada e até mesmo vinho. A técnica é hoje tida como uma alternativa comprovadamente eficiente aos métodos convencionais, trabalhosos e demorados.

 

O pesquisador atua com a RMN de baixo campo, cerca de dez vezes mais barata do que as usadas em equipamentos tradicionais. O aparelho utilizado por ele funciona similarmente ao de uso médico, mas não gera imagem e nem espectro. A tecnologia de baixo campo mede o tempo de desaparecimento do sinal de ressonância, que é comparado com um banco de dados por programas estatísticos. Esses sistemas transformam automaticamente a informação na composição química dos produtos agroalimentares.

 

Entre as análises mais recentes realizadas pelo pesquisador com a técnica de RMN, os destaques são as três cultivares de amendoim lançadas na versão 2023 da Agrishow, tradicional feira de tecnologia agropecuária promovida em Ribeirão Preto (SP), pela Embrapa Algodão, de Campina Grande (PB). O estudo apontou alto teor de ácido oleico, acima de 75%, nos grãos direcionados ao consumo de mesa e à indústria de alimentos.

 

A quantificação, caracterização e classificação do teor de óleo em farinha de pupunha, nativa da floresta amazônica, é outro estudo concluído com a utilização da técnica. Atualmente, Colnago investiga a composição de molhos de tomate industrializados para detectar alterações no produto.

 

A parceria entre a Embrapa Instrumentação e a FIT tem refletido em importantes resultados de base científica, técnica e mercadológica, tanto para a empresa de pesquisa como para FIT, cada vez mais reconhecida nacional e internacionalmente. Em 2022, por exemplo, a FIT foi uma das vencedoras do concorrido Prêmio Startups do Futuro, promovido pelo Sebrae.

 

Para atender aos crescentes mercados interno e externo, a parceira da Embrapa Instrumentação está inclusive ampliando a área física com a construção de um prédio de 1 mil m². A nova sede será inaugurada em julho de 2024 no Parque Tecnológico EcoTec Dahma, em São Carlos. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação/Embrapa)

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