Aprendizados que o Covid-19 deixa para a indústria no mundo
Martin Kjærbo (*)
Já é um fato que a epidemia do Coronavírus está transformando e vai modificar ainda mais o mundo em muitos aspectos. Consumo, relações interpessoais, migrações e economia global são apenas alguns dos muitos setores impactados. Esse último, porém, merece uma atenção especial.
Um relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou uma contração de ao menos 3% no cenário econômico global como consequência da pandemia. Outro dado preocupante é que 48% dos donos de indústrias acreditam que o Covid-19 terá um impacto importante nas suas operações, segundo um relatório que ouviu CFO´s das principais companhias dos EUA, realizado pela PwC.
Avaliando com cuidado o mercado, percebo que sairemos disso transformados para sempre. Olhando pelo lado positivo, essa foi uma grande oportunidade para despertar uma quantidade incrível de aprendizados, principalmente para as indústrias.
Aproveito para comentar sobre alguns que julgo especialmente importantes: as adaptações que se mostraram necessárias na forma de produção, adequação das cadeias de suprimentos além da automatização na nossa própria linha de montagem:
A importância de olhar para a cadeia de suprimentos em momentos de crise. Essa ainda é, a meu ver, a maior dificuldade das indústrias ao redor do mundo. Ainda assim, entendo que alguns cuidados simples podem garantir a importação de matéria prima e, assim, evitar que a falta de insumos atrapalhe a produção.
O primeiro deles é investir em uma cadeia de suprimentos com pelo menos duas fontes, para que, caso o fornecimento de uma delas seja interrompido, seja possível acionar o outro. E aprendemos isso na prática na Universal Robots!
Essa foi uma medida que se tornou essencial para manter a nossa produção funcionando bem, já que quando a China começou a fechar, tínhamos opções de conseguir insumos em outros lugares, e dessa forma, não ficamos tão vulneráveis. Com o tempo, conforme a China se recuperava e a Europa se fechava, precisamos inverter a operação, mas ainda assim, mantivemos a capacidade de produção intacta. Como resultado, não tivemos que reprojetar nenhum de nossos modelos de robô.
Adequar as operações na linha de produção. Outro aprendizado nesse período foi a importância de ouvir os funcionários e adequar as linhas de produção, de modo a não sobrecarregar os colaboradores. Ninguém mais do que as pessoas que trabalham na linha de frente compreendem e enxergam problemas e necessidades da própria indústria.
Por isso, muitos dos ajustes que realizamos na nossa produção vêm diretamente da percepção e de sugestões deles de como podemos realizar essa tarefa de trabalho com mais eficiência. Um exemplo disso é que em nossas linhas de produção na Dinamarca, onde toda a fabricação de nossos robôs é realizada, mudamos de operação de um para dois turnos para espalhar fisicamente nossa força de trabalho.
Com isso, nossos colaboradores se adaptaram surpreendentemente bem e além de mantê-los saudáveis, também pudemos garantir que eles trabalhassem sem medo, mas mantendo o fluxo de produção intacto e sem atrasos.
Automação na manufatura. Acredito que esse é um é um processo contínuo que foi acelerado pela pandemia e vejo que muitos de nossos clientes estão passando por essas mesmas transformações. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da ARK Invest indica que nos próximos cinco anos, a automação deve contribuir em 40% do PIB americano.
Por aqui, resolvemos também nos apropriar do nosso próprio remédio e investir em automação dentro da nossa linha de produção. Agora, há robôs montando robôs em conjunto com os colaboradores nas nossas fábricas. A ideia, com essa iniciativa é desafogar e reduzir as tarefas das equipes nesse período e contamos com a ajuda dos cobots para isso.
Cuidados com a logística. Uma outra questão importante a ser avaliada é a logística e como garantir a chegada dos produtos aos clientes finais, o que tende a ser um desafio em tempos de pandemia já que os fretes são afetados também. Pensando em minimizar quaisquer danos, nos precavemos e começamos a enviar os nossos produtos para armazéns nos EUA, China, Malásia e Holanda.
Claro que houve algumas dores de cabeça quando os voos foram cancelados, porém os problemas, felizmente, não aconteceram na medida em que temíamos. A partir disso, criamos uma logística em que fazíamos parte da viagem em um caminhão e outra via aérea em países onde voar ainda é possível.
Uma outra solução que encontramos foi manter os nossos cobots em dois armazéns diferentes na nossa sede, na Dinamarca. Portanto, caso ocorra um surto de coronavírus em um, podemos enviar do outro, antecipando assim qualquer crise.
Depois de tudo o que foi citado aqui, fica claro para mim que períodos de crise nos ensinam a pensar com agilidade e rapidez para adequar-se às mudanças que os tempos pedem. É preciso olhar para a frente sem medo. A crise do coronavírus pode ser a catapulta para o futuro! Você está usando de maneira correta a sua?
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(*) O autor é vice-presidente da Universal Robots.