Bioeletricidade gerada a partir da palha e bagaço de cana-de-açúcar poderia suprir 78% da demanda residencial
Quase 80% do consumo de energia elétrica residencial no Brasil poderia ser suprido pela bioeletricidade gerada a partir da palha e bagaço de cana-de-açúcar. Os cálculos são da equipe do Projeto Sucre (Sugarcane Renewable Electricity) e demonstram um potencial de geração de energia da ordem de 100 TWh ao ano, o que supriria a demanda de eletricidade de 78% das residências brasileiras.
De acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o que se aproveita atualmente a partir dessa matriz representa apenas 21,4 TWh, aproximadamente o equivalente a 21% do potencial calculado pelo Projeto Sucre, gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e implementado pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Os pesquisadores também estabeleceram algumas comparações que ajudam a compreender os benefícios para o meio ambiente. Se todo o potencial fosse aproveitado, o crédito ambiental estimado da palha e do bagaço seria de 150 milhões de toneladas de CO² equivalente, o que corresponde a 33% das emissões do setor energético ou 11% das emissões totais do Brasil, considerando dados do Sistema de Registro Nacional de Emissões (Sirene). De acordo com o estudo do Projeto Sucre, isso equivale à absorção de CO² por aproximadamente 233 milhões de árvores plantadas ou, em termos de área, 140 mil campos de futebol.
Essas estimativas levam em consideração a substituição da eletricidade produzida pelas usinas termelétricas a gás natural, que são acionadas quando há déficit na produção das hidroelétricas no país.
O potencial se baseia nas premissas de produção de 140 kg de palha (base seca) por tonelada de cana-de-açúcar e de recolhimento de metade de toda a palha gerada na colheita da safra de 2015/2016, em que foram processadas 612 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na região do Centro-Sul do Brasil, 93% do processamento total do País, conforme informa a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Quase metade da bioeletricidade produzida no Brasil vem do estado de São Paulo. Só a geração sucroenergética paulista em 2017 foi equivalente ao que seria necessário para atender 44% do consumo anual do município de São Paulo.
VANTAGENS – A maioria das usinas geradoras de energia a partir do bagaço e palha de cana está situada perto dos grandes centros de consumo urbano e industrial. Um fator que beneficia o sistema de distribuição, que está sujeito a maiores custos, perdas e se torna instável quando a energia tem que ser transmitida por longas distâncias.
Se comparada com outras matrizes, a geração de energia por biomassa está entre as com maior potencial para a geração de empregos e menor emissão de gases causadores do efeito estufa como os produzidos nas usinas térmicas movida a gás natural, óleo e carvão.
Gerar energia elétrica a partir da palha da cana pode ser uma das alternativas para se alcançar a meta de redução das emissões em 37% até 2025, previsto para o cumprimento dos Compromissos Nacionalmente Determinados (NDC) pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris, em 2015.
Fonte: Ipesi