Metal Mecânica

Indústria siderúrgica brasileira discute caminhos para superar excesso de oferta no mercado global

Indústria siderúrgica brasileira discute caminhos para superar excesso de oferta no mercado global

Realizado nos dias 21 e 22 de agosto, no Hotel Transamérica, em São Paulo (SP), o Congresso Aço Brasil 2018, discutiu alguns dos principais problemas que afligem o setor. Um deles, sem dúvida, são as medidas protecionistas adotadas em diversos mercados.

Para Sergio Leite, presidente do Conselho do Instituto Aço Brasil, o mundo vive uma guerra de mercado com a China conquistando espaço e Estados Unidos e União Europeia tomando medidas para se proteger do avanço chinês por meio de sobretaxa (caso dos EUA) e salvaguardas (caso da Europa). “Apenas a América do Sul não apresentou posição sobre esta questão. Precisamos definir nossa postura e devolver o protagonismo do Brasil nas relações comerciais mundiais”, disse.

De acordo com o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de Lima, o governo vem tomando uma série de medidas em parceira com as entidades ligadas à indústria do aço, entre elas o Instituto Aço Brasil, para garantir isonomia do mercado nacional e fortalecê-lo ainda mais. Para o ministro, deve-se destacar o esforço conjunto das empresas, entidades e embaixada brasileiras em Washington para evitar que os EUA sobretaxasse os produtos brasileiros assim como fez com os chineses e com vários outros países. “Não existe país forte sem uma indústria forte. Acreditamos que há espaço para crescimento, mas é preciso trilhar um caminho com reformas e controle de gastos”. Lima citou programas como o Pedefor que prevê a simplificação de regras para licitações, entre outras medidas.

MERCOSUL – O presidente do Fórum Global G-20, o argentino Shunko Rojas, um dos convidados para congresso, apresentou o painel “Fórum Global e Excesso de Capacidade”. Ele defendeu junto aos representantes da indústria siderúrgica nacional sobre a necessidade de os países do Mercosul construírem conjuntamente equilíbrio em suas economias a fim de somar aos esforços que a China já vem fazendo para reduzir o excesso de capacidade de produção de aço no mundo. A meta da China é chegar a 2020 com 150 milhões de toneladas de capacidade a menos do que em 2016 e, para isso, o país vem adotando medidas para reduzir a sua produção.

“A demanda global tende a ficar mais robusta e, assim, os preços se valorizarão, criando oportunidades para as empresas do setor em todo o mundo. Já para a China, as projeções são de queda, por conta dos esforços de redução de capacidade e mudança de uma economia baseada em investimentos e exportações para outra concentrada no consumo interno”, destacou Shunko Rojas, que é também subsecretário de Comércio Internacional da Argentina.

O Fórum de Excesso de Capacidade é uma parceria do G-20 e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que busca encontrar de maneira multilateral respostas para esse desafio do mercado siderúrgico mundial.

“Confio que o Mercosul vai encontrar as ferramentas e condições necessárias para chegar à integração fundamental a fim de construir um futuro próspero para todos os países do bloco”, afirmou Rojas.

BRASIL – No painel “Excesso de Capacidade de Produção de Aço no Mundo – Como Solucionar?”, o subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Ronaldo Costa Filho, disse que o Brasil está bem posicionado para contribuir com o debate mundial, pois possui diversas vantagens em relação a outros mercados. “Aqui, os ajustes não são feitos pelo governo, mas diretamente pelas empresas. Nós não impomos barreiras comerciais nem subsídios e há regras claras de concorrência estabelecidas pelo Cade. Também não existem obstáculos para a importação de insumos usados para a produção do aço”.

O embaixador disse, ainda, que o Brasil vai continuar apoiando a atuação do Fórum Global, apesar dos interesses divergentes e pressões externas de China, EUA e União Europeia. “Não nos interessa escolher lados. Ninguém é totalmente inocente nesta discussão nem atua em nosso favor.”

Sobre as salvaguardas da União Europeia, Costa Filho afirmou que não existe relação sem desentendimentos e que este é um problema momentâneo que não serve de parâmetro para as relações entre os países europeus e sul-americanos.

DEMANDA – Para a diretora de Estudos Econômicos e Estatística da Worldsteel, Nae Hae Han, a redução do excesso de capacidade na China é um movimento natural, uma vez que processos econômicos como a digitalização geram mais eficiência na produção e no uso do aço. Ela também menciona que as novas economias emergentes experimentam um crescimento menor da demanda por conta de uma “desindustrialização prematura”.

“Este processo vem ocorrendo por conta de uma transformação nas cadeias de valor em que ganham destaque os quatro R´s: reduzir, reutilizar, remanufaturar e reciclar”. Um exemplo são os serviços de compartilhamento de veículos, que reduzem o número de carros nas ruas. Para a pesquisadora, a capacidade de produção existente deve ser capaz de suprir a demanda até 2035.

TECNOLOGIA – Com o objetivo de analisar o que os consumidores esperam da indústria do aço em 10 ano, o presidente do grupo Vallourec e conselheiro do Aço Brasil, Alexandre de Campos Lyra, coordenou as discussões que contaram com apresentações da arquiteta Filomena Russo; do CEO da Klöckner & Co SE, Gisbert Rühl; e do vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Sérgio Martins Mello.

O recém-lançado Programa Rota 2030, que estabelece as bases de uma política industrial do setor automobilístico pelos próximos 15 anos para estimular a modernização do setor, foi um dos pontos destacados pelo representante da Anfavea.

“Estamos vivendo uma transição política no Brasil e nós temos que construir propostas e criar um posicionamento claro da indústria para transformar a agenda política do país em uma agenda de desenvolvimento e crescimento. Neste sentido, o Rota 2030 tem potencial de atrair novas tecnologias, criar novos mercados para exportação e gerar conhecimento para o país”, destacou Antonio Sérgio Martins Mello, que é também é diretor de Relações Institucionais da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina.

Ele aproveitou para anunciar investimentos da ordem de R$ 14 bilhões da FCA no Brasil no desenvolvimento de novos produtos entre 2018 e 2022.

Por falar em investimento em tecnologia, o CEO da empresa alemã Klöckner & Co SE, Gisbert Rühl, contou como a empresa siderúrgica abraçou a disrupção digital e promoveu o grupo a um dos maiores pioneiros em inovação do setor industrial. Rühl contou como o processo de construção de uma unidade de inovação aos moldes das startups mudou a Klöckner & Co SE.

“Empurrei a empresa para a digitalização basicamente pelo momento difícil da indústria do aço, por conta do excesso de oferta, e também pelo próprio modelo de negócios do setor. Com o lançamento de nossa plataforma digital, conseguimos mudar toda a cadeia de suprimentos; do produtor até o cliente”, revela o executivo Gisbert Rühl.

A arquiteta Filomena Russo, que foi sócia durante muitos anos do escritório Foster + Partners, relatou como foi o desenvolvimento do projeto AQWA da Tishman Speyer no Porto do Rio de Janeiro, um edifício que, graças a estruturas metálicas inovadoras, mudou a paisagem da Zona Portuária da capital carioca e provou que novas tecnologias em construção podem surgir também no Brasil. “Temos que parar com essa ideia de grandes inovações no setor do aço não podem acontecer aqui no nosso país”, ressaltou a arquiteta. (foto Marcos Issa/Argosfoto/divulgação)

Fonte: Ipesi

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