Brasil busca diálogo para solucionar taxação de aço e alumínio importados pelos EUA
Diálogo. É essa a palavra que se destaca nas notas à imprensa relacionadas à decisão de os Estados Unidos taxarem em 25% todas as importações de aço e alumínio. A previsão é que a medida entre em vigor a partir de 12 de março.
De acordo com o Instituto Aço Brasil, especificamente em relação ao comércio dos principais itens da cadeia do aço – carvão, aço e máquinas e equipamentos – EUA e Brasil detêm uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões.
Considerando os produtos de 29 categorias do aço, foram exportados US$ 4,14 bilhões do Brasil para os EUA em 2024, o que representa o envio de 5,81 bilhões de quilos de aço ao país, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), 16,8% das exportações brasileiras do metal têm como destino os EUA. Esse mercado movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024. Em termos de volume, os EUA foram o destino de 13,5% do total (72,4 mil toneladas) das exportações brasileiras de produtos de alumínio.
Com a implementação da sobretaxa, o alumínio brasileiro se tornará significativamente menos atrativo comercialmente. Além dos impactos na balança comercial, outra preocupação são os efeitos indiretos associados ao aumento da exposição do Brasil aos desvios de comércio e à concorrência desleal, de acordo com a Abal.
A Amcham Brasil diz que a indústria siderúrgica brasileira possui significativo grau de integração com os Estados Unidos. Em 2024, as empresas brasileiras importaram US$ 1,4 bilhão em carvão siderúrgico americano, utilizado para a produção do aço no Brasil. Além disso, o aço brasileiro é um insumo estratégico para a indústria americana. O Brasil, por sua vez, importa um volume relevante de bens fabricados com aço nos Estados Unidos, incluindo máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação. Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana.
INSTITUTO AÇO BRASIL – O Instituto Aço Brasil diz que recebeu com surpresa a decisão do governo dos Estados Unidos, anunciada no dia 10 de fevereiro de estabelecer alíquota de importação do aço para 25%, independentemente da origem, derrubando, no caso do Brasil, acordo firmado no primeiro mandato do presidente Donald Trump, em 2018, para importação do aço brasileiro.
Naquela ocasião, os governos de Estados Unidos e Brasil negociaram o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados. Tal medida flexibilizou decisão anterior do Presidente Donald Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%.
Importante ressaltar que a negociação ocorrida em 2018 atendeu não só o interesse do Brasil em preservar acesso ao seu principal mercado externo de aço, mas também o interesse da indústria de aço norte-americana, demandante de placas brasileiras. Os Estados Unidos importaram, em 2024, 5,6 milhões de toneladas de placas por não dispor de oferta suficiente para a demanda do produto em seu mercado interno, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil. As exportações brasileiras de produtos de aço para os Estados Unidos cumpriram integralmente as condições estabelecidas no regime de “hard quota”, não ultrapassando, em momento algum, os volumes estabelecidos tanto para semiacabados como para produtos laminados.
ABAL – Para a Abal, os efeitos imediatos para o Brasil serão sentidos primeiramente nas exportações e na dificuldade de acesso dos produtos brasileiros a esse mercado. Apesar de os produtos de alumínio brasileiros terem plena condição de competir em mercados altamente exigentes como o americano, seja pelo aspecto da qualidade ou da sustentabilidade, nossos produtos se tornarão significativamente menos atrativos comercialmente devido à nova sobretaxa.
Embora a participação do Brasil nas importações americanas de produtos de alumínio seja relativamente pequena, menos de 1%, os Estados Unidos é um parceiro comercial importante e correspondem a 16,8% das exportações brasileiras do metal. O que movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024. Em termos de volume, os Estados Unidos foram o destino de 13,5% do total (72,4 mil toneladas) das exportações brasileiras de produtos de alumínio. Desse total, 54,2 mil toneladas das exportações estavam sujeitas à Seção 232, e chapas e folhas de alumínio corresponderam a 76% desse volume.
“Cenários desafiadores como este requerem sensibilidade e diálogo na construção de soluções que não são simples, mas que levem em consideração a necessidade de evitar disrupturas no suprimento de produtos e materiais estratégicos para a economia brasileira”, dia a Abal, frisando que “está em diálogo com o governo brasileiro para compreender as implicações dessa medida e buscar soluções que mitiguem seus impactos sobre a economia nacional no curto e médio prazo, garantindo um ambiente mais competitivo para a indústria do alumínio brasileira.”
CNI – “Essa medida é prejudicial tanto para a indústria brasileira quanto para a norte-americana. Lamentamos a decisão e vamos atuar em busca do diálogo para mostrar que há caminhos para que seja revertida. Temos todo o interesse em manter a melhor relação comercial com os EUA, que hoje são o principal destino dos produtos manufaturados do Brasil, mas precisamos conciliar os interesses dos setores produtivos dos dois países”, afirma o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban.
FIEMG – A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) diz que acompanha com atenção os desdobramentos sobre a taxação de 25% nas exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos, anunciada, pelo presidente Donald Trump.
Para a Fiemg, é importante ressaltar que, por se tratar de uma taxação aplicada a todas as economias e não exclusivamente ao Brasil, o cenário colocaria os países em condições de concorrência mais equilibradas. Mas tudo depende das negociações bilaterais entre o país norte-americano com o Brasil.
O presidente da entidade, Flávio Roscoe, destaca que a expectativa é de que o Brasil tenha uma oportunidade em obter uma vantagem competitiva, uma vez que a indústria brasileira complementa a americana. “Assim como ocorreu no primeiro mandato do presidente Donald Trump, entendemos que pode haver algumas concessões em função da complementariedade das duas indústrias. Grande parte das nossas exportações são de produtos semielaborados, que passam por processos de industrialização em empresas norte-americanas, muitas delas coligadas a companhias brasileiras. Isso pode ser um fator favorável para que o Brasil não saia machucado dessa situação”, afirma.
AMCHAM BRASIL – A Amcham Brasil diz que espera que os governos do Brasil e dos Estados Unidos busquem uma solução negociada para preservar o comércio bilateral, que tem registrado recordes nos últimos anos, com ganhos para ambas as economias e expressivo superávit para o lado americano. De acordo com as estatísticas americanas (US ITC), os Estados Unidos registraram superávit de US$ 7,3 bilhões com o Brasil em 2024, um aumento de 31,9% em relação a 2023. Esse valor representa o sétimo maior saldo dos Estados Unidos com um parceiro individual naquele ano.