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China deve começar a espalhar suas empresas pelo planeta

 

 

 

Um relatório elaborado pela consultoria internacional de negócios KPMG, e já divulgado informalmente, afirma que dentro de três anos um terço das empresas privadas chinesas estabelecerá uma rede de vendas no exterior, cerca de um quarto implantará escritórios e algo em torno de 15% montará unidades fabris.

 

Para a consultoria, trata-se de uma tendência irreversível, por expressar de forma acabada tanto a crescente maturidade do mundo empresarial chinês, como a do próprio mercado do país. Algumas empresas privadas, de fato, já foram conduzidas para fora da China por causa dos custos crescentes dos negócios, do aumento dos custos salariais e do maior valor do yuan, a moeda chinesa.

 

O movimento também expressaria o papel cada vez maior das empresas privadas da China dentro e fora do país. Até recentemente, as empresas estatais estavam na vanguarda da segunda maior economia do mundo, dispondo da maior parte dos recursos e das matérias-primas. Mas isto está mudando rapidamente.

 

As empresas privadas estão, inclusive, assumindo até a liderança no que diz respeito a fusões e aquisições. Algumas delas resultaram em acordos realmente grandes e envolveram players internacionais. Um dos mais destacados foi a proposta de compra da Smithfield Foods, dos Estados Unidos, por US$ 4,7 bilhões, apresentada pela Shengghui International Holdings em maio do ano passado.

 

De acordo com o relatório, muitas empresas privadas chinesas também atingiram aquele “ponto crítico” no qual “sair do país” é a maneira mais eficaz de atualizar e transformar os negócios.

 

De fato, dos entrevistados no relatório, apenas 8,2% defenderam a internacionalização apenas por razões de custos. Buscar novos mercados (citados por 19,2%), construir redes internacionais de marketing (16,6%) e tornar-se uma empresa global competitiva internacionalmente (15,7%) foram fatores mais importantes.

 

GARGALOS Ou seja, muitas empresas chinesas já perceberam que o investimento externo não é somente uma maneira de alcançar expansão geográfica ou adquirir recursos naturais. Perceberam que, depois de as empresas atingirem certo estágio de desenvolvimento, o investimento externo é uma maneira de romper os gargalos do seu próprio desenvolvimento, e evitar que o modelo de negócios não funcione mais.

 

Há outro fator importante, que é a crescente sofisticação do mercado interno chinês. A vida começa a ficar difícil para as empresas que produzem apenas produtos de pequeno valor agregado, com design vulgar e baixa margem de lucro, porque o mercado doméstico deseja cada vez mais marcas e produtos de maior qualidade.

 

Isto é reflexo de a China ter excedido a renda per capita de US$ 8 mil, que é uma referência global quando os consumidores exigem melhores produtos e serviços. Em algumas regiões, esta linha de corte já foi superada em muito. Em Xangai e em outras partes do leste da China, por exemplo, a renda per capita já é de US$ 20 mil.

 

De modo a encurtar o caminho para este mercado de qualidade maior, várias empresas chinesas estão procurando fazer aquisições principalmente na Europa e nos Estados Unidos, adquirindo marcas e capacidade de pesquisa e desenvolvimento capazes de fortalecer sua posição em seus próprios mercados. E, de passagem, deixá-las prontas para assumir uma posição mais dominante no cenário mundial.

 

O relatório afirma ainda que a as empresas chinesas não estão saindo do zero, em sua aventura de internacionalização, no que diz respeito ao essencial desenvolvimento tecnológico. De fato, a China vem ganhando espaço crescente no concorrido mundo das publicações científicas, por exemplo.

 

Se, em 2018, segundo os dados do International Science Ranking, os EUA ainda estavam na frente da China no computo total de publicações científicas que são alvo de citações em outros trabalhos – 68 mil contra 59 mil -, essa liderança era sustentada basicamente pela produção de artes e humanidades. Em todas as áreas que envolvem ciência e tecnologia a China liderou com certa folga, como biotecnologia, tecnologia aeroespacial, inteligência artificial e energia. (Alberto Mawakdiye)

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