CNI e Keidanren defendem negociação de um acordo Mercosul-Japão
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lidera uma comitiva com cerca de 80 empresas brasileiras que acompanharão a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão. O grupo participa de agendas oficiais e do Fórum Econômico Brasil-Japão, marcado para a próxima quarta-feira (26), em Tóquio, com a presença de Lula e do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba.
O principal objetivo da missão é o fortalecimento das relações comerciais. A CNI e a Keidanren, maior entidade de representação da indústria japonesa, vão apresentar uma declaração conjunta pedindo aos chefes de Estado a negociação de um acordo Mercosul-Japão que reforce a complementariedade das economias e amplie o fluxo comercial.
“Temos uma relação de 130 anos com o Japão e, neste momento de incertezas, é fundamental abrirmos mais frentes para nos aproximarmos dos parceiros. O acordo traria muitas vantagens aos dois países”, afirma Ricardo Alban, presidente da CNI.
Na ocasião, a CNI será representada por seu vice-presidente Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A delegação é composta por CEOs e diretores de algumas das maiores empresas brasileiras, entre elas: Vale, Embraer, JBS, BRF, Raizen e Banco do Brasil.
Os painéis do Fórum Brasil-Japão, que antecederão as falas dos chefes de Estado, se concentrarão em descarbonização, energia e oportunidades de cooperação entre os países na agenda de desenvolvimento sustentável.
INVESTIMENTOS JAPONESES – Dados da CNI mostram que os investimentos japoneses no Brasil aumentaram 31,6% entre 2014 e 2023, com um estoque de US$ 35,2 bilhões em 2023, colocando o Japão em nono lugar entre os maiores investidores estrangeiros no país. O comércio bilateral cresceu 13,3% na última década, com quase US$ 53 bilhões exportados pelo Brasil, puxados pelo aumento da participação da indústria de transformação, sobretudo alimentos. Já o Japão vendeu principalmente veículos e eletrônicos ao Brasil.
No entanto, quando se examina o perfil de todo o investimento externo feito no Brasil, a participação dos japoneses encolheu de 5,2% do total investido no Brasil em 2014 para 3,4%, em 2023.
PAUTA DE EXPORTAÇÃO – A indústria de transformação é relevante no comércio bilateral entre Brasil e Japão. O setor representou, em média, 51,1% das exportações brasileiras para o país asiático entre 2015 e 2024, com aumento de vendas em produtos de carne, farelos de soja, alumínio e ferro-gusa. A expansão da participação da indústria, no entanto, não se deu em vendas de bens de alta e média-alta intensidade tecnológica, representando apenas 9,4%, com predominância de químicos e farmacêutica, do que foi exportado aos Japoneses em 2024.
Já as vendas do Japão ao Brasil são, praticamente, 100% concentradas em bens da indústria de transformação, sendo que mais de 80% têm alta complexidade tecnológica, como veículos, máquinas e equipamentos e produtos químicos e farmacêuticos.
TARIFAS – Na avaliação da CNI, apesar de histórica e contínua, a relação bilateral precisa ganhar dinamismo. A participação do Brasil nas importações japonesas manteve-se estável na última década, com aumento de 0,1% ponto percentual na comparação entre 2015 e 2024. Na última década, o Brasil foi somente o 17º fornecedor externo do Japão, sendo o primeiro da América Latina.
Há boas frentes para 286 produtos da indústria de transformação nacional, como mostra o Mapa de Oportunidades para as Exportações Brasileiras, elaborado pela Apex-Brasil. Segundo o mapeamento, os setores industriais com boas oportunidades de fazer negócios com o Japão são alimentos (41,6%), químicos (24,8%) e metalurgia (8,7%). No entanto, quase metade dos produtos (47,9%) é submetida a tarifas de importação para acessar o mercado japonês.