Comércio eletrônico não é mais uma simples alternativa ao varejo físico
O cenário pode, certamente, mudar ao longo de 2022, mas o recuo da pandemia da Covid-19 e a retomada gradual do comércio presencial a partir de meados de 2021, não tinha afetado praticamente nada o comércio eletrônico ainda vários meses depois. Pelo contrário, a tendência foi de crescimento.
De fato, segundo o relatório “Setores do e-commerce”, elaborado pela Conversion, agência de search engine optimization, os principais sites brasileiros de comercialização de produtos e serviços receberam um total de 1,69 bilhão de acessos em outubro, um aumento de 1,58% em relação ao mês anterior. De acordo com o estudo, cada brasileiro acessou em média cerca de 8 vezes os sites de e-commerce naquele mês – um número muito menor do que na realidade, já que cada acesso, é claro, admite a visualização de muitas páginas.
A pesquisa mostra que os canais preferidos para chegar às lojas foram o “canal direto”, quando o interessado digita o endereço da loja – representando 43,3% dos acessos -, a busca orgânica através do Google (28,1%) e a busca paga (19,3%). Curiosamente, o tráfego de redes sociais representou apenas 3,1%.
“Esse crescimento no mês de outubro indica que o e-commerce não representa só mais uma mera alternativa ao varejo físico, mas sim uma mudança mais profunda de comportamento do consumidor”, explica Diego Ivo, CEO da Conversion. “É uma modalidade que evidentemente veio para ficar.”
Os setores que mais cresceram foram o de pets (7,47%), moda e acessórios (4,06%), cosméticos (3,42%), ferramentas e acessórios (3,03%) e farmácia e saúde (2,04%). Mas o que de fato mais se desenvolveu foi um segmento paralelo ao do comércio, o turismo, que movimentou muitos pedidos pela internet no período. Como termo de comparação, o turismo online registrou uma alta de nada menos do que 9,36% em outubro, quando a maioria das pessoas se convenceram de que a pandemia – por conta do avanço da vacinação – começava a ir embora, e bastava algumas simples medidas de segurança para não ser infectado. Mas, obviamente, também houve setores que se retraíram, embora nenhum de modo significativo. Dentre as maiores quedas, estiveram educação, livros e papelaria (-2,89%), presentes e flores (-2,38%), casa e móveis (-2,25%), itens automotivos (-1,37%) e calçados (-0,82%).
O relatório da Conversion também apresentou o ranking dos principais e-commerces do país no mês de outubro, com os grandes sites de compras naturalmente dominando o cenário e ficando entre os cinco primeiros: Mercado Livre, Americanas.com, Magazine Luiza, Amazon Brasil e Casas Bahia. A métrica do share of search usada pela Conversion é o da parcela de busca de uma marca dentro da categoria de consumo em que ela atua. A fórmula para calcular o share of search é de dividir o volume de buscas de uma marca pelo volume total de buscas de todas as marcas daquele segmento. Detalhe importante sobre isso é que a parcela de buscas é preditiva em relação ao market share.
No estudo da Conversion, foi analisado o share of search de todos os principais setores do e-commerce brasileiro. Pelo relatório, percebe-se que muitos setores já são dominados por apenas um ou dois players. Exemplo disso é o mercado de pets, que concentra 79% entre as lojas Petz (44%) e Cobasi (35%), ou o de joias e relógios, que tem 66% do share em Vivara (34%) e Pandora (32%). Porém, o líder absoluto é a Loja do Mecânico, maior e-commerce de ferramentas e acessórios.
EFEITO PANDÊMICO – Foram os protocolos de segurança recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020, quando os primeiros casos de contaminação pelo coronavírus chegaram ao Brasil, que mudaram o comportamento dos consumidores e sua visão sobre o mercado, assim como forçaram milhares de empresas a iniciarem sua jornada no mundo digital.
Milhares de usuários fizeram, então, sua primeira compra online ou passaram a adquirir mais produtos via comércio eletrônico, pela praticidade e, principalmente, pela saúde: 20,2 milhões de consumidores realizaram pela primeira vez uma compra pela internet. A estimativa é de 301 milhões de compras via lojas virtuais em 2020, com um valor médio de R$ 419,00 cada.
Por seu turno, segundo estudo da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) em parceria com a Neotrust, 150 mil lojas passaram a vender também por plataformas digitais para atender a demanda crescente.
Segundo a ABComm, o comércio eletrônico cresceu 68% na comparação entre 2019 e 2020. Também aumentou a participação da modalidade no faturamento total do varejo, saltando de 5% no final de 2019 para acima de 10% antes do final do primeiro semestre do ano passado.
O processo de digitalização das empresas em geral, já em curso, foi aliás altamente acelerado pela pandemia. Nada menos do que 70% dos pequenos negócios incluíram a internet como ferramenta de potencialização de vendas e 23% deles lançaram um site próprio como canal de vendas, de acordo com pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre os efeitos da Covid-19 nas micro e pequenas empresas. (Alberto Mawakdiye)