Descomissionamento de plataformas e poços no Brasil é desafiadora, mas oferece oportunidades
O descomissionamento de instalações offshore tornou-se um estágio essencial e estratégico na indústria de óleo e gás. Mais do que simplesmente encerrar operações, essa fase oferece oportunidade para reavaliar a infraestrutura existente, integrar inovações tecnológicas e atender de forma rigorosa às exigências ambientais e de segurança, segundo especialistas do setor.
“Com diversas plataformas e poços no Brasil alcançando o fim de suas vidas produtivas, as empresas se deparam com desafios cada vez mais complexos para realizar esse desmantelamento de maneira eficiente, segura e sustentável”, observa Mauro Destri, CEO da Destri Energy e consultor para a área de óleo e gás da Timenow.
Segundo Wester Cardoso (foto), diretor de Operação da Timenow, em mercados emergentes, como o brasileiro, essa tarefa se torna ainda mais crítica devido às particularidades operacionais e regulamentares. “Entretanto, o descomissionamento também está alinhado à transição energética, abrindo portas para soluções mais limpas e sustentáveis, tornando-se uma peça-chave no cenário energético global”, afirma.
DESAFIOS – Os custos associados ao descomissionamento variam substancialmente de acordo com a localização e a complexidade da instalação. Para Destri, em mercados maduros, como o Mar do Norte, a infraestrutura consolidada e a vasta experiência acumulada ao longo dos anos ajudam a mitigar os custos.
“No Brasil, contudo, a realidade é distinta. A falta de previsibilidade orçamentária e o planejamento insuficiente para o longo prazo contribuem para o aumento das dificuldades. Cada projeto exige soluções sob medida, adaptadas a contextos específicos, o que agrava a complexidade operacional e a gestão de riscos”, ressalta Cardoso.
O arcabouço regulatório no Brasil, embora tenha avançado com normas como a RANP 817/2020, ainda carece de harmonização e clareza, explica Destri. “As lacunas existentes, juntamente com a interpretação e a aplicação das normas internacionais, geram incertezas jurídicas que podem atrasar as operações e elevar os custos. O alinhamento preciso com as melhores práticas internacionais e a conformidade com regulamentações técnicas locais são fatores determinantes para o sucesso do descomissionamento no país”, explica.
A infraestrutura portuária brasileira, essencial para a execução de desmantelamentos, apresenta limitações em termos de portos adequados, os chamados “portos verdes”; e embarcações especializadas na remoção e transporte de resíduos. “A ausência de uma logística bem estruturada impacta diretamente a viabilidade econômica e operacional dos projetos. Além disso, a localização remota de várias instalações offshore no Brasil aumenta os desafios logísticos, demandando soluções inovadoras para superar essas barreiras”, afirma Cardozo.
OPORTUNIDADES – Apesar das dificuldades, o descomissionamento offshore proporciona uma plataforma ideal para a adoção de tecnologias emergentes e para a implementação de práticas sustentáveis. “O uso de robótica submarina, sensores remotos e outros avanços tecnológicos está otimizando o desmantelamento, minimizando riscos e aumentando a eficiência”, diz Destri.
A economia circular desempenha um papel central nesse processo, ao focar na reciclagem e reaproveitamento de materiais, o que fortalece o compromisso do setor com a sustentabilidade, acrescenta o executivo, para quem ainda, mais do que isso, o descomissionamento libera áreas estratégicas que podem ser reaproveitadas para a instalação de parques de energia renovável, como os eólicos offshore, consolidando a ligação entre o desmantelamento e a transição energética.
“No Brasil, com muitas plataformas se aproximando do fim de suas operações, o alinhamento do descomissionamento com as políticas de transição energética pode colocar o país em uma posição de liderança no desenvolvimento de energias renováveis”, conclui Cardozo. (foto/divulgação)