E-commerce no país responde por apenas 2% do mercado de varejo
Cerca de 25,5 milhões de brasileiros compraram pelo menos uma vez pela internet durante o primeiro semestre de 2017. Parece um número impressionante, não? Mas não é – quando se constata que a participação do e-commerce no mercado de varejo do país sequer ultrapassou ainda a marca dos 2%, segundo levantamento do Sebrae. Mesmo com o setor já contando com mais de 370 mil sites, o que predomina ainda no comércio é a velha e tradicional loja física.
Na verdade, até a quantidade de sites de e-commerce empalidece se considerada dentro do total de plataformas existentes no Brasil: há 10,5 milhões de sites, aproximadamente. Isso significa que apenas algo em torno de 3,5% deles é dedicado ao comércio eletrônico. A maioria é de cunho institucional, informativo etc.
E, bem sintomático, as campeãs de vendas no comércio eletrônico são também, na maioria, líderes no comércio físico. Basta citar algumas que estão entre as dez mais: Lojas Americanas, Casas Bahia, Ponto Frio, Barateiro, Extra, Magazine Luiza.
Ou seja, o poder de atração e a alta credibilidade dessas grandes redes de lojas físicas é, em grande parte, responsável pela predominância delas também no comércio virtual. Além, é claro, do poderio financeiro, que lhes permite oferecer maior gama de produtos, melhor logística de entregas e condições de pagamento mais diversificadas.
O curioso é que, se as grandes lojas de varejo predominam no volume de vendas dentro do comércio eletrônico, elas estão como que cercadas por uma quantidade quase inacreditável de pequenas ou mesmo minúsculas lojas virtuais.
De fato, ainda de acordo com o Sebrae, 90% dos sites de comércio eletrônico do país representam pequenas lojas físicas ou são sites de vendas autônomos, que existem apenas na internet. Esse dado explica porque 76% das lojas virtuais brasileiras têm um preço médio de venda de R$ 100, e só 12% delas têm preço maior do que R$ 1.000. Obviamente, os consumidores preferem não se arriscar comprando artigos mais caros em lojas virtuais pequenas e quase sempre desconhecidas.
O resultado desta baixa média de preço é uma receita global bastante acanhada. Em 2015, o último ano antes da grande recessão em que mergulhou o país, o comércio eletrônico brasileiro registrou um faturamento global de R$ 41,3 bilhões, ou cerca de US$ 11,7 bilhões. Nem 5% da fatura do setor nos Estados Unidos, a terra da Amazon e da ebay, que foi de mais de US$ 305 bilhões naquele mesmo ano.
ESTRUTURA – Para Robinson Idalgo (foto), fundador da Softup, empresa paulista especializada no desenvolvimento de sistemas integrados de gestão para a indústria e o comércio, há duas principais razões para esta timidez do comércio eletrônico no Brasil. A primeira delas, seria certa falta de confiança dos próprios comerciantes na modalidade. “Hoje, contar com uma loja on-line deixou de ser um diferencial, tornou-se verdadeiramente essencial”, afirma. “Os consumidores estão cada dia mais conectados e quem não se adaptar a essa nova realidade, corre o risco de desaparecer em poucos anos”.
De acordo com ele, a pequena quantidade de consumidores virtuais aparece como bem maior quando o cenário é visto pelo outro lado do binóculo. Um estudo feito em 2017 pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) sobre os hábitos de compra dos brasileiros mostrou que 89% dos internautas realizaram ao menos uma compra on-line nos 12 meses anteriores, independentemente da classe social. “Ou seja, quase todo mundo que navega na internet já está comprando em lojas virtuais”, sublinha.
Para Idalgo, outros resultados da pesquisa também deveriam servir de estímulo a mais investimentos no e-commerce. Os principais benefícios mencionados para optar pelas compras via internet foram a percepção de que os produtos vendidos são mais baratos do que nas lojas físicas (58%), a comodidade de comprar sem sair de casa (45%), o fato de poder fazer as compras no horário que se quiser (31%), a economia de tempo (29%) e a facilidade proporcionada na comparação de preços.
Outra razão da baixa participação do e-commerce no varejo estaria na excessiva simplicidade técnica e gerencial da esmagadora maioria dos sites brasileiros. Para ele, hoje é fundamental que a loja virtual esteja integrada ao sistema de gestão (ERP) da empresa, de modo a controlar todos os processos da companhia em um único ambiente – tornando a administração do negócio mais simples e eficiente – e ainda viabilizar a elaboração de análises e mensuração de resultados.
“Dessa forma, apenas com a utilização de um ERP, que nem de longe é uma solução cara, a gestão se tornará mais estratégica e ágil, resultando no melhor aproveitamento do tempo, na supervisão mais certeira das finanças, alinhamento logístico e melhor atendimento ao cliente”, diz. “É preciso investir bastante também em mecanismos de busca. Tudo isso junto aumenta a possibilidade de sucesso da loja virtual e, por consequência, o faturamento e o crescimento do negócio”. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação)