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Frase de Elon Musk sugere que a disputa pela exploração do lítio apenas começou

 

 

 

“Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”. Essa frase – nada diplomática, para dizer o mínimo – postada pelo multimilionário estadunidense Elon Musk em sua conta no twitter, no último mês de julho, acabou por, involuntariamente, revelar ao mundo que a irrefreável corrida por fontes de energia já não se limita mais ao petróleo. Há um novo e valioso objeto de desejo na praça, o lítio.

 

Musk, que entre os mais variados empreendimentos na área de alta tecnologia é o dono da Tesla, a gigante dos carros elétricos, estava se referindo à Bolívia, dona de quase a metade dos depósitos de lítio globais e que vive um período de instabilidade política, depois do golpe de estado contra o presidente reeleito Evo Morales, em 2019.

 

A ameaça foi uma resposta de Musk a uma postagem enviada a ele sobre o seu interesse em impedir que o agora ex-presidente boliviano ou algum correligionário assumisse o poder. O partido de Morales defende uma política protecionista com relação à exploração do lítio, o que não agrada nem um pouco o homem da Tesla. Ele precisa desesperadamente deste material ao custo mais baixo possível, para alimentar as baterias de seus carros elétricos e torná-los competitivos.

 

O erro de Elon Musk, que de uns tempos para cá parece se empenhar em opinar sobre quase tudo o que existe sob o sol da maneira a menos politicamente correta possível – posiciona-se frequentemente contra o isolamento social no combate ao covid-19, por exemplo, e afirmou acreditar que foram os extraterrestres que construíram as Pirâmides do Egito –  foi de ter ameaçado sem meias palavras um pobre país da América do Sul com a volta da chamada “diplomacia da canhoneira”.

 

Embora sempre tenham adotado (e continuem a adotar, na verdade) esta política nos casos que julgavam necessários, as potências mundiais pelo menos usavam pretextos para avançarem sobre o petróleo ou os metais valiosos dos países recalcitrantes da Ásia, África e Américas.

 

A frase de Elon Musk deu a impressão de que, para ele, a Revolução 4.0 deveria ser acompanhada por uma nova diplomacia  – poderia ser chamada de Diplomacia 4.0? -, caracterizada não só por uma desagradável falta de modos, mas por uma violência autojustificada. O que não deixa de ser irônico, partindo de quem partiu. Musk defende os carros elétricos e a alta tecnologia em geral como frutos de uma nova fase da civilização, uma espécie de apaziguamento entre o homem e a natureza. Mas, pelo visto, só para alguns lugares do planeta.

 

PRODUTO ESCASSOMas o fato é que se o empresário errou no varejo, com seu exagero retórico, acertou no atacado. O cenário é mesmo de disputa, talvez acirrada, pelo controle global das reservas de lítio entre os grandes players da tecnologia, principalmente Estados Unidos, União Europeia e China.

 

No ano passado, um estudo da Bloomberg New Energy Finances previu que até 2030 o preço das baterias de lítio deverá cair de forma dramática com o uso crescente das energias renováveis, como a solar e a eólica, com grande impacto sobre os custos deste estratégico insumo.

 

De fato, há uma expectativa que até 2040 as energias renováveis representem 40% do consumo de energia global, diante dos atuais 7%. Para isso ocorrer, a demanda para o armazenamento de energia terá de aumentar exponencialmente.

 

A Bloomberg acredita que a demanda total de baterias para itens estáticos e transporte elétrico em 2040 vai ser de 4.584 Gwh, criando uma enorme oportunidade para fabricantes de baterias e mineradores de materiais de base como lítio, cobalto e níquel. O uso atual é de apenas 17GWh.

Naturalmente, quando os analistas da Bloomberg usam palavras como “fabricantes e mineradores”, fica implícito que não estão se referindo a bolivianos ou congoleses, mas sim a multinacionais como a Tesla e seu proprietário Elon Musk, que com seu jeito brusco deu a entender concordar inteiramente com esta previsão.

Resta saber como será desenvolvida esta política de apropriação de recursos. E se Musk está mesmo tão errado assim. O recente exemplo boliviano não é promissor para os países detentores de minérios, como o Brasil, que também tem muito lítio ainda inexplorado no seu território. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: reprodução)

 

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