Indústria 4.0, em que ponto da jornada de transformação você está?
Ronaldo Brito (*)
A Revolução 4.0 não é para nós! Permanecendo praticamente inerte em termos de inovação e competividade (respectivamente na posição 66º no Global Index Innovation e posição 71º no Global Competiveness Report), a cada dia temos a sensação de que, se as empresas brasileiras não apertarem o passo na jornada de transformação que se impõem, só vai sobrar para a nossa sociedade as dores desta nova revolução.
O desenvolvimento exponencial das tecnologias no mundo físico – das coisas, no mundo digital e no biológico -, estão impactando todas as indústrias. Ser capaz de inovar frente a um cenário econômico adverso é o grande desafio das empresas brasileiras deste tempo. Em uma situação onde o erro não é uma opção, como saber se estamos na direção certa, dentro desta jornada de conversão em 4.0?
Na década de 80, o “seis sigma” foi uma métrica fundamental para as empresas conseguirem materializar a distância entre o desempenho corrente e o objetivo em termos de qualidade. Hoje, quando falamos em Revolução 4.0, não temos uma métrica largamente aceita pelo mercado. Mesmo quando focamos especificamente em Indústrias, em que existem modelos para mensurar o nível de maturidade em termos de conversão em 4.0, como o da Acatech (Academia Alemã de Ciências e Engenharia), não existe um consenso sobre este instrumento ser o GPS para jornada de transformação 4.0.
Na régua da Acatech existem seis etapas de desenvolvimento consecutivas dentro de uma jornada de transformação digital. Cada estágio conquistado representa um avanço em termos da absorção do potencial do uso da Inteligência Artificial, até atingir o patamar no qual a empresa consegue operar um modelo de negócio que identifica as ações a serem adotadas, e realiza as mudanças de forma automática.
Na primeira análise, o modelo sugestiona a interpretação de que classificar uma empresa nesta régua é uma tarefa comum. Quando se tenta aplicá-la, o primeiro obstáculo refere-se aos três grandes eixos de integração: eixo vertical – assegura que o planejado no back office ocorra no front office; eixo de integração da cadeia de valor – ligando a matéria prima ao ponto de vendas e; eixo entre a pesquisa e engenharia de produto ao cliente. Estas múltiplas dimensões de integração possibilitam que uma empresa possa atingir o grau máximo de maturidade em um eixo, ao mesmo tempo em que está dando os primeiros passos em termos de transformação no outro.
Um segundo ponto a ser considerado é o ciclo de vida da dinâmica operacional em cada um destes eixos. Quando pensamos no ciclo horizontal, por exemplo, temos o modelo SCOR (Supply Chain Operations Reference), desenvolvido pelo Supply Chain Council, formado por cinco macroetapas: planejamento, abastecimento, produção, entrega e retorno, e permite que uma empresa se classifique como avançada no processo de transformação para 4.0, por ter alcançado um alto nível de maturidade em uma das macroetapas, ao mesmo tempo em que é iniciante em outra.
Neste contexto, no qual as ferramentas de suporte estão desintegradas, podemos ter uma leitura errada sobre os avanços conquistados, traduzindo conquistas pontuais em progressos significativos em termos de transformação para a Indústria 4.0.
A Revolução 4.0 desafia a todos. Acelerar uma transformação sem o apoio de instrumentos adequados traz à sensação de dirigir a noite em alta velocidade com os faróis apagados. Apesar de desconfortável é até paralisante, não há como refutar que a visão de futuro está dada. A Indústria deste século será uma organização que atua sob um novo um sistema operacional, no qual as decisões são tomadas com base em um amplo apoio da inteligência artificial e não apenas de forma pontual em alguma macroetapa da dinâmica operacional, em um dos eixos de integração.
É urgente que a discussão sobre a estratégia da organização para uma Revolução 4.0 seja colocada no topo da agenda dos executivos, pois estamos diante de uma nova revolução industrial que avança em alta velocidade em todos os setores, com oportunidades e armadilhas que não devem ser subestimadas.
(*) O autor é sócio-diretor na SPI Integração de Sistemas, responsável pelo Centro de Inovação da empresa.