Indústria de máquinas e equipamentos segue em recuperação, mas taxa de juros elevada preocupa
A indústria de máquinas e equipamentos apresentou crescimento de 12,4% de julho para agosto, quando faturou R$ 26.894,02 milhões. Na comparação com o mês de agosto de 2023, o valor é 7,5% menor. No acumulado dos oito primeiros meses de 2024, a receita líquida total de R$ 174.198,63 milhões é 13,4% inferior ao do mesmo período de 2023, de acordo com dados divulgados pela Abimaq, no dia 1º de outubro.
A receita setorial cresce pelo terceiro mês consecutivo. Em agosto o destaque positivo foi o mercado doméstico que apresentou forte expansão. A receita líquida interna de R$ 21.645,82 milhões é 30,9% superior ao do mês anterior, sem ajuste sazonal e 10,7% maior, com ajuste sazonal. Em relação ao mês de agosto do ano passado, houve estabilidade. No acumulado até agosto, a receita interna de R$ 130.465,33 milhões é 14,5% menor que no mesmo período de 2023.
Os crescimentos nas receitas nos últimos três meses indicam que o setor se recupera gradativamente, em linha com as expectativas da Abimaq que prevê encerrar 2024 com queda de 7% na receita total em comparação ao ano anterior. “Se a gente olha o dado do primeiro trimestre, a gente acumulava uma queda de 22%; quando a gente fechou o semestre, fechamos com uma queda de 17% e agora com uma queda de 14%, então está indo na direção que a gente esperava”, diz a diretora-executiva de Economia, Estatística e Competitividade da Abimaq, Cristina Zanella.
José Velloso, presidente-executivo da Abimaq, porém mostra-se preocupado com a retomada da alta da taxa de juros básicos (Selic). Em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa básica de juros da economia nacional de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano. O Boletim Focus projeta que a taxa Selic termine 2024 em 11,75% ao ano. “A taxa de juros está muito alta”, afirmou Velloso. “Essa recuperação, que começou há dois meses, a gente pode perder isso em função da retomada do crescimento da taxa de juros.”
“Se a gente olhar o filme, a gente vem recuperando, mas a fotografia está ruim ainda. Com essa reversão da curva de juros, a gente entra em um período de incerteza, se a gente vai continuar recuperando ou se a gente volta a estagnar”, afirma Velloso, acrescentando que o combate à inflação é uma necessidade, mas que o aumento da taxa de juros pode ser excessivo, sendo um entrave para aumentar os investimentos em produção. De acordo com o executivo, a taxa de investimento em relação ao PIB está em 16,8%, enquanto o Brasil necessitaria de 25% para apresentar expansão do PIB em cerca de 5%.
EXPORTAÇÕES – No mês de agosto, as vendas externas foram de US$ 945,63 milhões, com queda de 29% em comparação a julho e recuo de 35,4% em relação ao mesmo mês de 2023. No acumulado de janeiro a agosto, as exportações totalizaram US$ 8.322,80, queda de 10,4% em comparação ao mesmo período de 2023.
A queda das exportações em agosto em relação ao mês imediatamente anterior predominou por quase todas as atividades do setor fabricante de máquinas e equipamentos. A exceção se deu nas vendas direcionadas para a indústria de transformação de bens não duráveis e semiduráveis, que expandiu 21%. As maiores quedas do mês se deram nas vendas de componentes e máquinas para infraestrutura, setores que tinham registrado forte crescimento em julho.
No ano, dois grupos setoriais dentre os 7 monitorados registram desempenho positivo em 2024, o de máquinas para infraestrutura (+2,9%) e o de componentes (+0,4%).Entre os setores com queda no ano destacam-se os de máquinas agrícolas e máquinas para construção que recuaram respectivamente (-22% e -20%).
Dentre os destinos de exportação a maior queda se deu em Cingapura para onde foram direcionadas parte importante dos componentes e das máquinas para saneamento básico exportadas em julho.
Houve redução no volume de exportações para a maior parte dos mercados geográficos no acumulado de janeiro a agosto em comparação ao mesmo período de 2023: América do Norte (-8,7%); América do Sul (-23%); Europa (-27,6%). Somente para o que a Abimaq classifica como Demais Continentes houve crescimento de 22%.
Das máquinas e equipamentos exportados de janeiro a agosto, 36% foram para a América do Norte, 29% para a América do Sul e 10,5% para a Europa.
IMPORTAÇÕES – Em agosto, as importações somaram US$ 2.578,28 milhões, queda de 3,6% em relação a julho e estável em relação a agosto de 2023. No acumulado do ano, as importações totalizaram US$19.422,66 milhões, refletindo crescimento de 6,9% em comparação a janeiro a agosto de 2023.
Apesar da queda de julho para agosto, as importações continuam em patamar historicamente elevado, tirando espaço do produtor local no consumo aparente nacional.
Entre os segmentos consumidores de máquinas e equipamentos, o maior crescimento das importações realizadas no mês de agosto se deu no setor de infraestrutura (+13,9%) e no setor de bens de consumo (+7,2%). Houve encolhimento nas importações realizadas pelo setor produtor de petróleo, pelo setor agrícola e nos componentes. De janeiro a agosto, o maior volume de importações se deu nos setores fabricantes de bens de consumo e no setor de infraestrutura.
OUTROS INDICADORES – O mês de agosto registrou incremento no consumo aparente de máquinas e equipamentos em relação ao mês de julho de 2024 (+1,2% ) e em relação ao mesmo mês do ano passado (+4,4%). No ano, o consumo nacional de máquinas registrou resultado negativo (-6%), mas manteve a tendência de recuperação observada desde início do segundo trimestre de 2024.
No período de janeiro a agosto, apenas um setor registrou resultado negativo nos investimentos em máquinas e equipamentos, o agrícola, que registrou queda de 24,3%.
A indústria de máquinas e equipamentos encerrou o mês de agosto utilizando 76,0% da sua capacidade instalada, valor 0,2 pp abaixo do observado no mês anterior, mas 0,6 p.p acima do resultado do mesmo mês do ano anterior.
Na carteira de pedidos, medida em semanas para o seu atendimento, houve crescimento mensal (5,3%), mas queda interanual (-7,7%). Em média o setor está com uma carteira de pedidos 11% inferior à observada de janeiro a agosto de 2023.
Em agosto de 2024 houve alta no número de pessoas empregadas na indústria de máquinas e equipamentos (+1,2%). O setor encerrou o mês com 394.025 colaboradores. (Franco Tanio)