Metal Mecânica

Indústria fluminense de processamento de aço pede medidas antidumping

A indústria de processamento de aço no estado do Rio de Janeiro está com o alerta vermelho ligado neste início de 2025. As medidas antidumping anunciadas pelo governo federal no ano passado, com o intuito de frear a escalada do aço importado na indústria brasileira, não surtiram o efeito esperado, e o setor já fala em congelar os investimentos e estuda demissões que podem chegar até 30% de toda a cadeia produtiva do aço até o final de 2025.

 

Anunciada em junho do ano passado, pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex), o governo federal elevou para 25% o imposto de importação de vários tipos de aço e estabeleceu cotas de volume de importação para esses produtos. No entanto, o mercado externo, principalmente o chinês, onde a produção de aço conta com o subsídio do governo local, também acompanhou essas medidas, reduzindo em mais 13,3% o valor do produto em 2024. Resultado, a importação subiu 24% no ano passado, na comparação com 2023, chegando à marca de 6,2 milhões de toneladas, de acordo com o Instituto Aço Brasil.

 

Essa crescente atinge em cheio as indústrias chamadas processadoras de aço, que são conhecidas como indústria de transformação. Apesar de não fazerem parte da produção de aço nacional, o setor metalmecânico fluminense tem sido severamente impactado com a enxurrada de produtos manufaturados, como aços planos, produtos da linha branca e folhas de flandres, afetando toda a cadeia industrial.

 

De acordo com a Aproaço – Associação dos Processadores de Aço do Estado do Rio de Janeiro – somente o setor de processamento gera cerca de 20 mil empregos diretos no estado, com uma arrecadação de R$ 4,5 bilhões em impostos. No cenário atual, com a perda da competitividade frente ao mercado externo, a estimativa é que um terço dos empregos seja perdido no estado em empresas de médio e grande porte, além do fechamento de indústrias de pequeno porte, gerando uma grave crise no setor.

 

“A conta é bem simples. Não existe competitividade com o mercado externo quando o produto importado chega ao Brasil mais barato do que o próprio custo de sua produção local. A gama de produtos que estão sendo enviados ao Brasil só está aumentando. Diante disso, qual a necessidade da nossa mão de obra? E porque o empresário deve continuar investindo na expansão industrial, em equipamentos e tecnologia? São perguntas que nos levam a enxergar um cenário caótico, caso não consideremos medidas mais justas de proteção a indústria brasileira e de preservação dos empregos. Estamos falando de mais de 100 mil trabalhadores, diretos e indiretos, que vivem do setor do aço, somando o polo siderúrgico, a cadeia metalmecânica e a área de serviço. Podemos dizer que mais de 30 mil empregos de toda a cadeia do aço podem deixar de existir até o fim de 2025, sem uma mudança econômica realista”, explica Haroldo Filho, presidente da Aproaço.

 

PREJUÍZOS NAS SIDERÚRGICAS – Posicionado entre os dez maiores produtores de aço no mundo, o Brasil tem no estado do Rio de Janeiro o segundo maior produtor nacional, com 8,626 milhões de toneladas produzidas em 2024. No entanto, sem uma perspectiva concreta de quais medidas antidumping serão adotadas pelo governo brasileiro neste ano, frente a escalada do aço importado, o setor já acena para uma possível redução na produção e reavaliação de investimentos. Esse prognóstico, de acordo com Haroldo Filho, vai refletir diretamente no setor de processamento, causando uma segunda onda de prejuízos e demissões.

 

“Estamos falando de um grande efeito dominó. Se as siderúrgicas – que estão no topo da cadeia produtiva – acumulam prejuízos pela falta de regras comerciais mais justas quanto a importação do aço, a consequência será sentida por todos abaixo deste guarda-chuva. Teremos menor competitividade, redução na demanda e perda direta de mão de obra. Não há como frear esse reflexo negativo nos processadores de aço, sem que seja adotado um caminho diferente do cenário até o momento. O aço excedente, subfaturado do mercado externo vai colapsar a economia de municípios no estado do Rio”, explicou o presidente da Aproaço.

 

 

DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO INTERIOR – Nos últimos anos, a Aproaço desenvolveu um papel de liderança nas discussões sobre os desafios e futuro do setor no estado do Rio de Janeiro. Devido ao crescimento da associação, que hoje conta com 34 indústrias filiadas, um setor de estudo e planejamento foi criado para identificar os gargalos do segmento e criar mecanismos de fomento junto aos poderes executivo e legislativo.

 

E de acordo com os prognósticos apresentados pela associação, no sul fluminense, região que concentra grande parte das indústrias processadoras de aço no estado, devido sua proximidade com as usinas siderúrgicas, o cenário pode ser ainda mais devastador.

 

Isso porque muitas cidades cresceram nas últimas décadas, em especial nos últimos 10 anos, por conta do desenvolvimento do setor industrial. O município de Pinheiral, por exemplo, com cerca de 25 mil habitantes, possui 19 indústrias processadoras de aço, que somadas correspondem a 49% dos empregos de carteira assinada, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. Em Barra do Piraí, dos 16 mil postos de trabalho, 30% correspondem ao setor industrial. Já Volta Redonda, um a cada quatro empregos de carteira assinada são oriundos do setor do aço.

 

Segundo a análise realizada pela Aproaço, um processo de desindustrialização pode gerar mais do que o fechamento das empresas e perdas de emprego no estado. A consequência avaliada pela associação é de um cenário econômico catastrófico devido a perda da renda das famílias e queda acentuada na arrecadação dos municípios.

 

“A arrecadação de impostos em Pinheiral aumentou de R$ 87 milhões para R$ 186 milhões nos últimos sete anos, devido ao crescimento da indústria de processamento de aço. Uma recessão do setor impacta diretamente nos investimentos de uma administração pública, que terá menos recursos e mais gente desempregada. E este efeito cascata atinge o mercadinho do bairro, o salão de cabeleireiro, os prestadores de serviço, já que a circulação de dinheiro será extremamente menor. Isso sem avaliar os empregos indiretos no setor de transporte e logística. Por isso, ao falar de mecanismos de defesa comercial, estamos avaliando muito mais do que números e o faturamento das empresas. O que está em jogo é a manutenção de milhares de empregos que serão preservados através de regras mais justas, que funcionam como uma segurança jurídica para que o segmento possa continuar investindo e fazendo do aço um meio para o desenvolvimento econômico do estado, que tem no setor cerca de 10% do seu PIB”, finalizou.

 

Preocupação em uma ponta e insegurança na outra. José Augusto, metalúrgico de uma indústria do Sul Fluminense há 12 anos, relata a mudança em sua rotina financeira, acompanhando a perda de produtividade da empresa. Para ele, a diminuição da capacidade de produção é um alerta para o que poderá ocorrer pelos próximos meses.

 

“A gente percebe a mudança no dia a dia. Chegam menos pedidos, não precisamos fazer hora extra, e acompanhamos o que vem sendo divulgado nos jornais. Para a gente, que já tem um pouco mais de experiência, é hora de economizar um pouco mais em casa, já que não se sabe o dia de amanhã. Torcemos para que dê tudo certo e não tenha que recomeçar tudo de novo”, descreveu. (foto/divulgação)

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