Inteligência Artificial ainda engatinha na América Latina
Com base na implementação de Inteligência Artificial (IA ) nas empresas, pode-se afirmar que a América Latina ainda está em estágios iniciais, embora haja uma perspectiva de crescimento significativo em 2018. A previsão é atingir um volume de negócios de cerca de 1,64 bilhão de dólares, na média, por empresa, aproximadamente 50% superior ao do ano passado, segundo o estudo “O Impacto da Inteligência Artificial (AI) no empreendedorismo na América Latina”, lançado pela everis, empresa multinacional de consultoria em soluções estratégicas e comerciais, membro do Grupo NTT Data e uma das dez maiores empresas de serviços de TI do mundo, e a Endeavor, organização global de fomento ao empreendedorismo de alto impacto .
Um dos principais resultados obtidos mostra que o empreendedorismo baseado na utilização de IA na América Latina ainda está em estágio inicial. O Índice de Nível de Impulso e Crescimento de IA (Inicia), calculado a partir de variáveis como o ano da fundação das empresas, investimentos recebidos, técnicas de IA utilizadas etc., é de 32%. Para se ter uma ideia, a maioria das empresas são jovens (63% delas foram fundadas há menos de seis anos) e pequenas (50% possuem entre 1 a 10 colaboradores diretos). Apesar de seu tamanho, o crescimento porcentual esperado na geração de renda é significativo.
Os setores nos quais se concentra a maioria das empresas com alto nível de especialização são os de prestação de serviços e software, saúde e mídia, embora exista uma variedade de empresas dedicadas à educação, mineração, marketing, cadeia logística e varejo. Para desenvolver suas atividades nesses mercados, 60% das empresas representadas no estudo receberam financiamento externo de uma ou mais fontes (33% de capital semente, 29% de capital privado, 21% em rodadas de financiamento de série A ou B, e 17% de investidores anjos).
A IA é, sem dúvida, de suma importância para o conjunto das empresas estudadas: 65% afirmam que este tipo de técnica constitui parte de seu core de negócios e a propriedade intelectual gerada é um diferencial competitivo. A esse respeito, os desenvolvimentos tecnológicos realizados em 87% dos casos se baseiam em frameworks de terceiros, sendo os mais populares o Google Tensorflow, Microsoft Cognitive Toolkit e Amazon MXNet. Mas também existem algumas empresas que baseiam a utilização de IA no consumo de produtos como o Microsoft AI Cognitive Services, Google Cloud AI ou IBM Watson, também de terceiros.
Para Alberto Otero, diretor de Arquitetura Digital & Inteligência Artificial da everis para Américas, “as empresas que contribuem para promover o desenvolvimento dos principais setores são o motor econômico do País e estão cada vez mais conscientes da importância do uso de novas tecnologias e dos benefícios que elas oferecem à produtividade. Prova disso é o setor financeiro, cada vez mais receptivo aos avanços tecnológicos. Por outro lado, existem outros setores que ainda possuem um campo muito amplo para se desenvolver por meio da Inteligência Artificial.”
“Criamos as conexões que se transformam em geração de negócios, em oportunidades de inovação aberta e, acima de tudo, em proximidade entre Scale-Ups e grandes empresas”, afirma Luis Felipe Franco, head de aceleração da Endeavor. “Por isso, os próximos passos voltados para Inteligência Artificial são indispensáveis para que o ecossistema empreendedor ganhe produtividade. Os novos conceitos precisam chegar desde a pequena empresa a grande corporação para que todos se capacitem e representem, nacional e internacionalmente, mudanças significativas em todos os setores.”
Atualmente, um importante grupo de empreendedores (30%) está focado no desenvolvimento de chatbots, devido à demanda e à aceitação que esse tipo de aplicativo vem alcançando no mercado. Juntamente com ele, foi observada uma extensa utilização de técnicas como o processamento de linguagem natural (53% dos casos) e conversão de textos em fala (21%), além de outros tipos como a classificação e previsão (59%) ou o reconhecimento de padrões (39%).
Desafios – Os principais desafios apontados no estudo são:
– Escassez de talentos especializados em IA – O mercado de trabalho carece de profissionais com o tipo de conhecimento técnico necessário para o desenvolvimento dessas soluções.
– Falta de informação para treinamentos em IA – Visto que boa parte das técnicas mais utilizadas atualmente em IA exigem informações que permitam a efetivação do aprendizado, os empreendedores sentem falta de um volume maior de dados com os quais seja possível efetivar este aprendizado.
– Falta de familiaridade com a IA – Outro problema enfrentado pelos empreendedores de IA é o fato de seus clientes, tanto empresas quanto pessoas físicas, não conhecerem esse tipo de solução, o que gera certa desconfiança em relação aos produtos e serviços fornecidos.
– Dificuldade em obter recursos financeiro – A maioria dos entrevistados afirmou ser extremamente complicado obter recursos para financiar seus projetos na América Latina, em comparação com os EUA.
Apesar dos desafios mencionados e das dificuldades inerentes a qualquer empreendedorismo, a aplicação de IA na América Latina está em pleno crescimento, com dezenas de empresas expandindo suas operações.
“A aplicação da Inteligência Artificial nas empresas oferece um grande potencial para transformar diferentes setores, agilizar processos e otimizar recursos. E, para que essas companhias possam crescer, é preciso que todo o ecossistema, desde as universidades, empresas à sociedade civil e administrações públicas continuem promovendo não só o talento e a inovação, como também, os mecanismos financeiros e legais para facilitar o investimento neste tipo de empresa. Todos têm a ganhar com a IA”, afirma Lluis Quiles, diretor de Inteligência Artificial na everis Brasil.
A partir desses desafios apresentados pelos empreendedores, chegou-se à conclusão que quatro aspectos principais precisam ser trabalhados:
– Talento – Universidades e empresas deveriam focar na geração das capacidades necessárias para a criação de soluções de IA, promovendo a diversidade do ponto de vista de conhecimentos. Faltam engenheiros, como também especialistas em experiência de usuário, linguistas etc.
– Dados – O setor privado e especialmente as administrações públicas deveriam disponibilizar mais dados referentes a áreas como a de saúde e de educação, a fim de possibilitar a aprendizagem e, consequentemente, a geração de novas soluções baseadas em IA.
– Divulgação – A sociedade civil, o setor empresarial e as administrações públicas na América Latina deveriam disseminar e oferecer suporte a IA, eliminando barreiras de adoção e introduzindo temas complexos, como o impacto nas atividades laborais ou a privacidade dos dados.
– Financiamento – A América Latina deve continuar desenvolvendo seu ecossistema de investimento econômico em empreendedorismo de IA. Além de mecanismos financeiros e legais para facilitar os investimentos no empreendedorismo, deve-se almejar também a criação de um foco adequado em IA, por meio de fundos especializados, iniciativas público-privadas, prêmios específicos etc.
Mesmo com todo o trabalho que ainda resta fazer, o empreendedorismo baseado na utilização de IA na América Latina tem um perceptível potencial para o futuro, pois, em geral, as empresas dos seis países pesquisados observaram aumentos em suas vendas, com destaque para as argentinas e brasileiras, que estão acima da média da América Latina no número de vendas em três anos. Na Argentina, em 2017, elas geraram uma receita de 3,33 milhões de dólares e esperam alcançar 3,67 milhões de dólares em 2018. No Brasil, por sua vez, o valor ficou em 1,75 milhão de dólares em 2017 e a projeção para 2018 é de 2,28 milhões de dólares.
A pesquisa reúne informações sobre a situação atual, os principais desafios e o futuro das mais de 240 empresas que participaram deste estudo. Por meio de investigação e entrevistas, foram coletados dados de qualidade de 70 projetos de empreendedorismo na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.
Fonte: Ipesi