Investimentos em data centers no Brasil impulsionam demanda por sistemas de energia e de refrigeração

O mercado brasileiro de data centers está em ebulição e a expectativa é que nos próximos anos sejam realizados investimentos de bilhões de dólares em novas instalações e expansões. Até janeiro de 2025, empresas como Ascenty, Grupo FS, Equinix, Odata, Tecto, Elea e Supernova/Mapa haviam anunciado inversões.
Esses investimentos são decorrentes da rápida ascensão da Inteligência Artificial (IA) e às restrições regulatórias em mercados mais desenvolvidos como o dos EUA e o da Europa. Contam também a estabilidade política do país e a disponibilidade de energia de fonte renovável, embora possa haver alguma reserva por conta da limitação da infraestrutura de transmissão e distribuição de energia. Outro fator que alavanca o mercado de data centers é a segurança nacional, devido à instabilidade geopolítica. Não por acaso, a China investe na instalação de data centers no mercado doméstico e também exterior, especialmente em países do Sudeste Asiático, como Tailândia e Vietnã. O país também passou a permitir a participação acionária superior a 50% de empresas estrangeiras nos data centers localizados no país.
No Brasil, a Serpro, estatal de tecnologia, anunciou no ano passado a “nuvem de governo”, uma solução, que, segundo ela, transforma o Brasil “na única nação com nuvem 100% soberana no hemisfério Sul”, com os dados mantidos integralmente em território nacional, nas instalações de São Paulo e Brasília, segundo divulgado na época.
FORNECEDORES – Na esteira desses investimentos fornecedores equipamentos e serviços para a infraestrutura de energia, como as UPS (fonte de alimentação ininterrupta) e sistemas de resfriamento, experimentam forte expansão nos negócios. Entre as empresas presentes no mercado brasileiro de data centers está a Vertiv, multinacional de origem norte-americana, que atua principalmente no segmento de missão crítica em que o data center necessita estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, para garantir a continuidade dos negócios. Nessa categoria se encaixam, por exemplo, os data centers utilizados por empresas do mercado financeiro, sistemas de saúde, órgãos de governo, plataformas de e-commerce e redes de telecomunicações.
Bem posicionada tanto mercado brasileiro como no global, a Vertiv detém cerca de 70% do mercado nacional de equipamentos para projetos de grande porte, segundo Robson Pacheco, gerente de Vendas para Data Centers da Vertiv Brasil. Tal desempenho, de acordo com o executivo, se deve à expertise e à infraestrutura da empresa no segmento de missão crítica, que começa já nas fases iniciais do projeto, com a atuação de profissionais qualificados junto à equipe de engenharia do cliente, até os serviços agregados de pós-vendas, com recursos humanos, que são auxiliados por diversas ferramentas tecnológicas e estoque local de peças de reposição para garantir a manutenção preditiva ou a corretiva de forma ágil. A empresa mantém também em Barueri (SP) um centro de treinamento bem estruturado para atender profissionais da companhia, da rede de revenda e também dos clientes.
É fato, porém, que a concorrência tende a se tornar cada vez mais acirrada, à medida que o Brasil se destaca no mercado. Pacheco calcula que há atualmente 4 ou 5 concorrentes de peso no mercado brasileiro, embora nem todos tenham o foco no segmento de missão crítica.
O principal mercado da Vertiv em âmbito global (a empresa atua em 130 países e tem 22 fábricas, espalhadas por EUA, China e Europa) e também no Brasil é o de “colocation”, termo que se refere à modalidade de serviço em que as empresas podem alugar toda a infraestrutura necessária de data center para suas operações e instalação de seus servidores. Cerca de 70% do faturamento da companhia de US$ 5,8 bilhões em 2024 foram obtidos nesse segmento, segundo Gustavo Perez (foto), diretor de Vendas Latam da Vertiv, que vem buscando ampliar a participação em outros segmentos de mercado. Do faturamento, 70% são obtidos por meio da comercialização de equipamentos e 30% pelos serviços.
TECNOLOGIA – Entre os principais diferenciais para atrair investimentos de empresas de data centers estão a disponibilidade de energia e, claro, a conectividade. Os data centers representam aproximadamente 1% de energia global consumida, segundo divulgou a IEA, a Agência Internacional de Energia, em 2024. Na média, os data centers consomem relativamente pouca energia, de 5 a 10 MW. Ocorre que se tornam cada vez mais comuns os chamados “hyperscale data centers”, que são estrutura enormes, que demandam 100 MW ou mais, com consumo anual equivalente a de 350.000 a 400. 000 carros elétricos. Hoje já se fala de projetos de 200 a 300 MW. Além disso, as instalações de data centers costumam ser geograficamente concentradas, podendo causar problemas à infraestrutura local e aumento no preço dos imóveis.
No estado de São Paulo, há uma concentração de data centers no eixo São Paulo-Campinas, por conta da boa infraestrutura de transporte, disponibilidade de redes de energia de alta tensão e, claro, mercado. Mas sabe-se que o preço dos imóveis destinados à instalação de data centers vem aumentando. Além de São Paulo, outras localidades em que há concentração de data centers são Rio de Janeiro e Brasília. Como potenciais locais para concentração de data centers destacam Fortaleza (CE) e Recife (PE), além de Porto Alegre (RS).
ENERGIA – Os data centers são intensivos no uso de energia porque necessitam para manter os equipamentos que processam e armazenam os dados em funcionamento e também para resfriá-los, uma operação que pode demandar tanta ou mais energia como armazenar e processar os dados.
Empresas que fornecem sistemas de resfriamento vêm buscando soluções para que os data centers consumam menos energia. Uma tecnologia que vem ganhando espaço é a resfriamento “liquid cooling”, em que, no caso da Vertiv, um composto de glicol (25%) e água (75%), é utilizado para resfriar os equipamentos, de acordo com Gustavo Perez.
O executivo explica que esse líquido circula num ambiente selado, de forma a garantir que não haja vazamentos, que podem ser fatais para os componentes eletrônicos. De acordo com literatura disponível no site da Vertiv, essa tecnologia pode ser até 3000 vezes mais eficiente que aquela baseada em ar-condicionado.
Atualmente, há três formas mais conhecidas para o uso da tecnologia liquid cooling, de acordo com material disponível no site da Vertiv:
– Trocadores de calor de porta traseira – Trocadores de calor passivos ou ativos substituem a porta traseira do rack de equipamentos de TI por um trocador de calor líquido. Esses sistemas podem ser usados em conjunto com sistemas de resfriamento a ar para resfriar ambientes com densidades de rack mistas.
– Resfriamento líquido direto para o chip – Placas frias diretas para o chip ficam sobre os componentes geradores de calor da placa para extrair calor por meio de placas frias monofásicas ou unidades de evaporação bifásicas. Essas tecnologias de resfriamento podem remover cerca de 70-75% do calor gerado pelo equipamento no rack, deixando 25-30% que devem ser removidos por sistemas de resfriamento a ar.
– Resfriamento por imersão – Sistemas de resfriamento por imersão monofásicos e bifásicos submergem servidores e outros componentes no rack em um líquido ou fluido dielétrico termicamente condutor, eliminando a necessidade de resfriamento a ar. Essa abordagem maximiza as propriedades de transferência térmica do líquido e é a forma de resfriamento líquido mais eficiente em termos de energia do mercado.
Em que pese a comprovada eficiência da tecnologia “liquid cooling” – e analistas de mercado apontem que está em plena ascensão – ela ainda está longe de ser dominante no mercado. A adoção generalizada deverá demorar algum tempo, especialmente em data centers menores, devido aos altos custos envolvidos, expertise ainda limitada e manutenção exigente.
Uma solução que parece ser bem aceita atualmente é a de resfriamento híbrido em que se utiliza a solução liquid cooling aliada aos sistemas de ar condicionado.
Em março desse ano, a Vertic anunciou a solução CoolLoop Trim Cooler, em suporte a aplicações de resfriamento a ar e líquido para IA (inteligência artificial) e HPC (computação de alto desempenho).
A solução integra-se ambientes de alta densidade e resfriamento líquido, oferece eficiência operacional e se alinha com as necessidades em evolução da indústria por soluções de resfriamento compactas e com eficiência energética. Ela fornece até 70% de redução no consumo anual de energia de resfriamento, aproveitando o resfriamento livre e a operação mecânica, e 40% de economia de espaço em comparação com os sistemas tradicionais. Projetado para enfrentar os desafios das fábricas modernas de IA, o sistema suporta temperaturas de água de abastecimento flutuantes de até 40°C e funcionalidade de placa fria a 45°C. (texto: Franco Tanio/foto: Divulgação)