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Líderes deveriam se preocupar com o 5G

Carlos Baptista (*)

 

Há alguns anos, a tecnologia 5G tem sido amplamente discutida no Brasil, pois trará um grande impacto no modo de se comunicar, na transmissão de dados e, principalmente, no acesso à internet. No entanto, um debate político/comercial existente nos bastidores vem atrapalhando muito a sua evolução dentro do país. Como se trata de algo que vai proporcionar profundas transformações nos mais diversos segmentos por não ser específico de apenas uma área, o início de sua implantação gera muito medo, sobretudo, nas corporações. Afinal, esse temor ocorre porque uma empresa fica à espera da outra como uma forma de saber se a sua chegada não é um “fogo de palha”.

Prova disso é uma pesquisa realizada pela consultoria Accenture, feita com 2,6 mil executivos de dez países diferentes. O estudo aponta que a grande maioria (62% dos entrevistados) ainda tem muitas incertezas em relação aos impactos que o mercado sofrerá com o 5G. Esse contingente expressa temores, como a possibilidade de torná-los mais vulneráveis a ataques cibernéticos, por exemplo. Ainda de acordo com o levantamento, as lideranças das organizações acreditam que a maior parte do risco começará no nível do usuário, seja por meio de dispositivos ou de pessoas.

Entre incertezas, temores e desconfiança, alguns pontos são evidentes em relação ao que está para chegar no Brasil. O 5G possibilita um aumento substancial na velocidade de comunicação. Em compensação, reduz e muito o tempo de resposta ou latência, o que diminui o conhecido delay na transmissão. Por outro lado, tem menor complexidade na implementação porque aquelas grandes torres de transmissão muito notadas pela população serão substituídas por outras bem menores e mais fáceis de serem instaladas. Ou seja, possibilitará maior democratização do acesso à internet, já que ocorrerá uma melhoria nos aspectos relacionados com a mobilidade.

Por essas e outras razões, a chegada do 5G ao Brasil é praticamente inevitável como também muito benéfica para a sociedade como um todo. Dessa forma, as organizações terão que se preparar para isso ou para estar à frente das demais empresas como forma de tirar o máximo de proveito possível dessa revolução. Assim, os líderes e empreendedores devem ficar atentos, sobretudo, a três impactos que podem ocorrer:

 

MODO DE CONSUMO  – Com esse aumento de velocidade e o acesso mais facilitado, o consumo por intermédio das plataformas móveis vai crescer significativamente. As organizações precisam entender o novo contexto com a chegada do 5G e fortalecer esse canal investindo na experiência do cliente de forma completamente diferente. E os investimentos não podem ser feitos na base do susto, como aconteceu com a chegada da pandemia da Covid-19, quando as empresas de fato perceberam a importância do e-commerce nos seus negócios.

Com o 5G, será possível ter um acesso melhor de qualquer lugar, potencializando o número de clientes e a experiência a ser entregue a esse público, seja de um produto ou um serviço. As empresas poderão fazer suas ações com maior precisão porque haverá mais dados sobre os consumidores trafegando. Consequentemente, mais informações sobre o comportamento e perfil de cada um deles estarão disponíveis. Mas é preciso transformar todos esses dados em insights para favorecer o negócio e usá-los para melhorar a experiência da organização. Vale lembrar que a transformação digital é centrada nas pessoas.

 

TECNOLOGIA  – O 5G por si só é uma nova tecnologia que vai abrir um leque de opções dentro desse novo universo. Vai possibilitar, por exemplo, que a robotização e o IoT – conhecido também como internet das coisas – sejam usados de forma escalável. O mercado vai ter acesso a experiências que vão desde aparelhos mais inteligentes até robôs à distância que fazem uma cirurgia de um modo mais preciso do que já é possível hoje.

Além da medicina, isso vai acontecer em diversos setores, como o Agronegócio e nas indústrias, com a potencialização de tecnologias de precisão, além de proporcionar novos modelos de negócio. Com isso, teremos uma redução nos custos operacionais por intermédio da robotização e redução das falhas.

Outra área impactada por esta tecnologia é, por exemplo, o crescimento do mercado dos veículos autônomos e estradas conectadas. Existem estudos que apontam um impacto substancial no Produto Interno Bruto (PIB) com uma possível redução dos acidentes devido a esses dois fatores no tocante ao tráfego. Esse fato impactará outros negócios como as seguradoras cujos modelos de risco e produtos ofertados precisam ser repensados.

 

FORÇA DE TRABALHO  – Com mais opções de tecnologias, é preciso que os colaboradores sejam desenvolvidos para lidarem com essas novas possibilidades. Mais do que nunca, os conceitos upskilling e reskilling deverão ser aplicados para que o profissional esteja preparado para as novas necessidades. Ele deve, por exemplo, estar preparado tecnicamente de forma mais rápida e trabalhar com as plataformas de IoT, desenvolver habilidades para tratamento de dados, além de outros recursos a serem potencializados pelo 5G.

Essa disrupção poderá reduzir a necessidade de funcionários atuantes em algumas áreas mais tradicionais. É um movimento natural, por isso é o momento certo para se preparar para essas mudanças significativas no mercado de trabalho. Por outro lado, esse colaborador deve aliar a técnica aos desenvolvimento de soft skills com novas habilidades como protagonismo, autogestão e flexibilidade.

Durante os últimos 30 e 40 anos, essa evolução tecnológica foi exponencial. A sociedade já passou do tempo dos megabytes para pentabytes. Hoje, se fala em computação quântica, em velocidade de transmissão que pode chegar a níveis nunca imaginados. Trata-se de uma jornada irreversível. Quem não se requalificar para essa nova realidade, certamente vai ficar para trás.

As organizações e os profissionais precisam se preparar e utilizar toda a criatividade necessária para repensarem seus modelos, tanto de negócios quanto de liderança. Por isso, todas as corporações devem incluir o 5G nas suas estratégias de futuro, pois essa onda gerará um leque gigante de possibilidades. E quanto mais os colaboradores de dentro das empresas refletirem sobre esse futuro, mais fácil será surfar nesse tsunami de tecnologia.

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(*) O autor é professor e coordenador no Núcleo de Seleção de Alunos do MBA da Fiap.

 

Carlos Baptista, professor e coordenador no Núcleo de Seleção de Alunos do MBA da FIAP. Especialista em transformação digital, atua como diretor da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano e é co-criador do Modelo Ágil Comportamental (MAC).

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