Eletrônica e Informática

Norma de gestão da inovação ISO 56002 começa a ser adotada por empresas brasileiras

A ISO 56002, norma de gestão da inovação criada há dois, já foi adotada por cerca de 200 empresas em todo o mundo – seis só no Brasil. A maior delas é a AirBus, uma com mais de 150 mil funcionários, segundo a Palas, consultoria de inovação e gestão. Fundada em 1947, com o intuito de ajudar na reconstrução das empresas devastadas pela Segunda Guerra Mundial, a ISO – Organização Internacional de Padronização, é uma instituição sem fins lucrativos sediada em Genebra, na Suíça. Ancorada nos princípios da isonomia (que em grego significa igualdade), a organização possui mais de 22 mil normas técnicas, sendo mais de 180 normas de sistema de gestão que visam o estabelecimento de padrões mundiais para a gestão de negócios. Com 164 países-membro, a ISO consolidou-se como uma das mais importantes referências internacionais no que tange a normatização e modelos de gestão.

A FORMATAÇÃO – De posse de toda essa credibilidade e know-how, em 2013, a ISO criou um grupo de estudos internacional, o ISO TC-279, a fim de mapear as melhores práticas de inovação de todos os países-membro. Ao longo desses anos, muitos países colaboraram ativamente, como foi o caso da França, Canadá, Portugal, Rússia, Espanha, Inglaterra e o próprio Brasil, que contribuiu com a norma ABNT 16.501/2011. Por aqui, o processo de compartilhamento de conhecimentos aconteceu por meio do grupo ABNT/CEE-130, que contou com a presença de Alexandre Pierro, sócio-fundador da Palas.

Até o momento, já são nove normas que englobam o sistema de gestão da inovação. A ISO 56000 é a norma que determina vocabulários e fundamentos. A ISO 56002 é a norma que passa as diretrizes para implementar o sistema de gestão e é a única que é certificável via atestado de conformidade.

Além dela, existem ainda a ISO 56003, que auxilia as empresas através das ferramentas e métodos de inovação; a ISO 56004, encarregada do assessment; a ISO 56005, de ferramentas e métodos para gestão da propriedade intelectual; a 56006, de ferramentas e métodos para a gestão da inteligência estratégica; 56007, de gestão de ideias; 56008, de ferramentas e métodos para medição da performance do sistema de gestão; e a 56009, que é um guia prático para inovação.

Esses modelos de governança têm sido amplamente procurados por empresas de diversos portes e segmentos na busca por uma melhor gestão da inovação. “Temos mais de 100 empresas no Brasil buscando entender a aplicabilidade e os benefícios do sistema de gestão da inovação da ISO. Isso demonstra que o Brasil está antenado às melhores práticas de gestão da inovação no mundo”, explica Pierro.

PRINCÍPIOS – Baseada em oito pilares – direção estratégica, abordagem por processos, realização de valor, liderança com foco no futuro, cultura colaborativa, adaptabilidade e resiliência, gestão de incertezas e gestão de insights – a ISO 56002 defende que uma inovação pode ser um produto, serviço, processo, modelo, método ou a combinação de qualquer uma delas. Contudo, o conceito de inovação é caracterizado por novidade e valor. Em suma, isso significa que ideias sem a manifestação de valor não são inovações e sim invenções.

A terminologia da norma principal com o número dois é um indício de que ela é uma norma de diretrizes e não de requisitos. Ou seja, ela aponta caminhos, mas entende que não há uma receita única para todas as empresas. “Inovação é um campo de estudos muito amplo, vasto e complexo. A ISO entendeu que o que funciona em uma empresa, pode não funcionar em outra. Por isso, além de entender profundamente todas essas normas, os profissionais envolvidos no processo de implementação devem ter um profundo conhecimento sobre metodologias e ferramentas de inovação para conquistar resultados realmente efetivos”, defende Pierro.

O processo de certificação, via atestado de conformidade, é simples. A ISO 56002 pode ser implementada em empresas de todos os portes e segmentos. É possível fazer a implementação em um único departamento ou na empresa como um todo. Há ainda casos de implementação em várias unidades ao mesmo tempo, inclusive em países diferentes, no caso de multinacionais. O primeiro passo é a realização de um assessment, que avalia qual é o nível de aderência de uma empresa em relação aos pilares da norma. Depois disso, inicia-se o processo de implementação, que leva de quatro a seis meses, dependendo do nível de complexidade e da maturidade da empresa em relação ao tema. Quando o sistema de gestão fica pronto, uma certificadora faz a auditoria de certificação, que, se aprovada, emite o atestado de conformidade da ISO 56002.

NO BRASIL – No total, seis empresas brasileiras já adotaram a ISO 56002. A primeira foi a MZF4, indústria de transformação do ramo de nylon localizada na capital paulista. Na mesma época, a CSI Locações, empresa de locação de equipamentos de Fortaleza, no Ceará, também conquistou o atestado de conformidade nessa norma.

A terceira empresa foi a Palas, que decidiu experimentar esse modelo de gestão em seus próprios processos. “Mesmo sendo especialistas em inovação e tendo participado da formatação da norma, notamos muitos ganhos ao realizar a nossa própria implementação, como por exemplo, a definição de metas e a melhor gestão dos riscos do negócio”, destaca Pierro.

Em maio de 2020, foi a vez da Atento, uma das maiores empregadoras do Brasil, multinacional do ramo de contact center. “Hoje, podemos dizer que inovação faz parte de nossa cultura e está entre as principais prioridades de investimento da empresa, com objetivo de aprimorar nossa oferta e trazer os melhores resultados para os nossos clientes”, destaca Maurício Castro, diretor da empresa. Três meses depois, quem adotou o modelo de governança da ISO 56002 foi a Stefanini, uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil. Em setembro de 2021, foi a vez da Messer Gases. Ainda esse ano, mais cinco empresas brasileiras estarão inovando a partir desse framework internacional, sendo uma delas pública.

BENEFÍCIOS – Os benefícios da ISO 56002 são enormes, mas variam de uma empresa para outra. Além de acesso a incentivos fiscais pela Lei do Bem, as empresas que adotam o modelo percebem os benefícios de um processo bem definido para a gestão da inovação, com mapeamento de riscos, avaliação de oportunidades e estabelecimento de recursos para a inovação, como infraestrutura, conhecimento e mesmo budget.

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