Oferta de energias renováveis pode impulsionar a descarbonização do aço no Brasil
A grande oferta de eletricidade renovável e reservas de minério de ferro de alta qualidade, posicionam o Brasil como um líder potencial na produção global de ferro e aço verdes, segundo o novo relatório do Global Energy Monitor (GEM).
Embora, três quartos da siderurgia do país dependa atualmente do carvão e muitos dos métodos tradicionais de descarbonização do setor enfrentem restrições, as vastas energias renováveis do país podem fomentar a produção de hidrogênio verde em larga escala. Com isso, o país poderia viabilizar a rota de ferro reduzido direto (DRI) de baixas emissões, bastante mais limpa do que a rota de alto-forno, que emprega carvão.
O relatório diz que o uso do hidrogênio verde é um caminho para que o Brasil desenvolva uma indústria de exportação de ferro verde de valor agregado, enquanto reduz o as emissões de seu setor siderúrgico doméstico. “A produção de hidrogênio verde demanda grandes quantidades de energia renovável, um setor onde o Brasil já estabeleceu liderança global.”
E as perspectivas futuras para a energia eólica e solar são promissoras. Os dados da GEM mostram que o país tem 180 gigawatts (GW) de parques eólicos em grande escala em status anunciado, pré-construção ou construção, colocando o país no terceiro lugar global atrás da China e da Austrália. Os 139 GW de potenciais parques solares em grande escala no Brasil ocupam o segundo lugar a nível mundial, atrás apenas da China.
LOBBY FÓSSIL – Algumas ações recentes do Brasil podem impulsionar a produção de DRI com menores emissões. O Programa Nacional de Hidrogênio de 2021 foi um primeiro passo para estimular pesquisa e desenvolvimento, enquanto o Marcos Legal de 2024 estabelece os critérios para a produção de hidrogênio de baixo carbono. Nos dois casos, porém, há brechas para o uso de energias poluentes para a produção do hidrogênio, o que anularia seu potencial competitivo verde.
Investimentos recentes nos maiores e mais intensivos fornos a carvão do Brasil provavelmente atrasarão sua desativação, enquanto o fornecimento limitado e volátil de sucata apresenta um impedimento para o desenvolvimento de fornos a arco elétrico (EAF) de baixas emissões.
Embora várias usinas siderúrgicas brasileiras menores tenham adotado o biocarvão como substituto do carvão em altos-fornos, resultando potencialmente em redução das emissões de gases de efeito estufa, a quantidade de carvão que pode ser substituída é limitada e a substituição parcial do carvão ainda é, em última análise, igual à dependência do carvão.
“A forte dependência do Brasil de carvão e gás no setor industrial, juntamente com a influência de lobistas de combustíveis fósseis, ameaça a saúde pública e compromete a capacidade do país de atingir as metas climáticas globais”, aponta Gregor Clark, um dos autores do relatório, gerente de projetos do Portal Energético para América Latina do Global Energy Monitor (GEM).
O Fórum Econômico Mundial estima que as emissões da indústria siderúrgica brasileira poderiam aumentar quase um terço até 2050 sem movimentos proativos para impulsionar a demanda e a oferta de ferro e aço verdes. Segundo o relatório da GEM, o país poderia aproveitar seus pontos fortes para embarcar em uma reforma de baixas emissões.
POTENCIAL DO NORDESTE – O Nordeste é uma região especialmente fértil para o hidrogênio verde, dado o excepcional potencial eólico e solar. O Ministério de Minas e Energia estima que o Brasil pode produzir 1,8 gigatoneladas de hidrogênio de baixo carbono anualmente a um custo menor do que qualquer outra nação. potencial eólico e solar.
Em abril de 2024, o governo brasileiro concedeu contratos para quase 4.500 quilômetros de novas linhas de transmissão e subestações para reforçar a distribuição de eletricidade entre o Nordeste e o Sudeste industrial.
O fato de o Brasil ter minério de ferro de alta qualidade também é um diferencial importante para a produção de DRI baseado em hidrogênio verde de baixas emissões. O país é o principal produtor depois da Austrália, e o minério de ferro brasileiro tem teores de ferro variando de 60% a 67%, dos maiores do mundo.
O relatório sugere que o Brasil precisa implementar políticas ousadas e buscar cooperação internacional. Para Clark, a realização da COP 30 em 2025 pode ser uma oportunidade para o país demonstrar seu potencial na descarbonização e liderar globalmente o setor de ferro e aço verde. “Qual melhor maneira de mostrar esse potencial do que como anfitrião da COP 30 em 2025?”, enfatiza.