Popularização da IoT muda a forma como as empresas de logística gerenciam as suas operações
A Internet das Coisas (IoT) está sendo responsável por uma verdadeira revolução em praticamente todas as áreas da economia e da sociedade, não deixando de fora sequer o setor de transporte e logística, que à primeira vista poderia parecer impermeável a este tipo de inovação tecnológica. Mas não é assim, e os números comprovam: segundo a empresa multinacional de consultoria Business Insider, até 2020 o gerenciamento de frotas conectadas pela IoT abarcará 90% dos veículos comerciais na América do Norte.
No Brasil, esses números não chegam a tanto. Embora aqui o mercado global da IoT tenha movimentado cerca de R$ 4,3 milhões em 2016 e um pouco mais do que isso no ano passado, as transportadoras ainda não estão investindo em grande escala na modalidade, mesmo com esses investimentos já não sendo de modo algum insignificantes.
“Implantar todas as soluções disponibilizadas pela IoT não é tarefa simples, e o custo é um dos principais fatores impeditivos”, afirma Sérgio Souza (foto), managing director, da Kore TM Data, companhia multinacional com presença em vários países, onde cuida do gerenciamento de mais de 6 milhões de linhas M2M. “É muito custoso construir, conectar, medir, analisar, manter e aperfeiçoar os sistemas da IoT, ainda mais quando se trata de um rastreamento de frotas. Isso, tanto em termos de equipamentos como de mão de obra.”
Mas, segundo ele, as alternativas existem. A indústria da IoT estaria sendo, também, cada vez mais capaz de entregar soluções em pacotes únicos, seja em termos de equipamentos, conectividade, escala ou manutenção. “Basta saber procurar”, diz Souza. “De outro lado, se a IoT exige um bom investimento inicial, os ganhos com administração, planejamento e serviços de manutenção podem pagar este investimento com surpreende rapidez.”
A seguir, trechos da entrevista.
METAL MECÂNICA – A Internet das Coisas, a chamada IoT, parece estar se espalhando como cogumelo depois da chuva. Já chegou ao setor de transporte e logística também?
SÉRGIO SOUZA – Sim – e na verdade já faz algum tempo. Mesmo no Brasil. Aqui, aliás, foram a indústria de rastreamento veicular, juntamente com o segmento financeiro – mais precisamente, a área de meios de pagamento, incluindo as famosas maquininhas do cartão de crédito e débito – as primeiras a adotarem tecnologias da IoT. Esse dado é muito pouco conhecido. Pensa-se em IoT quando se fala de indústria, das engenharias, da medicina etc. Raramente se pensa nos bancos e nos transportes.
Só para dar um exemplo. No caso da indústria de rastreamento, as ferramentas de geolocalização vêm sendo há tempos usadas em uma série de serviços, como táxis, ônibus, ambulâncias, caminhões, entre outros. Essas tecnologias deram um verdadeiro salto nos últimos anos com a IoT.
Hoje, existem sistemas de rastreamento de veículos que funcionam através de sensores capazes de monitorar velocidade, quilômetros por litro, número de paradas e como está o desgaste mecânico. Todas essas informações são agrupadas e isso torna possível detectar problemas técnicos nos veículos, por exemplo, permitindo que os reparos possam ser agendados sem que seja preciso interromper o processo logístico.
METAL MECÂNICA – É uma aplicação bastante prática da IoT.
SOUZA – E até relativamente simples. Porém, as empresas inovadoras, com visão de futuro na área de gerenciamento de frotas, estão querendo mais. Vivem se questionando sobre como a IoT pode torná-las cada vez mais eficientes, principalmente com o crescimento e a adoção em massa das novas redes 4G.
Por isso, aplicações mais complexas com base na IoT na área de transporte e logística estão germinando em toda parte. Algumas estão até já se tornando comuns. Mas há pelo menos seis inovações que os gestores do setor não podem deixar passar despercebidas, pois elas farão enorme diferença nos próximos anos.
METAL MECÂNICA – Que inovações seriam essas?
SOUZA – Podemos separá-las por áreas. Uma delas é a manutenção da frota.
Nessa área, os encarregados são obrigados a fazer constantemente algumas perguntas. O veículo está aquecido? Os freios estão funcionando corretamente, os pneus estão gastos? Bem, sensores embarcados já estão permitindo que essas perguntas sejam respondidas com grande rapidez e segurança, facilitando muito o trabalho de monitoramento e mantendo os veículos rodando por mais tempo e de maneira mais segura. E quando a manutenção for necessária, ela será programada.
O tráfego é outra área totalmente aberta para a IoT. A leitura antecipada das condições de tráfego permite a alteração de rotas para diminuir o tempo de entrega, ou para se evitar caminhos problemáticos – como ruas esburacadas ou em obras – e caminhos perigosos. Para o Brasil, uma ferramenta como essa é altamente desejável, já que as vias não são lá essas coisas e a criminalidade grassa. Um bom planejamento de rotas, aliado a uma operação eficiente, pode, assim, não só diminuir o tempo de entrega, mas reduzir em muito os riscos de deslocamento inerentes ao país.
METAL MECÂNICA – De fato, o roubo de cargas virou uma epidemia por aqui.
SOUZA – A IoT pode ser empregada também para o controle das próprias cargas. As transportadoras, obviamente, sabem o que transportam, mas nem sempre dispõem de informações precisas para oferecer um serviço melhor. Por exemplo, para cargas refrigeradas, a temperatura necessita estar adequada. Mas qual seria ela, e está sendo obedecida? No caso de cargas frágeis, estão sendo seguidos os cuidados específicos de segurança? E as cargas vivas – elas estão bem? Hoje, essas informações só são acessíveis com um corpo a corpo desgastante. Com a IoT, esse problema acaba.
O comportamento do motorista é outra área suscetível ao controle da IoT. Qualquer processo que envolva pessoas pressupõe riscos. Mas tecnologias de rastreamento mais aprimoradas podem identificar comportamentos e traçar melhores perfis dos motoristas, sugerindo até novos tipos de treinamento ou de estruturação de equipes. Desse modo, os custos irão diminuir e a segurança aumentar. A eficiência energética é outro campo que a IoT também pode aprimorar de maneira exponencial.
METAL MECÂNICA – De que modo?
SOUZA – Bem, com as ferramentas da IoT é possível medir com muito maior precisão a velocidade, a aceleração, o consumo de gasolina, o tempo do motor ligado com o veículo parado, entre outros itens. Um planejamento adequado nessa área pode reduzir custos de combustível, óleo e a vida útil de partes e peças do veículo.
Na verdade, a IoT nos transportes permite a medição de praticamente tudo, mas é preciso observar de que nada adianta medir tudo que se tem na frente se os dados captados não forem estruturados e analisados sob a ótica da eficiência da empresa, da lucratividade, da segurança dos funcionários, veículos, das cargas, do próprio tráfego. Será uma medição vazia, por assim dizer – será dinheiro jogado fora.
METAL MECÂNICA – Por falar nisso, uma transportadora terá de investir bastante se quiser dispor de todos os benefícios possibilitados pela IoT, não?
SOUZA – Pois é. Infelizmente, embora a IoT esteja sendo adotada de maneira até bastante rápida pelo setor de transporte e logística – contando todas os tipos de veículos, comerciais e particulares, a frota rastreada no Brasil é hoje de 5 milhões, com 50 mil a 100 novas unidades incluídas a cada mês – o fato é que esta possibilidade ainda não está acessível a todos as empresas brasileiras de transporte.
Implantar as soluções já disponíveis não é tarefa simples, e o custo é um dos principais fatores impeditivos. É muito custoso construir, conectar, medir, analisar, manter e aperfeiçoar os sistemas da IoT, ainda mais quando se trata de um rastreamento de frotas. Tanto em termos de equipamentos como de mão de obra.
Mas as alternativas existem. A indústria da IoT está sendo, também, cada vez mais capaz de entregar uma enormidade de soluções em pacotes únicos, seja em termos de equipamentos, conectividade, escala. Basta saber procurar. As empresas também precisam ter em mente que a IoT já deixou de ser um luxo para ser uma necessidade. De outro lado, se ela exige um bom investimento inicial, os ganhos com administração, planejamento, operação e serviços de manutenção podem pagar este investimento com surpreende rapidez. (texto: Alberto Mawakdiye/foto: divulgação)